sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Sobre o Protecionismo

Estamos sofrendo a intolerável concorrência de um rival estrangeiro que, ao que parece, se beneficia de condições muito superiores às nossas para a produção de luz, com a qual ele inunda completamente o nosso mercado nacional a um preço fabulosamente baixo. No momento em que ele surge, as nossas vendas cessam, todos os consumidores recorrem a ele, e um ramo da indústria francesa, cujas ramificações são inumeráveis, é subitamente atingido pela mais completa estagnação. Este rival, que vem a ser ninguém menos que o sol, faz-nos uma concorrência tão impiedosa, que suspeitamos ser incitado pela pérfida Inglaterra (boa diplomacia nos tempos que correm!), visto que tem por aquela esnobe ilha uma condescendência que se dispensa de ter para conosco. Pedimos-vos encarecidamente, pois, a gentileza de criardes uma lei que ordene o fechamento de todas as janelas, clarabóias, frestas, gelosias, portadas, cortinas, persianas, postigos e olhos-de-boi; numa palavra, de todas as aberturas, buracos, fendas e fissuras pelas quais a luz do sol tem o costume de penetrar nas casas, para prejuízo das meritórias indústrias de que nos orgulhamos de ter dotado o país - um país que, por gratidão, não poderia abandonar-nos hoje a uma luta tão desigual.BASTIAT, Frédéric
O que precisamente caracterizaria a ação protetora nacional, o protecionismo?
Teoria que propõe um conjunto de medidas econômicas que favorecem as atividades internas em detrimento da concorrência estrangeira. O oposto desta doutrina é o livre-comércio. Alguns exemplos de medidas protecionistas: criação de altas tarifas e normas técnicas de qualidade para produtos estrangeiros, reduzindo a lucratividade dos mesmos e dificultando sua entrada; subsídios à indústria nacional, incentivando o desenvolvimento econômico interno; fixação de quotas, limitando o número de produtos, a quantidade de serviços estrangeiros no mercado nacional, ou até mesmo o percentual que o acionário estrangeiro pode atingir numa empresa.(DANTAS, T., www.brasilescola.com,  e Wikipédia)
A definição da útil Wiki, pois, é apenas parcialmente correta. Essas "medidas", ao contrário do que por supuesto se induz, impedem, e jamais favorecem, o desenvolvimento interno:
Onde existe crescimento econômico, estão também emergindo mais formas de governo de livre mercado - uma aceitação do fato de que as pessoas, e não a determinação política, criam a oportunidade econômica.
NAISBITT, J., Paradoxo global: 265
As disposições propaladas como guardiãs são na verdade vilãs:
“Mas a verdade é que não só nos países autocráticos, como naqueles supostamente mais livres - como a Inglaterra, a América, a França e outros - as leis não foram feitas para atender a vontade da maioria, mas sim a vontade daqueles que detêm o poder.” (TOLSTÓI, Leon, A escravidão de nosso tempo, 1900, cit. WOODCOCK, G.:106)
De cada vez que um Estado dá dinheiro para garantir o buraco de um banco faz investimento directo numa empresa, compra ações, dá subsídios, benefícios fiscais... está a violar normas do regime multilateral do comércio.
GOYOS, Durval de Noronha, http://ultimahora.publico.clix.pt, 3/4/2009
O “falso sistema” também pilhado por T. Taine, sofreu o lamento de B. Jouvenel (cit. ANDRADE M. C.:28):
“O Minotauro é um protetor sem limites, mas, por isso mesmo, autoritário sem limites (...) As pessoas têm o sentimento de que já não há espaço para o que dantes se chamava de vida privada.”
Como nenhum setor da Nação será maior do que ela, é pueril concluir que ao "defender" um segmento, o Estado prejudica os outros; e mais ainda, todas as pessoas:
O resultado final é que o protecionismo não é apenas uma tolice, mas uma tolice perigosa, destruidora de toda a prosperidade econômica. Nós não somos, e creio que nunca fomos, um mundo de fazendeiros auto-suficientes. A economia de mercado é uma vasta rede entrelaçada pelo mundo afora, na qual cada indivíduo, cada região, cada país, produz aquilo que ele faz melhor, com maior eficiência relativa, e então troca esse produto pelos bens e serviços de outros. Sem a divisão do trabalho e o comércio baseado nessa divisão, o mundo inteiro iria passar fome. Restrições coercivas nas trocas - tais como o protecionismo - mutilam, dificultam e destroem o comércio, que é a fonte de vida e prosperidade. O protecionismo é simplesmente um pretexto para que consumidores, bem como a prosperidade geral, sejam prejudicados apenas para garantir privilégios especiais e permanentes para um grupo menos eficiente de produtores, às custas de empresas mais competentes e às custas dos próprios consumidores. Mas é também um tipo de salva-guarda peculiarmente destruidor, porque ele permanentemente amarra o comércio, sob o manto do patriotismo.
ROTHBARD, Murray, www.mises.org.br.
Desnecessário relembrar o atraso impingido aos russos, cuja descalabro exigiu a cerca de ferro, mas os fascistas não deixam por menos. A chaga visa, tão somente, preservar o quintal e o rebanho em prol do pastor e da alcatéia que lhe "patrocina".
O grau do prejuízo está diretamente ligado à versão lateral mais ou menos praticada:
Os partidos de esquerda política - socialistas e comunistas - tiveram enorme influência sobre os padrões de cultura política que emergiram na Europa do século XIX. Pode-se observar o efeito dos partidos fascistas e comunistas na Europa, durante a depressão econômica mundial iniciada em 29, quando suas orientações monolíticas e seus poderosos símbolos políticos deram unidade e direção políticas a milhões de pessoas numa época de angústia e colapso social.
ALMOND, Gabriel A. & POWELL Jr., G.Bingham: 82.
A "bela direção" levou o povo aos campos talados de minas e canhões:
A Primeira Guerra Mundial transformou a face do mundo e iniciou novo capítulo nas relações econômicas. Surgiu a necessidade de o Estado atuar para organizar as atividades produtivas, direcionando-as para o esforço de guerra, o que abriu caminho para uma experiência intervencionista concreta. A guerra provocou a destruição do mercado natural e ocasionou enormes perdas, requerendo a atuação do Estado no sentido de evitá-las, além de provocar o aumento numérico e o surgimento de consciência de classe, cuja organização se intensificou, para fazer frente aos proprietários dos meios de produção
SCAFF: 34
Ao Current History Magazine (cit. ROTHBART: 41) a manobra era flagrante, e culminaria, como de fato se sucedeu, na ascendência do Estado, e na desgraça do cidadão:
A nova América não será capitalista no velho sentido, e tampouco será socialista. Se a tendência atual é para o fascismo, será um fascismo americano, que incorporara a experiência, as traições e as aspirações de uma grande nação de classe média. Quando o New Deal é despido de sua camuflagem progressista, social reformista, o que fica é a realidade do novo modelo fascista de sistema de capitalismo de Estado concentrado e servidão industrial, envolvendo um implícito ‘avanço rumo à guerra’.
Os destemidos yankees se tornaram rendidos:
O capitalismo de livre empresa, um mercado onde perdurassem a competição e a livre iniciativa, passou a ser considerado como instrumento de exploração do povo, enquanto uma economia planejada era vista como alavanca que colocaria os países no caminho do desenvolvimento. Caberia ao Estado, portanto, o controle da economia doméstica, das importações e a alocação dos investimentos de maneira a assegurar que as prioridades sociais se sobrepusessem à demanda egoísta dos indivíduos.
FRIEDMAN, Milton, Capitalism and freedom; cit. PERINGER: 126
Tocqueville (O Antigo Regime e a Revolução:139) prognosticara a emergência do falso Irmão:
É o único agente de felicidade; ele lhes proporciona segurança, prevê e supre suas necessidades, facilita-lhes os prazeres, manipula suas principais preocupações, dirige as indústrias, regula a transmissão de propriedades e subdivide as heranças - o que resta senão poupar-lhes todo o cuidado de pensar e a preocupação de viver? Assim, cada dia se torna o exercício da livre ação menos útil circunscreve a vontade em um âmbito mais reduzido. Ele cobre a superfície da sociedade com uma trama de pequenas regras complicadas, minuciosas e uniformes, através das quais as mentes mais originais e as personalidades mais dinâmicas não conseguem passar. A vontade do homem não é esfacelada, mas amaciada, dobrada e guiada. Um tal poder não tiraniza, mas oprime, enerva, extingue e entorpece um povo. A nação nada mais é do que um rebanho de animais trabalhadores e tímidos, dos quais o governo é o pastor.
Nietzsche (Além do Bem e do Mal: 45) pode entender, e também alertou:
Os niveladores... rapazes bonzinhos e desajeitados... mas que são cativos e ridiculamente superficiais, sobretudo em sua tendência básica de ver, nas formas da velha sociedade até agora existente, a causa de toda a miséria e falência humana... O que eles gostariam de perseguir com todas as suas foras é a universal felicidade do rebanho em pasto verde, com segurança, ausência de perigo, bem-estar e facilidade para todos; suas doutrinas e cantigas mais lembradas são 'igualdade de direitos' e 'compaixão pelos que sofrem' - e o sofrimento mesmo é visto por eles como algo que se deve abolir.
Naquele século, até Voltaire (Vida e obra; Cartas Inglesas: Décima Carta: Sobre o Comércio: 16), que não era economista, mas jornalista, reportou-se à diferença:
“Enriquecendo os cidadãos ingleses, o comércio contribuiu para torná-los mais livres, e, por sua vez, a liberdade ampliou o comércio”.
Malgrado tantas advertências, o mundo sói se dobrar às perfídias utilitaristas
:
O Estado de bem-estar era um ardil político: uma criação artificial do Estado, pelo Estado, para o Estado e seus funcionários... Quando seus bem escondidos, porém crescentes, excessos e abusos no governo central e local foram revelados recentemente, havia se passado um século de defesa falaciosa.
SELDON: 60
Infelizmente, nós, brasileiros, nunca lemos Burke, Locke ou Tocqueville, nem Acton, Burkhardt ou Hayek, ou outros bons autores anglos-axônicos. Preferimos as divagações românticas dos discípulos de Rousseau, as chatices de Comte e a filodoxia ou pretensioso amor das opiniões especulativas e rebuscadas dos autores da rive-gauche, influenciados por Marx e seus corifeus. Gramsci e os medíocres professores da Escola de Frankfurt ainda continuam aqui hegemônicos.
PENNA, O.M.
O espírito das revoluções: da revolução gloriosa à revolução liberal: 469
“E, ainda que o fascismo e o nacional-socialismo tenham sido destruídos enquanto realidades políticas na Segunda Guerra Mundial, suas ideologias não desapareceram e, direta ou indiretamente, ainda se opõem ao credo democrático.” (KELSEN, Hans, A Democracia: 140)
A intervenção deve-se dar de maneira mais ou menos permanente, principalmente sob a forma de uma política de manipulação monetária com o objetivo de atuar sobre três elementos variáveis, acima indicados, elementos esses dos quais depende o volume de emprego e da produção.
CUNLIFFE, Marcus, The Intellectuals in the USA: 29; cit. LIPSET, Seymour Martin: 357
ReVerSão
Há dias, os países do Fórum Ásia-Pacífico (APEC) lançaram um apelo contra medidas proteccionistas. Na actual crise financeira e económica o risco existe. Mas o proteccionismo só agravaria as coisas, como aconteceu na Grande Depressão dos anos 30. Por isso, os países da APEC comprometeram-se a não levantar barreiras ao comércio nem ao investimento.
CABRAL, Sarsfield, Jornal Público, PT, 1/12/2008

.
A teoria do caos não só fornece uma explicação para as flutuações de uma economia de mercado, mas também demonstra que o Estado não tem o conhecimento necessário para adotar as medidas anticíclicas corretas. Na medida em que é extremamente baixa a probabilidade de se alcançar um estado final desejado em um mundo caótico, é difícil enxergar como o governo poderia especificar uma política para atingir esse objetivo, a não ser por acaso.
ROSSER, J.B. Jr., Chaos Theory and New Keynesian Economics, The Manchester School, Vol. 58, n. 3: 265-291, 1990; cit. PARKER & STACEY, : 95
Diante daquelas nefastas performances, evoluídas especialmente através das manipulações keynesianas, falsamente protecionistas, faz-se urgente reconsiderar a importância da cientificidade da Mão Invisível::.
Todo o sistema de política que se esforce, seja por extraordinários incentivos, para destinar a uma espécie particular de indústria uma parte do capital da sociedade maior do que naturalmente atrairia, seja por extraordinárias restrições, para afastar de uma espécie particular de indústria parte do capital que do contrário nela se teria empregado, na realidade subverte o grande propósito que deveria promover. O Sr. Smith investigou, com grande engenhosidade, que circunstâncias, na Europa moderna, contribuíram para perturbar essa ordem da natureza e, sobretudo para encorajar a atividade nas cidades, à custa daquela do campo STEWART, Dugald, in SMITH, A.,Teoria dos Sentimentos Morais, LXIV
O verdadeiro gerenciamento da economia do país reside na busca incessante de formas que permitam o funcionamento mais livre não só do sistema de preços, como do restante da economia nacional, com a respectiva eliminação das barreiras de mercado, pois elas tolhem a livre competição entre as empresas e premiam a ineficiência e o desperdício, impedindo que a economia otimize resultados, obtenha um melhor nível de produção e emprego e minimize o período de tempo necessário a recomposição dos desajustes PERINGER: 8
O melhor propulsor de paz entre as nações é a liberdade econômica. Os horrores do século 20 estão fortemente conectados ao protecionismo. Ele coloca os países uns contra os outros e substitui a amizade e o comércio por hostilidade e guerra. Já a globalização reforça o estado de direito e a democracia. Nações que adotaram o livre comércio tiveram aumentos na renda per capita, na expectativa de vida, na educação, na saúde. A liberdade para o comércio é o caminho para a prosperidade. PALMER, Tom, Guerra ao protecionismo, in revista Exame, 10/7/2008
.
O conceito de um mundo sutilmente interligado, um oceano cósmico no qual estamos intimamente ligados uns aos outros e à natureza, assimilado por nosso intelecto e abraçado por nosso coração, poderá talvez inspirar novos modos de pensar e de agir que transformem o espectro de uma derrocada global no triunfo de uma renovação global – uma renovação para uma era mais humana e sustentável. LASZLO: 205
* * *
Aprecie, ainda:


quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Água em Saturno


A desconfiança é antiga, e encontra respaldo. Astrônomos norteamericanos identificaram efeitos espetaculares de gás e poeira provenientes da lua  Enceladus. Fortes indícios sugerem líquidos; portanto, água. As lentes da NASA captaram as nuvens se precipitando em velocidade supersônica. A equipe de Candice Hansen, do laboratório de propulsão de jato da Califórnia, calculou o curso dos fenômenos em 1.360 mph, aproximadamente 2.000 km/h.
Saturno é o sexto planeta a partir do Sol e o segundo maior no sistema solar. Diâmetro equatorial: 119,300 quilómetros (74,130 milhas). Muito do que se sabe sobre o planeta é devido às explorações da Voyager  Voyager em 1980-81. Saturno é visivelmente achatado nos pólos, resultado da alta rotação do planeta no seu eixo. O dia dura 10 horas e 39 minutos, mas demora cerca de 30 anos para circundar o Sol. A atmosfera é composta por hidrogénio com pequenas quantidades de hélio e metano.
Saturno é o único planeta menos denso do que a água (cerca de 30 porcento menos). No hipotético caso de se encontrar um oceano suficientemente grande, Saturno flutuaria nele. Sua coloração amarela enevoada é marcada por largas faixas atmosféricas semelhantes, mas mais fracas que às de Júpiter. Saturno tem um grande número de satélites ou luas, o maior que todos os demais planetas. Os seus maiores satélites, conhecidos antes do começo da exploração espacial, são: Mimas, Enceladus, Tétis, Dione, Reia, Titã, Hiperion, Jápeto e Febe. Em 2004 a sonda Cassini-Huygens fotografou o que são considerados mais dois satélites, batizados de Methone e Pallene. Em 1/5/2005, um terceiro satélite natural foi descoberto na Falha de Keeler (um intervalo existente no Anel A de Saturno). Designou-se S/2005 S1. Enceladus e Titã são especialmente interessantes para os astrônomos justamente pela existência de água líquida a pouca profundidade de sua superfície, com a emissão de vapor da água geyser. Ademais, possuem uma atmosfera rica em metano, bem similar à primitiva Terra.  .
"A Enceladus é um dos lugares com maiores chances de se encontrar vida no Sistema Solar fora da Terra. Estão presentes os três principais ingredientes necessários à vida - os elementos químicos básicos, os blocos básicos, uma fonte de energia, e agora achamos que existe água também. Todos os elementos estão aí. Se isto é suficiente para gerar vida ainda não sabemos, mas estamos muito interessados em saber mais." disse à BBC o cientista John Spencer, da missão espacial Cassini.


JOVENS ESTRELAS CONTÉM RNA
Uma equipe de cientistas europeus descobriu a presença de glicolaldeído, um açúcar que entra na composição do RNA, numa região do espaço de intensa formação de estrelas, a 26 mil anos-luz do Sistema Solar. A assinatura do glicolaldeído foi detectada por meio de um radiotelescópio do Instituto de Radioastronomia Milimérica (Iram), situado nos Alpes franceses. O RNA é uma molécula fundamental para a vida na Terra.
"Creio que o que descobrimos implica que moléculas que podem estar envolvidas diretamente na origem da vida talvez sejam abundantes em regiões onde planetas e estrelas estão se formando", disse ao estadão.com.br uma das autoras da descoberta, Serena Viti, do University College London.
"As descobertas sugerem que os ingredientes básicos da vida podem ser encontrados no espaço, e não são exclusivos da Terra".
Veja:



segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Insolência e obsolência keynesiana

,
Vivemos à base de idéias, de morais, de sociologias, de filosofias e de uma psicologia que pertencem ao século XIX. Somos os nossos próprios bisavós. BERGIER, Jacques e PAUWELS, Louis, O despertar dos mágicos: 31
A economia industrial era baseada na produção em série e no consumo de bens materiais, na utilidade marginal destes bens e na possibilidade de contá-los, pesá-los e medi-los. Por este motivo, ela aprimorou sobretudo os métodos para compreender e aperfeiçoar fenômenos de natureza métrico-decimal. Esta economia sente-se incomodada diante de recursos intangíveis, como as idéias, os valores, a estética, e é tentada a aplicar – de forma desajeitada – também a estes, os mesmo parâmetros e os mesmos métodos desenvolvidos em função dos bens tangíveis. DE MASI, D. 2001: 15..
Nossos antepassados atravessaram a dura e longa era das dialéticas. Temor e realidade, fatos e maldições puxavam o extenso cordão dos insensatos bipolares. 
Os economistas passaram quase todo o século XX
encantados com a pseudopanacéia keynesiana e
com a venenosa serpente marxista.
IORIO, U. : 134
Não houve cantos mais estúpidos do que os dois primeiros quartos do século recém findo. Nós, que logramos chegar ao mundo apesar de tanta bestialidade, e mais ainda, sem contaminação, poderíamos repetir tão funestas façanhas, apenas por ouvir parcialmente algumas histórias? Destacaríamos algum momento mais exitoso, ou fulgurante, para reaplicá-lo perante nossas pífias aflições?   Pelas bandas marciais e na academia não há criatividade. Todos se obrigam na cadência previamente ensaiada. Vivemos em tempos e objetivos distintos, mas as novas estações continuam ministrando antigas matérias, supostamente rescaldos dos descalabros.
O sistema da Economia é de fato por demais restrito. Nesses sol soem circular apenas quatro planetas, um de cada século, e os arautos presumem conhecer todas verdades. As lentes dos hubbles se concentram no passado, focalizam os artífices, identificam alguns satélites, mas não contemplam a periferia, circunstâncias geradoras, um real leitmotiv, tampouco as consequências da adoção ou supressão dos apanágios. Os diagnósticos são desprovidos de sentido
Assim, a economia, a ciência social matemáticamente mais avançada, é também a ciência social e humanamente mais fechada, pois se abstrai das condições sociais, históricas, políticas, psicológicas, ecológicas, etc., inseparáveis das atividades econômicas. Por isso, os seus experts são cada vez mais incapazes de prever e de predizer o desenvolvimento econômico, mesmo a curto prazo.
MORIN. Edgard, Compreender não é preciso; cit. MARTINS E SILVA: 30
O Mercantilismo fez-se no pioneiro orbital dessa galáxia. Por exclusivista, sua fama se deteriorou, mas não seu implemento. Ele permanece de modo sutil, na promiscuidade dos investidores de campanha com os governantes eleitos.
Adam Smith bem que tentou, mas como a mão-boba é mais pragmática, a invisível é tornada utópica.
Houve quem se revoltasse com a discrepância por lesar os excluídos do cast. Como o ouro era limitado, Marx não hesitou em utilizar as fórmulas de Malthus e Darwin para provar que os ricos só eram assim às custas dos pobres. Tudo findaria por colapso do sistema.
O cruel prognóstico ameaçou prevalecer justamente na década dos gângsters, momento também propício para surgir esperto estratagema com vistas a suplantar o vaticínio, quase um ovo-de-colombo: se o problema era a finitude do diapasão, bastava trocá-lo por outro. Se o ouro é escasso, o papel, contudo, não; e tudo aceita.
O padrão foi quebrado em prol do novo deal: em vez da produção de riqueza, o pleno emprego assumiu preponderância. Keynes chegou a ponto de sugerir que se cavasse buracos na praia, ou pintasse a Floresta Negra de branco, apenas para colocar dinheiro no bolso dos trabalhadores. O estéril rumo imprimido não poderia levar seu trem muito longe, mas ele tinha a resposta:
"A longo prazo estaremos todos mortos."
O importante era distrair o proletariado, para ele não pegar nas armas. Desse modo, com dinheiro rigorosamente falso se introduziu e se mantém a extensa lista de "conquistas sociais".
Se Donald Duck engolira o blefe, a Zé Carioca tocaria o requentado:
Getúlio Vargas, líder da Revolução de 1930, é apoiado por políticos reformistas e liberais [?] e inspirado na doutrina keynesiana. Na realidade, o desenrolar de seu governo não representou ruptura com o passado, mas reacomodação de interesses.
MASCARENHAS, E.: 51
Todo o aparato trabalhista, nele incluindo a tal "justiça" do trabalho, virada em extorsão de quem contrata, sindicatos e previdências sociais só é possível mediante a trapaça keynesiana. Paternalismos jamais contemplaram algum desenvolvimento, a não ser a dependência, cada vez mais acentuada, dos pintos às asas da grande galinha:
A ética dominante na História da Humanidade foi uma variante da doutrina altruísta-coletivista, que subordinava o indivíduo a alguma autoridade superior, mística ou social. Conseqüentemente, a maioria dos sistemas políticos era uma variante da mesma tirania estatista, diferindo apenas em grau, não em princípio básico, limitada apenas pelos acidentes da tradição, do caos, da disputa sangrenta e colapso periódico.
RAND, A.:118.
O resultado dessa arranjada aritmética é igual em qualquer canto, a qualquer tempo:
Treinta anos después un Presidente de los Estados Unidos afirmaba que 'todos somos keynesianos' en el preciso instante en que se iniciaba el regresso de la ortodoxia, el propio exito del modelo keynesiano llevo a la desmesura. El discurso argentino actual es muy semejante al repetido a comienzos de la decada del treinta. La experiencia muestra que la crisis se autoalimenta.
SCHVARZER, Jorge, El Clarin, 25/10/1995: 17
Por paradoxo, foi a II Grande Guerra que salvou o deal: os EUA, mercê dos despojos, pode reequilibrar as finanças. Foi o único. Ademais, leva a inédita vantagem de poder emitir moeda sem lastro porque ela não circula apenas em seu interior. Esses dois pontos de apoio são solenemente ignorados pelas escolinhas de Economia, preocupadas em meras e más temáticas, contabilidades e estatísticas, molduras nas quais não tem acesso as peças de História, de Ciência Política, que dirá da Física e da Epistemologia que a todas embasam.
Naquela década de 20, dos gângsters e da Lei Sêca, do fascismo, do comunismo e do nazismo, todos se contentavam com fords bigodes, charlestons, um teto, e algo para comer. Poderíamos nos valer dos mesmos utensílios para enfrentar nossas atuais premências? É o que pensam os atuais governantes, e o que desejam seus melhores "investidores de campanha", todos localizados nas caixa-forte:
O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, afirmou neste sábado em São Paulo, durante encontro do G20 financeiro, que a expansão de gastos do setor público deve ser pensada como instrumento para minimizar os impactos da crise econômica global e incentivar o crescimento da economia.
Entre os encantados, ora se incluem, até mesmo, os outrora criativos ingleses:
Segundo analistas citados pela BBC... as medidas de 'corte keynesiano' para dinamizar a economia, obrigará o Governo a elevar o endividamento público a níveis recorde de 100 bilhões de libras, carga adicional para futuras gerações.
UOL, 24/11/2008
Convém lembrar-lhes:
A desordem monetária produzida pelas intrépidas teses keynesianas, teve como conseqüências a inflação, a desorganização institucional, a diminuição real do lucro e, por conseguinte, o empobrecimento dos assalariados. O investimento social, concebido como uma partilha autoritária da riqueza no nível microeconômico ou como programa estatal financiado com emissões monetárias, só provoca a depressão social. Neste caso, a raposa no galinheiro não é o empresário, mas o Estado, que depena as galinhas sem misericórdia.
MENDONZA, MONTANER e LLOSA : 128
* * *
O emprego é o que menos deve importar, quase tanto quanto a obssessão pelo crédito. Se não houver lastro para tanto, tudo despencará, na primeira brisa, como castelos de cartas, ou na primeira onda, se fincados na areia. Não obstante, a disponibilidade de crédito no Brasil nunca sofreu restrições; basta o incauto se dispor à quitação triplicada. Na Rússia todos eram empregados, e crédito não lhes faltava; contudo, a queda do muro desnudou o pauperismo daquele outrora pujante império. É o trabalho, não o emprego; é o cultivo, não a terra; é a energia produzida pela matéria, e não a matéria per se; é a produção, não a simples emissão monetária que propiciam o capital. É da geração da riqueza, e não do mero salário ou consumo, que todos dependem. Isso é tarefa da Nação, não de governos. Não é da conta do Estado estipular onde se deve investir tempo e dinheiro, muito menos lhe assiste a menor razão para se locupletar do setor produtivo, através de crescentes impostos, especialmente sobre a renda, portanto penalizando a quem produz, para depois oferecer linhas de crédito aos desvalidos. O quadro brasileiro é surreal:
Em 1900, a carga tributária era de 10,6%. Atualmente, é uma das mais altas do mundo e passa dos 34%. Caminhando junto com o aumento da carga dos impostos, os gastos públicos e sociais, em especial, cresceram continuamente ao longo desse período.
PATU, Gustavo, A escalada da carga tributária. - São Paulo: Publifolha, 2008
Tudo isso equivale a ligar o ar-condicionado a pleno, para quando a vítima contrair pneumonia, oferecer o cobertor:
O sucesso e a popularidade dos sindicatos deveu-se à sua capacidade para assumir como vitórias suas aquilo que decorreria naturalmente do crescimento económico. A farsa foi alimentada tanto por sindicalistas como por políticos. Os sindicalistas porque, tendo sido os maiores beneficiários do movimento sindical, nunca tiveram incentivos para reconhecer a farsa. Os políticos porque, tendo reconhecido a farsa, se limitaram a inventar mecanismos para a contornar. A popularidade do keynesianismo após a segunda guerra mundial deve-se em parte à necessidade de minimizar os efeitos desta farsa.
MIRANDA, João, www.causaliberal.net/documentosJM/sindicatos.htm
As políticas mundiais de crescimento induzido pelo Estado tiveram exatamente o efeito oposto do que pretendiam: tinham aumentado, e não reduzido, o custo da produção de bens e serviços e tinham abaixado, e não aumentado, a capacidade das economias de conseguirem uma produção vendável.
SKIDELSKI: 140
Se insistirem na manivela, os senhores quedarão na portela:
"As idéias de Keynes são as que menos podem ajudar, elas que levaram ao beco sem saída atual." ( www.nivaldocordeiro.net)
Londres, 24 nov (EFE) - O prefeito Boris Johnson lançou hoje um ataque sem precedentes ao primeiro-ministro britânico, Gordon Brown. Comparou-lhe a um bêbado jogando com a economia do Reino Unido, como 'uma velha viúva louca por xerez que perdeu na roleta toda a fortuna da família e decide dobrar a aposta, incluindo até a casa'.
Daily Telegraph.
"O líder do Partido Conservador David Cameron, advertiu que o plano é uma 'bomba fiscal de efeito retardado'." (UOL, 24/11/2008)
A moderna ciência condena, de plano, a pretensão da inferência:
A teoria do caos não só fornece uma explicação para as flutuações de uma economia de mercado, mas também demonstra que o Estado não tem o conhecimento necessário para adotar as medidas anticíclicas corretas. Na medida em que é extremamente baixa a probabilidade de se alcançar um estado final desejado em um mundo caótico, é difícil enxergar como o governo poderia especificar uma política para atingir esse objetivo, a não ser por acaso.
ROSSER, J.B. Jr., Chaos Theory and New Keynesian Economics, The Manchester School, Vol. 58, n. 3: 265-291, 1990; cit. PARKER & STACEY: 95
* * *
Complemente:
A introdução de Keynes no Brasil
O desenvolvimento de Keynes no Brasil
A renovação do infortúnio

Ao contraste:

Sobre a Moderna Economia
A Economia através de Fractais*
Economia Quântica
Da Escola Austríaca de Economia
-_________

sábado, 22 de novembro de 2008

O fim de tudo

A consciência humana está transpondo um limiar tão importante como o que transpôs da Idade Média para a Renascença. O homem está faminto e sedento após tanto trabalho fazendo o levantamento de espaços externos do mundo físico começa a ganhar coragem para perguntar por aquilo que necessita: interligações dinâmicas, sentido de valor individual, oportunidades compartilhadas, efeitos. Nosso relacionamento com os símbolos de autoridade do passado está se modificando, porque estamos despertando para nós mesmos como seres, cada qual dotado de governo interior. Propriedades, credenciais e status não são mais intimidativos. Novos símbolos estão surgindo: imagens de unidade. A liberdade canta não só dentro de nós, como em nosso mundo exterior. Sábios e videntes previram esta segunda revolução. O homem não quer se sentir estagnado, o que deseja é ser capaz de mudar. RICHARDS, M. C., The Crossing Point, 1973; cit. FERGUNSON, M.: 57
BARACK OBAMA deve ter apreciado.
DANIEL BELL anunciou O Fim da Ideologia; F. CAPRA, o Ponto de Mutação; F. FUKUYAMA promulgou O Fim da História; e PETER WARD, O Fim da Evolução (Campus, 1997). Em 1989 ruiu o muro; e ALVIN TOFFLER registrou a Powershift: a Mudança de Poder. EMIR SADER o procura (O Poder, Cadê o Poder? Ensaios para uma Nova Esquerda. São Paulo: Bontempo, 1997). B. GATES (p.213) pode lhe informar: "O poder não vem do conhecimento acumulado, mas do conhecimento compartilhado."
Ninguém mais o detém. DON TAPSCOTT (Paradigm Shift: the New Promise of Information Technology. - N. York: Mc Graw Hill, 1993) retrata o câmbio como fruto da interação cultural.
* * *

MAURICE BERTRAND assegura o Fin de l´Ordre Militaire.(1) JACQUES IONS se alia à Nova Era prenunciando La Fin des Militants (2), a começar pelos partidos "vendidos" aos consumidores como sociais. Cada vez mais aparecem obras sobre vários "fins", entre os quais o da própria Física, por S. HAWKING, mas A. EINSTEIN na irreverência da nova ciência já acabara com ela. O corte epistemológico demoliu a Torre de Papel; e com ela, implode-se o materialismo. A igualdade é uma impossibilidade;e a justiça, uma utopia. Penso em rabiscar de uma vez O fim do Direito, e principalmente da Sociologia. Rememoro o conto de Comte (RJ: Papel & Virtual, 2002
No meio de tantos desconcertos há quem como eu espere até o colapso da democracia. Nas ciências econômicas, PAUL ORMEROD propõe direto, A morte da Economia, exaurida por excesso de economês, enquanto seu colega DAVID SIMPSON, mais restrito, apregoa o Fim da Macroeconomia. FRIEDRICH HAYEK propõe acabar com o monopólio da fabricação do dinheiro pela oficialidade, porque a política requer ser afastada do vil metal. (The Denationalisation of Money. - London : Institute of Economic Affairs, Hobart Paper 70, 1990). Concordo plenamente. O Banco Central se tornou mero agente comercial.
Na atual crise americana o capitalismo agoniza, não pela cientística predição marxista, mas graças, ao efeito atômico da corrupção, ora também assimilado no pujante hemisfério norte.
* * *
Não é prerrogativa de gênio verificar as leis do trabalho a caminho do fim. A exaustão do antagonismo na relação de produção já está fartamente promulgada e anunciada. Disso tratou J. RIFKIN ao apregoar O Fim dos Empregos. A perfídia dita positivista ainda não se encerrou porque vimos o fim do Duce, mas não do fascismo. Por certo é chegado o momento da ReVerSão. C'est fini da velha má temática. Ninguém mais quer ser empregado. Tampouco patrões tentam recrutá-lo. Agora, preferem parceiros; em outras palavras, sócios:
Com a Web, a possibilidade de tornar-se um agente autônomo não está limitada a atletas, artistas, atores e outros grandes nomes profissionais ou criativos; agora, quase todos os tipos de profissionais do conhecimento podem fazer isso. O mercado de trabalho de ‘agentes autônomos’, inclusive profissionais por conta própria, empreiteiros independentes e trabalhadores em agências temporárias já abrange 25 milhões de americanos. A vantagem de trabalhar por conta própria é a diversificação: você tem menos probabilidades de ficar sem trabalho se tiver muitos
Empregadores, em vez de um só.

GATES, B: 89
Pois então não é, justamente, a concretização do sonho marxista por efeito liberal?
Por fim, no término do grande périplo, talvez seja hora de encerrar também essas postagens, antes que finde a paciência, e assim aconteça meu próprio fim. Em agradecimento lhe ofereço um
-

Belo horizonte
Significa que estamos criando novas redes de conhecimento, interligando conceitos de maneiras surpreendentes, construindo espantosas hierarquias de inferência, gerando novas teorias, hipóteses e imagens, baseadas em novas suposições, novas linguagens, códigos e lógicas.
TOFFLER & TOFFLER: 42
Na nova sociedade, a Ética precede o Direito. Pela razão de seu sucesso, ela ignora conflitos e tribunais; nela todos conhecem seu papel e seu dever e fazem espontaneamente o que deles se espera. Não por acaso se acentua a importância da China e da Índia como elos de religação. Não assiste razão à dial-ética. A harmonia produzida pela Somalética, uma postura quântica, é mais humana e eficaz. No campo da Teoria do Campo o progresso vem surdo à voz de controle, gáudio da liberdade na "biodiversidade" :

A futuróloga Hazel Henderson assim descreveu a situação: a complexidade e interdependência das sociedades industriais amadurecidas, sua escala e centralização e os inesperados efeitos colaterais da tecnologia aplicada tornaram-se não planejáveis e, portanto, não administráveis.
LEMKOW, A. : 310
O Caos, a Quântica, a Relatividade, e o fim da burocracia
Foi dito, reporta Gleick, que a nova teoria do caos representa a terceira grande revolução na ciência moderna, após a mecânica quântica e a relatividade. Já que a noção particular de ordem num dado domínio do entendimento e de importância fundamental, podemos bem entender porque a Ciência do Caos, descobrindo uma nova noção de ordem, deveria ter um caráter revolucionário. Relembre, por exemplo, a profunda mudança societal já descrita que ocorreu quando a ciência moderna apareceu e introduziu uma idéia de ordem que diferia radicalmente daquela sustentada pela sociedade medieval.
(Idem: 159)
A Gravidade "espanta" mas a expansão é simplificadora.-Atratores dispensam administração:
O fato significativo é que estamos, agora, deslocando-nos para futuras formas poderosas de processamento de conhecimento que são profundamente antiburocráticos.
(TOFFLER, 1992: 199)
No último canto do XIX, antecipando-se a Einstein por frações de segundo, Henry Poincaré (cit. Abbagnano: 100) asseverou:
"A ciência, por outras palavras, é um sistema de relações. Portanto, só nas relações se deve procurar a objectividade: seria inútil procurá-las nos seres considerados isoladamente uns dos outros."
O cosmos, e tudo mais, se integram nessas relações. A cadeia produtiva pode e deve evoluir por Economia Quântica, através de fractais, por interações, como requer um Ecossistema:

A humanidade está emergindo de uma reação em cadeia de causa e efeito que se estende por bilhões de anos no passado. Agora a espécie tem o poder de afetar sua própria evolução através da escolha consciente. As pessoas hoje sabem mais do que nunca. Rádios, televisores, computadores, telefones, copiadoras se espalharam pelo globo em um século. Nenhuma geração pode acrescentar essas coisas aos jornais, revistas e as artes. O nosso é um tempo de possibilidades ilimitadas para intercâmbio, interação entre culturas, viagens e aprendizado. Pensar globalmente exige a descoberta da relação certa entre indivíduo e a comunidade global. Nenhum deles é insignificante. Deve haver uma relação saudável entre comunidade, ordem social, o todo e o indivíduo.
GROMIKO, A., Breakthrough: 8; cit. LEMKOW: 382
_________
Notas
1 O Fim dos Exércitos.
2
O Fim dos Cabos Eleitorais.
3 O Fim dos Empregos: o declínio inevitável dos níveis dos empregos e a redução da força global de trabalho.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Os aliados da crise


.

O homem bom também quer ser verdadeiro
e crê na verdade de todas as coisas.
Não só da sociedade, mas também do mundo...
De fato, por que razão o mundo deveria enganá-lo?
NIETZSCHE, F., O livro do filósofo: 55.


Recessões e quedas na Bolsa de Valores
não eram
apenas costumeiras, mas também
partes necessárias
do ciclo de crescimento:
elas separavam o joio do trigo
,
liquidavam com
os malsãos da economia e repeliam parasitas.
JOHNSON, Paul: 215


O lugarejo cataliza como se fosse o painel de todos os preços do mundo. No meio do fog não se distingue o elementar: ali nada se produz. Esta "praça de comércio", se comparada com a da cidade, já não lhe supera; que dirá se confrontada com todas as operações do país, e agora até do mundo!
A liberdade consiste em conhecer
os cordéis que nos manipulam.

SPINOZA
, Baruch (1632-77)
...
Governos neomercantilistas, passistas, e economistas divulgam gigantescas perdas. Ora propalam que a festa da crise ameaça a economia "real". Pois bem. Então, qual foi atingida? Seria uma virtual?
- As ações caíram pela metade do preço. Isso é fato!
Mais ou menos; o dinheiro não sumiu. O que há são apenas transferências de valores entre os dispostos nos trapézios. E como todo trapezista necessita de bilheteria, o espetáculo é anunciado pela cidade. Ela se emociona. Apaixonada, torna-se suscetível, maleável, compassiva, e tudo aceita. .
.
Dos bancos
MIANYANG, China - A crise financeira mundial vai gerar, no ano que vem, uma crise de desemprego. A avaliação é o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, que alertou os países ricos sobre as medidas tomadas contra os problemas. 'Esta crise financeira virou uma crise econômica, e no ano que vem será uma crise de desemprego', disse Zoellick. 'Será uma fase extremamente difícil'. 14/12/2008 .- (1)
Folha destaca em 1/2/2009
o que desde 1995 temos evidenciado.
.
Pois se uma crise financeira, levada a cabo não por mau gerenciamento, como teimam em propalar, mas por corrupção e negociatas em larga escala, está precipitando uma crise econômica, como diz, que vem a ser exatamente a mesma coisa, como esconde, porém com reflexo no desemprego, que ousa prever, então é fácil contorná-la: basta despir esta e as santidades congêneres do dom de cadenciar o ritmo da civilização, seja pela prova cabal de incompetência, ou pela prova material da safadeza:
O poder excessivo do setor financeiro é o
motivo pelo qual o mundo chegou à crise atual.
RUSSELL, Bertrand, O Moderno Midas, 1930/2002: 69
Dia desses encontrei abnegado jornalista. Conhecia centenas de prejudicados com o midicrash. Configurou um problema social. Todavia, como estamos tratando de valores, e não de cabeças; de dinheiro, e não de pessoas, asseguro-lhe que a maior parte do capital que por lá circulava, coisa de uns oitenta por cento, festeja um veraneio como nunca.
Tem-se uma falsa impressão de liberdade de mercado, porque o ambiente das bolsas é tão aberto quanto o mar, às sardinhas. Contudo, enquanto alguns cidadãos, que podem ser centenas, e até milhares, para lá acorrem com alguns zeros depois da unidade, fruto de poupanças de toda a vida, aqueles gigantes operam com todo o resto do dinheiro da face da Terra! Se combinados, então, como visível, depenam todas as galinhas, dentro da lei (2). Ou, como na linguagem corrente, o tubarão se farta de tanta sardinha. Basta os recursos adormecerem, por alguns dias, em suas caixa-fortes.
Até outubro a Bovespa girava cerca R$ 6 bilhões por dia. Ora movimenta a metade. O BC marca forte saída dos "investimentos" estrangeiros. Tal qual brinquedo de iô-iô, sem comprador qualquer preço despenca, e retorna quando o manipulador quiser:
O ministro Paulo Bernardo (Planejamento) é direto quando indagado se os bancos privados estão escondendo dinheiro por causa da crise: 'Claro que estão! O que eles fizeram? Fogueira com o dinheiro? Isso deve estar todo entesourado' Folha de São Paulo, 23/11/2008
Todavia, como se não bastasse, os bancos ainda são contemplados com frutos virtuais, de produção futura, tornados reais pelas promissórias em forma de moeda, emitidas por esse e por governos alhures, de modo antecipado, sem lastro. O fito de combater a provocada depressão justifica artimanha keynesiana. Tudo combina com a máxima do apreciado Maquiavel. O resultado é fantástico; e espelha a total inversão dos valores:
O lucro dos bancos no Brasil superou o resultado de todos os outros setores da economia juntos no terceiro trimestre, segundo pesquisa da consultoria Economática. Os dados consideram apenas empresas de capital aberto.
Folha de São Paulo, 24/11/2008
.
Dos governantes

Por isso, um príncipe cauteloso deve conceber um modo pelo qual
os seus cidadãos, sempre e em qualquer situação, percebam que ele
e o Estado lhes são indispensáveis. Só então aqueles ser-lhe-ão sempre fiéis.
MAQUIAVEL, Nicolau, O Príncipe, D' ELIA, Antônio: 15.
Numa coincidência impressionante, poderosas lentes gravaram a terrível manhã do 11 de setembro. Por certo foram os "acidentes aéreos" mais bem documentados de todos os tempos. Em que pese a fugacidade do episódio, ele foi captado por incontáveis ângulos, em seus mínimos detalhes, desde a aproximação das aeronaves. Apenas a aterrisagem na área de pouso de helicópteros do Pentágono, portanto presumivelmente escolhida a dedo, até hoje permanece mal detalhada, e nem um pouco explicada.
Por tudo vejo Bin Laden mera produção de TV. Eis o álibi para bombardear vários países, ameaçar outros tantos, saqueá-los do petróleo, e ainda por cima seqüestrar e assassinar um ditador, para que não abrisse a boca, certamente.
"A idéia da política como espetáculo nada tem de novo" (BOBBIO, Norberto, Teoria Geral da Política: a Filosofia Política e as Lições dos Clássicos: 403).
Nesses casos, contudo, é evidente que ela já foi longe demais.

* * *
Como vivemos numa apregoada democracia, tudo depende do voto popular. Para atingi-lo, haja recursos. Os bancos alimentam os partidos, conquanto engordam as contas pessoais dos players nos paraísos fiscais. Insignificâncias garantem multiplicadas recompensas supostamente pagas com o dinheiro de todos, isto é, de ninguém:
"Os financiadores da campanha visam exercer influência na próxima administração."(HOLMAN, Craig, presidente do grupo Craig Holman of Public Citizen, ao jornal USA Today.)
A GM e a Ford possuem dúzias de superjatos executivos, mas se põem na porta da Igreja para levar o quinhão que lhes cabe por esses "financiamentos". Milhões de aposentados, alcunhados "vagabundos" pelo sociologo, são totalmente esquecidos, em prol dos "investidores":
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador de São Paulo, José Serra, deram um belo presente à indústria automobilística em tempos de crise. Juntos, colocaram R$ 8 bilhões para os bancos das montadoras a fim de facilitar empréstimos para aquisições. Na mídia, já tem montadora falando do subsídio dos governos federal e estadual.
Tom Donilon, lobista da Fannie Mae, da tal crise hipotecária, alavancou a candidatura de Obama, e ora está prestes a abocanhar o spread diretamente na fonte. Deverá ser indicado "conselheiro" do novo governo, junto com Don Gips, executivo na Level 3 Communications, um dos líderes da equipe de revisão das agências, e contribuinte de US$ 500 mil. (Wall Street Journal)
Esta promiscuidade foi flagrante no governo de FHC. Os banqueiros listados na famosa pasta cor-de-rosa remanejaram as contas de seus correntistas às Cayman, no maior golpe do mundo, tudo coberto através do criativo PROER. Ninguém notou a falta, exceto a produção, que desde então claudica, e se arrasta, sem saber o motivo. Apresenta-se o expiatório.
* * *
Dos economistas
O pensamento econômico contemporâneo é esquizofrênico. A teoria clássica foi quase virada de ponta-cabeça. Os próprios economistas, quaisquer que seja suas convicções, criam ciclos econômicos mediante suas políticas e previsões.
CAPRA, F., 1995: 207.
A lei do galinheiro legitima a má temática da Economia. Os tecnocratas são muito requisitados. Nenhum deles senta praça na produção, mas se postam a orquestrá-la. Vem à berlinda, e dão entrevistas, e usam seu alto palavreado de economês:


Uma recessão profunda na economia dos Estados Unidos é inevitável e não se pode descartar a possibilidade de uma longa depressão, afirmou hoje o economista George Soros. O economista preside o Soros Management Fund e fez fortuna com a especulação das divisas. (Folha SP)
.
Os especialistas sondaram nossos recônditos desejos e são os únicos capazes de continuar a prover nossas necessidades. Estes especialistas que 'realmente' sabem o que dizem, estão todos eles na folha de pagamento oficial da estrutura estatal e/ou empresarial. Os especialistas importantes são os autorizados. E os especialistas autorizados pertencem à matriz.
HAZLIT, H.,
Economia numa unica lição: 4

Nobel de Economia Joseph Stiglitz, Ex-FMI e hoje crítico do organismo, declarou que, nas crises vividas pelos EUA nos anos 80 e em 2008, o governo evitou que os bancos americanos falissem. Como? Fixando o valor de seus ativos em um nível intermediário entre o valor de mercado e o valor contábil. A operação acabou explicada pela tradutora do evento como “truchar las estadísticas”. Truchar, na gíria portenha, significa “falsificar”. Ouvindo isso, Cristina Kirchner entusiasmou-se: “Si vamos a truchar, truchemos todos”, frisando que, caso fosse presidente dos EUA, teria tomado a mesma decisão.
Da imprensa
Como há um homicídio a esclarecer, é inevitável que as autoridades
policiais escarafunchem todos os aspectos da história, mas isso não
significa
que o grande público deva participar de tudo e acompanhar
'on line' cada novo
desdobramento das investigações...
Entretanto, os limites do decoro foram quebrados pela perversa
combinação de uma imprensa ávida por
sensacionalismo com
declarações irresponsáveis de autoridades policiais e judiciárias.

SCHWARTZMAN, Hélio, Editorialista da Folha de São Paulo, em 17/4/2008
Ela é o espaço que dá vazão ao efeito nuclear. Adora estar presente nas grandes chacinas, nas guerras, nos crimes bárbaros, nos grandes acidentes. Seu papel é altamente inflamável. Acende lareiras. Ora joga calor ao palco, ao gáudio de suas mais poderosas forças motrizes. Por um lado, faturam maior publicidade de varejo; e por outro, o forte atacado oficial e financeiro.
Todavia, de tanto martelar sobre a recessão a imprensa logra, de fato, arrefecer a iniciativa de muitos executivos, sempre cautelosos com os parcos recursos e a responsabilidade que lhes recai. Qualquer decisão expansiva será tomada como arrojada, e desse modo inibe o investimento, e com isso reduz o trabalho. Se ao trio que lhe precede é trivial concluir suas vantagens, confesso não compreender a psicologia amarronzada que sói aflorar pelos periódicos do mundo. Talvez a profissão seja assemelhada com a do advogado: não lhes cabe a verdade, mas o interesse do cliente eventual:
Por isso a importância de jornais como o New York Times, que serve
ao establishment americano, assim como o Pravda servia ao governo
da União Soviética. Ele oferece aquilo em que os donos do país, e das
grandes corporações, desejam que acreditemos.

ROSSETI, Econ. José Paschoal: 69
Para escapulir dos grilhões, permanece a lição:
Este Hobart Special do Professor Hayek chega num momento em que - depois das asneiras monetárias cometidas antes da guerra, consideradas responsáveis por precipitarem a Grande Depressão de 1929-32 e de quase um terço de século de “controle monetário” (ou, melhor, descontrole) pelo governo no pós-guerra, constata-se que as tentativas de controle internacional de modo algum tiveram maior sucesso - mais uma vez os economistas estão à cata de meios para retirar totalmente o controle do dinheiro das mãos do governo 'afastar o dinheiro da política' caso desejem que sobreviva a sociedade civilizada.
SELDON, Arthur, prefácio de HAYEK, F., A Desestatização do Dinheiro: 3
_________
1. Malgrado todo o empenho, nada disso parece verdade:
SÃO PAULO - O fluxo de consumidores nos shopping centers ficou estável nos nove primeiros dias de dezembro em relação ao mesmo período do ano passado, segundo levantamento MercadoFlux, divulgado pelo Instituto de Pesquisa & Desenvolvimento de Mercado (IPDM) (Estadão, 14/12/2009]8)

.
2. As bolsas européias reverteram o movimento exibido nas primeiras horas de negócios desta quinta-feira e passaram para o vermelho, "em virtude do diagnóstico da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)." O documento afirma que os países-membros entraram em recessão e deverão encolher 0,3% em 2009
.
Além de irrisória, tal "previsão" é ignorante quanto improvável; por isso irresponsável:



Durante longo tempo o ideal do conhecimento científico foi aquele que Laplace havia formulado com sua idéia de universo totalmente determinista e mecanicista. Segundo ele, uma inteligência excepcional dotada de uma capacidade sensorial, intelectual e computacional suficiente poderia determinar qualquer momento do passado e qualquer momento do futuro. É essa visão pueril e talvez louca do mundo que está prestes a desmoronar, mas ela ainda reina, e efetivamente excluiu todo o problema da reflexividade.
MORIN, Edgar 2000: 32
Mas os governos, e aqueles que os assessoram nestas questões, sofrem da ilusão de controle. Não é possível, no estado corrente do conhecimento científico, fazer previsões econômicas de curto prazo com razoável grau de precisão.
ORMEROD, P. 2000: 124
Malgrado pautar a cadência monetária, nem tal prerrogativa é capaz de formular com precisão o exercício. O povo é carnavalesco, por isso indisciplinado. Felizmente.