segunda-feira, 7 de julho de 2008

A importância da solidariedade na medicina


Doutores usam táticas operárias para
reivindicar aumentos salariais.
O cartaz expressa uma metonímia. Não são os médicos, tampouco o governo, e sequer Deus os responsáveis pela saúde de ninguém. Nenhuma remuneração garante o ideal.  Os profissionais prometem o impossível. A qualidade da saúde, tal como o caráter, é bem exclusivamente pessoal, independententemente da vontade de quem quer que seja. As greves tencionam, apenas, demonstrar a importância, o valor social de seus serviços, mais notáveis em sua falta. 
Os médicos precisam ficar em dia com a própria saúde. Pesquisa do Conselho Federal de Medicina (CFM), realizada com 7.700 profissionais, revela que quase metade deles apresenta quadro preocupante de transtornos psicológicos. Quarenta e quatro por cento sofrem de depressão ou ansiedade. E a grande maioria, 57%, tem estafa e desânimo com o emprego.*  (Estadão, 21/6/2008) 
ABORDO o óbvio com a salvaguarda da singeleza do Ovo de Colombo. A maior parte da gente que atende em hospitais e mesmo em farmácias tem na bondade seu norte. Entregam-se de corpo e alma ao sempre carente que jaz inerte à sua frente. Por certo não são apenas motivos econômicos, imprescindiveis, evidentemente, que arrastam o valoroso batalhão à manifesta solidariedade. São de fato abnegados. Sabem que qualquer doente necessita, em primeiro lugar, de compreensão; vencida a etapa, ou com ela, qualquer abalado valoriza o carinho.
A Secretaria de Estado da Saúde do Rio abrirá sindicância para apurar o motivo de médicos terem faltado ao plantão em dois hospitais públicos da zona oeste da capital no último fim de semana, após a implementação do ponto biométrico (por impressão digital). No hospital Rocha Faria, o ponto foi destruído, o que foi classificado pelo secretário Sérgio Côrtes como um ato de 'vandalismo'. Sobre os médicos que o governo diz terem faltado, o governador Sérgio Cabral afirmou que isso é uma 'covardia com a população'. Além do Rocha Faria, foi verificada também falta de médicos sem aparente justificativa no hospital Pedro 2º. Folha de São Paulo, 12/8/2008.
Por coincidência, mas não por acaso, tal casa patrocina a carnificina:
Um diagnóstico errado de aborto espontâneo põe em risco a vida de mãe e bebê no Rio de Janeiro. Um médico disse que a mulher tinha perdido o bebê, e mandou a paciente fazer curetagem num hospital público. A paciente descobriu agora que está no quarto mês de gravidez. E teme pela saúde do filho. No armário onde deveria guardar o enxoval, gavetas vazias. As roupinhas foram doadas assim que Alessandra recebeu o diagnóstico de aborto espontâneo. O laudo do Hospital Estadual Rocha Faria confirma a perda do bebê e o procedimento cirúrgico de raspagem do útero, a curetagem. A dona de casa denuncia que o médico dispensou a ultrassonografia quando viu o forte sangramento. http://www.advsaude.com.br/noticias.php?local=1&nid=1623
Briga de médicos em hospital acaba em delegacia
Médica é presa em hospital público após negar socorro e agredir paciente.
Ameaça de homem armado motiva o  fechamento de Unidade Básica de Saúde
Pois os maiores atributos daquele pessoal técnico que cuida de doentes não reside tanto no conhecimento científico, ou técnico, nem mesmo na carência financeira, tão comum, que o faria caprichar para não perder o emprego, senão que na mais pura abnegação. O calor humano ameniza a febre. A frieza agrava o estado do paciente. Pelo detalhe é que a tarefa antigamente era entregue aos sacerdotes, aos alquimistas, curandeiros, ao pajé. Pela pauta resplandeceram a Madre Teresa, Chico Xavier, e centenas,  somados aos milhares de anônimos voluntários que se espalham pelo globo. As freiras mantém a tradição, e felizmente infestam os hospitais, envolvendo os acamados com suas mãos e corações de luzes.
Claro que até a entrada naqueles estabelecimentos, todos são estranhos entre si, pacientes e atendentes; contudo, basta chegar a maca, e já se torna o viajante alvo de toda a atenção, como se por ali a equipe estivesse sentindo sua falta, de certo modo saudades.


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Os alertas
Para comprovar que não se aprende muito nas salas de aula de Medicina, o Cremesp propôs uma prova aos alunos do último ano das faculdades de São Paulo. Dos sextanistas que resolveram o exame no ano passado, 38% foram reprovados. Esses médicos provavelmente estão hoje em hospitais e consultórios Estadão, 26/2/2007
Antes da profissão, o amparo medicinal requer a vocação. Mister o amor ao ser humano, independentemente de seu status. Este é contingência efêmera, mas o ser não. Ele é eterno, e disso sabe quem ama.
É claro que a necessidade de se dar aos médicos e outros profissionais de saúde respostas aos problemas éticos está mais efetiva hoje do que há vinte anos. Sueli Gandolfi Dallari, Perspectivas Internacionais no Ensino da Ética em Saúde: Entrevistas www.portalmedico.org.br/revista
Hoje mesmo ouvi o Cremers *** alertar, pelas rádios: é vedado aos doutores se valerem de empresas captadoras de clientes. O intuito é louvável, mas impossível: as seguradoras são as maiores emissárias. Óticas mantém contas-correntes para polpudas comissões; laboratórios de pesquisas e indústrias farmacêuticas lhes oferecem fantásticas viagens em troca de receitas. E não são poucos os psiquiatras que se encontram na folha de pagamento de hospitais. É uma barbaridade tudo isso; mas é a realidade.
Desde a infância somos endereçados a vencer na profissão. Segundo a convenção, a vitória vem expressa pelos números. Se o gol é com a mão, o azar é do goleiro. O árbitro não está nem aí. O desenfreado e cruel mercantilismo não conhece fronteiras, e também turva essa outrora nobre função:
O presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM), Arlan Ferreira, mostrou-se preocupado com a qualidade de profissionais que a cada ano são ‘despejados’ no mercado da medicina em Mato Grosso. O receio fundamenta-se na recente tentativa de fraude do processo seletivo da Universidade de Cuiabá (Unic). Para Arlan, esse tipo de prática pode formar médicos de má índole e despreparados.“Esse tipo de prática (fraude) pode colocar pessoas de má índole na profissão, além de estudantes desqualificados. Eles já vêm despreparados desde o ensino médio e ai fica difícil recuperar o tempo perdido na universidade” ,http://mtja.com.br/?p=1036, 3/12/2010
"A formação de médicos virou business, virou negócio", assegura Ricardo Brentani, diretor-presidente do Hospital do Câncer de São Paulo. Profissionais da saúde violam ética e anunciam em sites 
O incrível é alguém se dedicar à uma vocação, mas se estender à outra.
Como em qualquer negócio o lucro é o leitmotiv, e como vivemos numa sociedade capitalista extremada, estes novos executivos nem se sentem, assim, tão antiéticos, nem desconformes.

Médicos do Hospital Miguel Couto, no Leblon, adotam uma prática irregular para amenizar a sobrecarga de trabalho e a falta de profissionais. Segundo denúncia recebida pelo vereador Carlos Eduardo (PSB), em todos os setores do hospital, prescrições médicas para pacientes internados são feitas no início da semana com validade para a semana. O Globo, 12/9/2009
Médicos de SP fazem consulta relâmpago para trabalhar menos
Metade das pessoas que procuram o Hospital do Câncer simplesmente não tem câncer. Ou seja, um médico as encaminhou para cá acreditando que elas tinham câncer. E também recebemos pessoas que ouviram de seus médicos que elas não tinham câncer, mas na realidade tinham. Ricardo Brentani, diretor-presidente do Hospital do Câncer de São Paulo.
E o que dizer do pobre paciente que cai nas garras psiquiátricas, e quando pior ainda, é enviado aos hospitais concernentes, essas verdadeiras arapucas das quais dificilmente alguém sai vivo, que dirá ileso/? O preço tem sido caro demais, a todos envolvidos:
Fui a oito médicos. Todos diziam que era erro de postura e receitavam anti-inflamatório, analgésico ou fisioterapia. Tinha um alívio temporário, mas a dor acabava voltando. Eu falava da dor [nas costas] e imaginava que, se fosse preciso saber mais, o médico iria perguntar. Mas eles mal me tocavam. Cheguei a ficar com uma 'bola' na clavícula, e o ortopedista, sem nem apalpar, disse que era uma inflamação. Receitou um anti-inflamatório e aplicação de gelo. Dormi com bolsa de gelo, até sair o resultado da ressonância. O exame acusava dois tumores na coluna. O oncologista perguntou como deixamos chegar a esse ponto. Folha de São Paulo, 12/4/2009
O número de processos por erro médico que chegaram ao Superior Tribunal de Justiça triplicou nos últimos seis anos. Em 2002, o STJ recebeu 120 recursos em ações por erro médico. Neste ano, até o final do mês de outubro, já eram 360 novos recursos autuados por esse motivo, a maioria questionando a responsabilidade civil do médico. As informações são da Assessoria de Imprensa do STJ.
Aos iniciantes de carreira, ou carentes de clientela, há os cabides oficiais. Nestes casos os profissionais se rebaixam ao nível operário. Não titubeiam se utilizar das mesmas táticas, das artimanhas dialéticas, sorelianas, até fascistas, a conquistar sua ambição. Doentes que se lixem.
Os pacientes já chegam irritados e agressivos nas consultas médicas. O medo de serem explorados ou mal tratados por profissionais que aparentemente não estão ali para atender ninguém, apenas para cumprir tabelas, transformou os serviços médicos, muito especialmente o público, em um verdadeiro suplício, no qual o paciente não acredita no médico e o médico tem medo e despreza o paciente. FAGUNDES, Beatriz, O SUL, 10/11/2008
O que interessa é a remuneração:
Médicos de PE encerram greve após 2 meses. Os médicos da rede estadual de Pernambuco decidiram encerrar o movimento demissionário por melhores salários, iniciado há dois meses, e voltaram ontem ao trabalho. Folha de São Paulo, 18/9/2008
O vice-prefeito de Itapetinga (a 576 km de Salvador) ofereceu o próprio salário até o final do mandato para tentar contratar um médico para o serviço público de saúde do município. O prazo dado pelo político, de 15 dias, se encerrou nesta quarta-feira, sem sucesso. Segundo ele, a prefeitura realizou um concurso no ano passado, chamou os 14 aprovados, mas apenas três apareceram para trabalhar. 'Até agora eu não consegui ninguém para a vaga. Eles [os médicos] não querem cumprir a carga horário de 40 horas porque, segundo eles, o salário não compensa. Isso porque é um salário de R$ 6.200' , afirmou Lima. Idem, 22/4/2009
Humanização da medicina
Os pacientes e suas famílias querem médicos talentosos e competentes para fazer os diagnósticos e conduzir os tratamentos. Mas todos querem também que o médico tenha habilidades interpessoais e a inteligência emocional necessária para que ele interaja adequadamente com todos e saiba passar adequadamente todas as informações mesmo nas situações mais estressantes.
Tradicionalmente, os currículos focam a patofisiologia das doenças e negligenciam justamente o impacto real da doença sobre a experiência social e psicológica do paciente, ou seja, a sua experiência de estar doente. É nesta interseção que o humanismo desempenha um papel de profunda importância. Este estudo foi efetivado em cinco faculdades diferentes nos Estados Unidos (Emory University School of Medicine, Indiana University School of Medicine, University of Rochester School of Medicine, Baylor College of Medicine e University of Minnesota Medical School).

Humanismo em medicina não é sentar-se no consultório e começar a cantar músicas agradáveis para os pacientes, trata-se de levar em conta as preocupações e os valores individuais dos pacientes durante o seu tratamento. Esses valores estão claramente ligados a uma melhor qualidade no tratamento e à diminuição da doença. Dr. Richard Frankeal
"Há vinte anos" cada família elegia seu médico.Ele era apto para enfrentar qualquer gama de malefícios que adviesse ao núcleo.
Não raro, o restaurador era guindado a conselheiro sentimental, ou mesmo solucionador de outros conflitos estranhos à sua formação. Ele assumia essas responsabilidades como parte de seu metier; afinal, para todas as doenças acorrem vetores incidentais, até distúrbios psicossomáticos.

La medicina avanzó, pero se perdió el trato personalizado

"Conhecer o que é comum, voltar à prática da medicina 'antiga', cujo parâmetro era a normalidade do funcionamento do corpo, parece o essencial," assevera-nos Pat Brown, da Universidade de Stanford, (Revista da Semana, 28/4/2008:22)
O ser humano de fato é um acontecimento integral; deve ser tratado de acordo.
Há "vinte anos" o médico era, antes de tudo, o amigo da família. Era o suficiente. Todos ficavam satisfeitos. Tudo, contudo, evolui; até rabo-de-cavalo:
O ser humano foi reduzido a um autômato biológico dentro das organizações de comando e controle. A organização é o fim, as pessoas, o meio.
Antonio Sales Rios Neto (
Complexidade e transformação organizacional: construindo novas percepções na administração judiciária sob a luz da Nova Ciência. Revista de Doutrina da 4ª Região. P.Alegre, n. 23, abr.2008)
Uma clínica nordestina decretou a morte de dezenas, sabe-se lá de que modo, mas de uns cariocas ora se conhece o absurdo:
Ex-chefe da equipe de transplantes hepáticos do hospital da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e ex-coordenador do Rio Transplantes, do governo estadual, Joaquim Ribeiro Filho foi preso em casa, em Laranjeiras. Além da prisão do médico, nove mandados de busca e apreensão foram cumpridos na zona sul e no centro da cidade. Outros cinco médicos foram denunciados (acusados formalmente) pelo Ministério Público Federal por suposta participação no esquema, que permitia que pacientes furassem a fila do sistema nacional de transplantes mediante pagamento ao grupo de até R$ 250 mil.Folha de São Paulo, 30/7/2008
Imagine quantas "operações" foram efetuadas naquele rincão; mas será que não estão copiando de algum outro?

A importância da solidariedade**
Se acaso formos pesquisar o valor de uma relação verdadeiramente amistosa no percurso da história, das ciências, ou da filosofia, não seria no ateniense Platão, amante dos espartanos, portanto dos inimigos, e ex-secretário do Tirano de Siracusa, muito menos no seu clone Maquiavel, que iríamos encontrar os exemplos mais apropriados. Foi Aristóteles quem primou por valorizar o liame.
Na amizade predominam dois maiores atributos do ser humano, e até de muitos animais: a ética e a amabilidade. Elas precedem tanto o forjado ideal de justiça, quanto a glória da riqueza material. A reciprocidade enriquece e justifica os partícipes. Tais quais espelhos, ambos se reconhecem. É na amizade, pois, que está uma das maiores fontes da felicidade, este manancial tão ardentemente desejado por todos que por aqui passam. Pelo conhecimento do outro se alcança o próprio conhecimento. O amigo é o outro em si mesmo. A amizade consiste em "uma alma em dois corpos". Mas qual seria a origem da amizade? Que fenômenos podem desencadeá-la? Aristóteles ensina, na Ética a Nicômaco: trata-se de um encontro fortuito, cujo ápice provém da mútua benevolência!
Nela não cabem equações matemáticas; tampouco especializações.
A cabeceira cartesiana da medicina embala o dilema no qual vivem os médicos. Ao transformá-los em profissionais, a academia lhes aponta a prioridade; e o ser tratado, torna-se apenas objeto. Quando mira o espelho, o médico acaba também se vendo objeto. A instabilidade emocional apontada não pode proceder dessa flagrante deformação?
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*Enquanto isso, o mundo pena:
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) informa: mais de um bilhão de crianças sofrem grandes privações devido, sobretudo, à pobreza, às guerras e à aids. Ele ainda assegura: dois terços dos dez milhões de mortes infantis que ocorrem anualmente poderiam ser evitados. (A importância da solidariedade é reconhecida com entrega de Nobel a Yunus. htm/noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2006/12/07/ult1766u19094.jhtm)
**É trivial salientar a importância da solidariedade em qualquer setor da sociedade, mas convém destacar, por oportuno: ela tomou ênfase a partir desta concessão do Prêmio Nobel da Paz 2006 a esta personalidade que há três décadas incentiva a implementação dos microcréditos em países em desenvolvimento: Muhammad Yunus.
*** O mentor da campanha foi o vice-presidente dessa seccional gaúcha, Dr. Marco Antônio Becker. No início de dezembro corrente, o oftalmologista foi estupidamente assassinado com cinco tiros, disparados à queima-roupa, por pistoleiros de aluguel, quando saia de um jantar no centro da capital gaúcha. "Os agentes investigam uma ameaça anônima feita contra o Cremers na tarde de terça-feira, cinco dias após o crime. Por telefone, uma voz feminina disse que os problemas na entidade estariam apenas começando e uma bomba seria lançada na sede do conselho." (Zero Hora, 11/12/2008)





3 comentários:

  1. Oi
    Estás adoentado? Tive essa intuição... Se sim, sara logo :)

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  2. Oiii tudo bem contigo meu amigo??????
    É meu time precisa e muito de renovação...
    mas vamos ver no que vai dá né;..

    e vc como andas??
    Tudo bem aiii??

    Beijoss

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  3. Bem, grato amigas, mas sosseguem. Se os posts tivessem motivações pessoais, o autor já estaria preso por bipolar.

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