terça-feira, 25 de maio de 2010

A malvadeza de Sócrates

O amor é filho de dois deuses: a carência e a astúcia.
SÓCRATES
Ah, MAQUIAVEL. Se visse a formosura do seu avô, talvez lhe esquecesse a tempo:
Gordo, feio, desleixado, descalço, Sócrates passou a sua vida nas ruas e praças de Atenas: «de manhã ele vai aos passeios e aos ginásios; na hora em que o mercado fervilha vai até ao ágora e passa o resto do dia no lugar em que deverá encontrar mais gente», escreve Xenofonte www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/socrates/soccidadao.htm
Pobre daquela gente doutrinada por indigente.
Ninguém deixava de ser persuadido por sua palavra e por seu caráter, que parecia com sua fisionomia, e, para ser franco, por tudo que esta pessoa tinha de especial. Porém, apenas enquanto não lhe acendia a cólera. Quando esta paixão lhe queimava, sua ruindade era horrível. Não evitava, então, nenhuma palavra e nenhum ato... Este magnetismo interior que possui é, sem dúvida, o motivo de fascinar todas as naturezas ardentes, seja a de um  Alcibíades ou a de um Platão. BRÉHIER, Émile
Que Platão gostava de um ferrinho, não há dúvidas.  Mas "carência e astúcia"... Que mestre à juventude!
Sócrates queria que o homem actuasse em função de valores, o que equivale a dizer que a sua tarefa, a sua «missão», à qual, de resto, ele atribuía uma origem divina, foi a de educador na Cidade. Pois ao longo de dezenas de anos, ele não quis senão tornar os seus concidadãos melhores.POMBO, Prof.Olga
Em função de suas ideias inovadoras para a sociedade, começa a atrair a atenção de muitos jovens atenienses. Suas qualidades de orador e sua inteligência, também colaboraram para o aumento de sua popularidade. www.suapesquisa.com/socrates
Que valor poderia o marginal aquilatar, senão em modo por completo deturpado, tal qual sua premissa amorosa? Sequer a própria vida o mito valorizava, ou suicida tem por ela algum apreço? Não há maior referência do artífice além de seu amoroso desempenho na Ágora. Seria por mirar PLATÃO que o feioso usou da picardia impressionista? O que se sabe é que tanto quanto seu meio-clone posterior o  inspirador do Ocidente nada escreveu.  Também nem tinha essa importância toda que até hoje lhe é alocada."Sócrates não era suficientemente bem conhecido para ser caricaturado como um representante de um novo saber." (TAYLOR, C.C.W.: 16) Da planície jamais se elevou. Não chegava na Acrópole; porém, sua partida deu passagem aos mais cruéis inimigos, para a cidadela ser tomada de assalto: "Vós, atenienses, mataram o sofista Sócrates porque ele era considerado mestre de Crítias e Alcebíades, dos 32 que derrubaram a democracia. (Ésquines, cit.Idem, 23)  O programa incluia uma famosa amizade muito suspeita - o jovem e atlético sobrinho de CRÍTIAS, ARISTOCLES, o mesmo que depois do falecimento do amo foi se deitar com DION, filho do Tirano de Siracusa, amante que lhe colocou o carinhoso apelido de PLATÃO. Francamente!
Quando se coloca o centro da gravidade da vida não na vida, mas no além - no nada -, então se priva a vida de qualquer centro de gravidade. NIETZSCHE, F., O anticristo: maldição contra o cristianismo:78 
SÓCRATES não se suicidou para escapar da pena imposta pela corrupção de menores, por certo pedofilia. Tampouco foi por vergonha de encarar a culta, até tolerante e pacata população ateniense*.
Academia: Organização fundada, dizem, por Platão e seus amiguinhos filósofos, quando encontraram um jardim (de Academus, claro) onde podiam ensinar, sobretudo à garotada, altas ideias, e gostosas marginalidades. (Vide Sócrates. Ou não vide. Mais genialidade de Millôr Fernandes, o livre-pensador
Não havia em SÓCRATES o motivo que levou nosso GETÚLIO ao desatino. Neste caso, para fugir do constrangimento  e entrar logo na História, ele não aguardaria alguém lhe trazer a cicuta - teria usado direto uma faca no abdomen, já que não havia bala.  Não tinha o mundo inteiro atrás de si, como experimentou HITLER, antes de sumir. Muito menos precisava repetir o deplorável desfecho de JUDAS - não traíra ninguém. Como JESUS CRISTO ou MUSSOLINI? Nada a ver. Não seriam os seus próprios conterrâneos que providenciariam sua remessa ao além.  Restaria PLATÂO, quem sabe telentrega da cicuta? Negativo. Houve a cicuta, sim, mas ela entrou ao arrepio do carinhoso, amoroso, afeiçoado, e também possessivo, muito possessivo, discípulo. PLATÃO não era um charlesmason - , ao contrário - o parente dos Trinta Tiranos fez tudo para preservar o ídolo, inclusive com rota de fuga à ponta da bota italiana, para onde se dirigiria na viuvez.. Embora professasse a lógica e distinguisse  corpo e alma, o futuro secretário do Tirano de Siracusa fazia tudo para reuni-los.  SÓCRATES preferiu a via indolor, a mesma que GOEBBELS usaria para despachar a doce prole. Porém, o que foi impossível a todos citados, em especial a cândida família do nazista, era possível para SÓCRATES " Mesmo depois de sua condenação, ele poderia ter evitado sua morte se tivesse escapado com a ajuda de amigos."(http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%B3crates)
SÓCRATES levou a cabo, com plena lucidez e sem qualquer temor da morte: ele caminhou para a morte com aquela calma que, na descrição de PLATÃO, deixa o simpósio como o último dos beberrões a fazê-lo, nos primeiros albores da manhã, a fim de começar um novo dia. NIETZSCHE, F., O nascimento da tragédia: 84
Foi sua própria e por fim extremada curiosidade que lhe traiu, arrebatando-lhe a vida. Topou o subterrâneo de HADES porque significava conhecer sua parte mais sublime,  o non plus ultra - para ele, completamente estranha, mas excitante, qual convencida alma. 
Segundo Platão o oráculo disse que ninguém era mais sábio do que Sócrates, e a sabedoria socrática é identificada como autoconhecimento. Xenofonte usa a anedota para respaldar seu retrato convencional da virtude moral de Sócrates. Platão, para apresentar a investigação socrática como cumprimento de uma missão divina, e portanto como um ato supremo de piedade... Existe, portanto, uma relação íntima entre o autoconhecimento e a melhor alma possível; ou o autoconhecimento é idêntico a este estado da alma, ou é condição dele, necessária, suficiente, ou talvez necessária e suficiente.  TAYLOR, C.C.W., Sócrates: 30/1
O grau da alienação proposta, e por Sócrates exercitada mercê de um narcisismo extremado, borderline da androgenia, pode ser apreciado no relato do Banquete, de Platão (p.113). O festival de besteiras se encerrou com um convite à vida eterna:
'Comer e beber é o de menos. O que importa é ver os queridinhos, ficar com eles. Raciocinemos! O que aconteceria se algum de voces pudesse ver o próprio belo: íntegro, puro, sem mistura, em lugar das belezas contaminadas pela carne, de cores, de outras bobagens perecíveis? Não gostarias, se pudesses, de ver o belo em si, divino e único? Dirigir o olhar ao belo, contemplá-lo e estar com o que importa, pensas que isso seria viver miseravelmente? Não te parece que só quem tiver chegado lá, vendo o belo como convém, poderá produzir não simulacros de virtude - pois não é em sombras que estará tocando -, e sim virtudes autênticas, visto que o tocado é a própria verdade? Ora, a divindade preza os que geram e cultivam a verdade. Se convém que alguém se torne imortal, é esse'. Fedro, e demais convivas, o que ouvi de Diotima foi isso. Ela me convenceu. Por estar convencido, tento convencer também os outros que, para a aquisição deste cabedal, nenhum colaborador melhor do que Eros poderá favorecer a natureza humana. Enfatizo a necessidade de honrar Eros. Sendo eu próprio um decidido cultor do erotismo, incito os demais a fazê-lo. SÓCRATES.
 Essa estória da alma merece uma abordagem toda especial.  
Alma é um termo que deriva do latim anǐma, este refere-se ao princípio que dá movimento ao que é vivo, o que é animado ou o que faz mover. De anǐma, derivam diversas palavras tais como: animal (em latim, animalia), animado. Religiosamente definida como um ser independente da matéria e que sobrevive à morte do corpo, que se julga continuar viva após a morte do corpo, podendo o seu destino ser a beatitude celestial ou o tormento eterno. Segundo este ponto de vista, a morte é considerada como a passagem da alma para a vida eterna, no domínio espiritual. A grande maioria das religiões, cristãs e não-cristãs, concorda em linhas gerais com esta definição. O conceito de uma alma imortal é muito antigo. De facto, as suas raízes remontam ao princípio da história humana. Wikipédia
Quem veio com a novidade foi Pitágoras, afilhado da Pítia. A pitonisa lhe contou um sublime acontecimento, para lhe tranquilizar. Orfeu tinha ficado viúvo, mas como tocava uma harpa como ninguém, Hades permitiu que ele viesse ao mundo das almas para visitar sua amada, garantindo-lhe o retorno ao mundo encorpado. Na volta Orfeu encontrou problemas na decolagem, mas mandou o voador Mercúrio avisar o pessoal que logo voltaria, e de fato voltou, contando maravilhas. Todos estavam lá, bem guardadinhos por Hades, esperando pelo resto do pessoal.  Dá para acreditar? Pois até hoje, na falta de melhor explicação, a humanidade pressupõe que o corpo faleça, mas a alma seja imortal. E há quem diga até que ela retorna em vários corpos, e tal,  quando alguns manifestam até mesmo o clássico dèjá vu.  Alguém para contestar?
E=mc2
A suscinta equação informa: matéria é expressão de energia. O corpo é expressão da alma. Daí colhi a inspiração: A=mc² 
Matéria sem espírito não tem sentido. Espírito sem matéria não é sentido.
A energia é intrínseca à matéria, sem possibilidade de distinção; e a matéria produz energia, sem possibilidade de estancá-la. Chernobyl pensou fosse fácil. Qualquer cisão apreciativa, ainda que metodológica, inviabiliza totalmente o objeto; e por consequência, respostas insatisfatórias. Por causa das curvas da estrada de tantos, a comunidade científica e de resto a humanidade custaram um monte para constatar a obviedade. Ora se maravilha:
Um efeito quântico denominado ressonância de fluorescência, que resulta da interação da luz com a matéria, é promissor tanto para as pesquisas de computação óptica quando para a computação quântica.
Pela ânsia de imortalidade, digo o seguinte: justamente por ser eterna, a eternidade não pode excluir nenhum momento ou elemento. O ticket à vida eterna é garantido no nascimento, talvez já na concepção. Aparentemente é drástico o ritual de passagem ao colosso de HADES, mas pode não ser tão catastrófico, assim. Como os estágios do SPACESHUTTLE, ao longo da vida vamos perdendo pedaços, estes abandonados à deriva no EspaçoTempo. Vamos indo pelo brete, já meio molhados, até chegar no precipício. Ao mergulharmos, perdemos a pele, e a energia sem mais o que fazer se despreende completamente, rejuntando-se à sua história já presente nos pedaços integrados no mural da eternidade. O processo se faz naturalmente, sem intervenção de alguma mão. Por mais divina que seja, ela não é mister.

O vácuo quântico é o 'mecanismo de informação holográfica que registra a experiência histórica da matéria'. LASZLO, E., A Ciência e o Campo Akáshico: 72
O Ministério da Saúde adverte: partida antecipada por vontade própria configura flagrante imprudência. O mais grave delito. Que tal um psiquiatra?* * *
SÓCRATES queria conhecer a si mesmo fitando amenizar a dor. Pouco tinha a perder -  afinal esta era mesmo a condenação. Apenas uma antecipação de vôo, para evitar a espera no hostil aeroporto. Supor alguma anistia... para fazer mais o quê? Ele já tinha idade avançada, ainda mais à época. Um privilegiado, sem dúvidas. O pioneiro tomou direto o rumo da exclusiva aventura, na certeza de encontrar a glória, a vida-eterna.
Enquanto estivermos presos ao corpo e a nossa alma estiver conglutinada. com este mal, nunca poderemos atingir plenamente a verdade do que buscamos. Pois, mil e uma inquietações nos causa o corpo, pelas exigências de sua nutrição, sem falar ainda em toda espécie de paixões eróticas, desejos, temores, e um sem número de imaginações e infinitas ninharias. Em suma, ele nas coloca num estado no qual não temos um momento de quietação. Pois, também as guerras, as revoltas e batalhas são conseqüências do corpo e das suas concupiscências. Porque todas as guerras nascem do desejo de adquirir haveres e bens. E haveres e bens somos forçados a adquirir por causa do corpo, cujas exigências devem ser satisfeitas.
PLATÃO, Fédon-, 66.
No Rio Grande do Sul dir-se-iá:  "Mas quê barbaridade, tchê!  O próprio suicida  sentenciou , às vésperas da mais burra decisão, o que bem caberia em seu epitáfio:

O início da sabedoria é a admissão da própria ignorância.
O valiente DOM QUIXOTE obteve a redenção, porém de modo involuntário. Abatido pela moléstia, no leito da morte lhe surgiu a consciência de ter passado a vida iludido pelos numerosos livros de cavalaria, repletos de falso heroísmo, em absurdos. "E depois de tudo dito e feito, Dom Quixote", finaliza CERVANTES, "foi um homem feliz. Porque, tendo vivido em loucura, morreu em sabedoria"  Já consciente de sua ignorância, SÓCRATES partiu para buscar a luz diretamente na fonte, e foi direto ao assunto.
É a cientificidade talvez apenas um temor e uma escapatória ante o pessimisto? Uma sutil legítima defesa contra - a verdade? E, moralmente falando, algo como covardia e falsidade? E amoralmente, uma astúcia? Ó Sócrates, Sócrates, foi este porventura o teu segredo?, ironista misterioso, foi esta, por ventura, a tua - ironia? NIETZSCHE, O nascimento da tragédia: 12
No súbito ele soube. O preço que pagou, todavia, assinala mau investimento. Nenhum MERCÚRIO pintou, mas eu sei. Custa a própria integridade do que estipulamos como ser humano. Na melhor  hipótese, instala-se a esquizofrenia, constantemente operativa, no digladiar dos polos:
O resultado disso, dessa crueldade para com a parte melhor da própria espécie, é que o homem de qualidades, psicologicamente mutilado, 'vem a tornar-se um animal doente', alguém eternamente atormentado por ter que viver com uma carnalidade e uma sensualidade latente, exigindo coisas que ele sempre terá que negar, ocultar, e sepultar. Obrigam-no, assim a rastejar frente a deuses que ele pensa que julgam culpado. SCHILLING, V., Nietzsche: em busca do super-homem: 44
E na pior hipótese, muitas vezes repetida, o suicídio, a sucumbência do corpo para o exclusivo usufruto da alma. Inevitável, mas imprudente provocar esta partida. Por ser precisamente filho de CRONOS & RÉIA, HADES tem tudo cronometrado. Não adianta querer enganá-lo. Como os vários citados, SÓCRATES não foi sábio. Foi egoísta, isto sim, e mais ainda - desalmado,  posto sua malvada prova ser colada mundo afora. Nota zero na Física, e duplo zero na metafísica.
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* Nota - Enquanto a vizinha glorificava a brutalidade física de seus estereotipos, Atenas se preocupava com o etéreo. Acompanhe a bela narrativa de HENRY THOMAS:
VAMOS a um teatro grego. Mas para isso, devemos ir de manhã bem cedinho, porque as representações gregas começavam, não logo depois do pôr-do-sol, mas imediatamente em seguida à madrugada. Muito tempo gastaremos para chegar ao teatro, porque há nada menos de 20.000 pessoas que se dirigem para o mesmo lugar — um público quase tao numeroso como a multidão de "fans" de uma moderna partida de baseballl. Para os gregos era o teatro um dos favoritos esportes do ar livre. O teatro grego era um edifício sem cobertura. Construíam-no na encosta duma colma, com o céu azul por telhado.

Estamos agora no teatro ateniense, na Acrópole. Em torno de nós, se acha a imensa e barulhenta multidão de gregos folgazões e acima, no topo da colina, erguem-se as tranquilas estátuas dos deuses, que parecem ter descido dos céus para formar íntima parte da assistência. Entrámos pela passagem entre o auditório e o palco. Escolhemos um lugar no alto, porque dessa posição podemos ver tão bem os espectadores quanto os atores. Os espectadores formam uma multidão irrequieta, turbulenta, bem humorada. As representações vão durar de manhã à noite, e assim todos trataram de trazer consigo sua comida. O ar está saturado de acre odor de ervilhas cozidas, salsichas, azeitonas em conserva, queijo e alho. É sem dúvida um tanto incômodo para nosso olfato moderno, mas não podemos negar que era assaz picante e apetitoso. Os lugares mais altos foram-se enchendo pouco a pouco. Os mais baixos, porém, estão ainda vazios. Reservam-se para a nobreza e os nobres, como sabeis, gostam de dormir até mais tarde. Mas agora, afina!, os aristocratas estão começando a chegar. À proporção que cada um entra, a multidão se ergue, assobiando, vociferando e batendo com as mãos. Mas também, quando acontece chegar algum personagem impopular, ficamos surpresos em ouvir um barulho que se assemelha estranhamente à nossa "torcida". Os antigos gregos pareciam exigir de seus aristocratas não só uma origem nobre, mas também um caráter nobre.
O preço de entrada de um teatro grego era de cerca de Cr$ 1,20. Por esse preço, compravam-se dois bilhetes que davam, direito, a assistir às representações durante dois dias inteiros. Mas supondo que não se tivesse dinheiro. Ficar-se-ia privado de ir ao teatro? De certo que não. O governo grego promulgara uma lei um tanto curiosa, que favorecia os cidadãos amantes do teatro, mas sem meios de comprar entradas. Antes de cada representação, todos os cidadãos de Atenas recebiam do Estado a quantia de Cr$ 1,20. Essa espécie de liberalidade, por parte dum governo moderno, provavelmente esgotaria o tesouro, no período de uma única temporada teatral. A temporada teatral em Atenas era, porém, felizmente muito curta. Durava apenas dois dias no inverno e dois dias na primavera. (www.consciencia.org/a-literatura-da-grecia-e-de-roma#comment-9509)


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