terça-feira, 31 de agosto de 2010

A utopia da justiça social

Sentados lado a lado, os índios parecem se apresentar em iguais condições. Não é verdade, contudo. As predisposições, (e expectativas) são dissonantes. Veja que uns adornam a cabeça, outros não. Nenhum adereço é igual ao outro. Uns tem joelhos no vermelho, outros no azul. Nos braços as cores também variam, como de resto nos pés. Embora olhem para a mesma direção, a postura de cada um é divergente. E não há dinheiro em jogo.
 A comunidade fala-lhe com uma mesma voz, mas cada indivíduo fala partindo de um ponto de vista diferente; no entanto, estes pontos de vista estão em relação com a actividade social cooperativa e o indivíduo, ao assumir sua posição, encontra-se implicado, devido ao próprio carácter da sua resposta, nas respostas dos outros. HERBERT, A filosofia do ato: 153; cit. ABBAGNANO: 29  

Não há igualdade entre os homens, tampouco no reino animal, vegetal, ou até no mineral. Se a procurarmos na teia cósmica, sequer nos anéis de Saturno. "Um universo físico requer diversidade. A matéria não pode se formar sem diferenças." (Shelton: 170.) Mais óbvio, impossível. A matéria não é estática, nem intrínsecamente, mas evolutiva, par excellence. É mutante. A flecha do tempo se distancia de si mesma. Nós mesmos não somos iguais a ontem. Tudo flui, dizia Heráclito. O universo é tecido com a mais estranha diversidade, e a riqueza da Terra aí reside; no entanto, ardemos de paixão pela justiça, pela igualdade.
A nova ordem mundial de justiça social e da camaradagem, o estado racional e sem classes, não é um desvairado sonho idealista, mas uma extrapolação lógica a partir de todo o curso da evolução, que não tem menos autoridade do que aquela que o precedeu é portanto de todas as crenças a mais racional. NEEDHAM, J. cit. HAYEK, F.A.: 83
Camaradagem se assenta na conveniência, que pode ser tolerante, enquanto a obssessão por justiça requer precisão; portanto, sempre improvável.
A Teoria da Evolução dá-se produto dialético, síntese do confronto de forças. A ordem em prêt-à-porter sugerida mantém o vício redibitório pelo artifício da metafísica. Tal como ao vitoriano  Stuart Mill, (cit. BOBBIO, N., Democracia e Liberalismo: 71), por exemplo, 
Nenhuma comunidade jamais conseguiu progredir senão aquelas em que se desenvolveu um conflito entre o poder mais forte e alguns poderes rivais; entre as autoridades espirituais e as temporais; entre as classes militares ou territoriais e as trabalhadoras; entre o rei e o povo; entre ortodoxos e os reformadores religiosos
Racional deriva de ratio. Significa ratear, dividir. Aí mora o perigo. Ao discriminar beneficiados, penalizados, as classes, enfim,  o governo fere o princípio mais elementar da justiça social que diz perseguir. Doravante já não são todos iguais perante a lei, mas de acordo a classe arbitrada. Pior ainda a classe é postada como biombo às falcatruas. "Com a mesma falta de escrúpulos, tendo o poder nas mãos, manipula igualmente as carências dos mais necessitados e dos ressentidos." (Ferreira Gullar) Eis o melhor ideal que a cabeça de Stálin poderia conceber.
De fato, é como as nações modernas estivessem repetindo cegamente o erro que foi fatal para as cidades gregas, dois mil e quinhentos anos atrás. Por mais incongruente que isso possa parecer, minha impressão é de que a peça que estamos encenando já foi montada na Grécia, na época do nascimento da filosofia socrática. É que, desde Platão, as coisas praticamente não mudaram. É como se a espécie humana não pudesse escapar da mediocridade de seu destino. SAUTET, M. 2006: 15
A faina por justiça social afasta de si mesmo a possibiidade almejada; "A viciosidade peculiar do racionalismo é que ele destrói o próprio conhecimento que possivelmente viria salvá-lo de si próprio." (FRANCO, P., cit. GIDDENS, A.: 39).
Dessarte o estado ideal apregoado não passa de "falsidade ideológica.", no fito de domínio social. Ele é o primeiro a apartar, a segregar, a dividir em classes. Quanto mais divisões, mais fragilizada a sociedade, e mais fortalecido quem lhe comanda. Esta é a técnica platônica, levada e ampliada por platônicos palimpsestos acoplados pela indiana de Maquiavel, Descartes, Hobbes, Rousseau, Bentham, e Marx.  
Tudo depende, portanto, de se fazer com que os súditos acreditem que o governo é bom e justo, e de os cidadãos sentirem-se felizes em obedecer às suas ordens - daí todo conjunto de medidas draconianas, aniquiladoras de toda liberdade de pensamento, sugeridas por Platão tanto na República quanto nas Leis, a fim de produzir e conservar nos súditos essa crença. KELSEN: 50
"Não existe tirania mais cruel do que a exercida à sombra da lei e com uma aparência de justiça, quando, por assim dizer, os infelizes são afogados com a própria prancha em que tinham sido salvos." (MONTESQUIEU: 109)
O planejamento em escala abrangente é uma impossibilidade epistêmica. 
GRAY, J., cit. GIDDENS, A.: 80
O que governa a dinâmica da natureza, inclusive em seu aspecto mais material, na física, não é uma ordem rígida, predeterminada. Nem tampouco uma dialética entre contrários em luta, que leve a síntese, até que se produza uma nova antítese, como na visão dialética marxista rechaçada também pela genética, segundo diz MONOD. É precisamente uma interação - que já existe nos níveis materiais mais elementares entre o aspecto onda e o aspecto corpúsculo - o que impulsiona a dinâmica da natureza. Assim o mostram as relações de mecânica ondulatória, que explicou LOUIS DE BROGLIE, síntese genial que tornou possível, como diz RUEFF, uma filosofia quântica do universo, aplicável não somente às ciências físicas, senão também a todas as ciências humanas. GOYTISOLO, J. V.,  Interações
O estudo de como surge a ordem, não em conseqüência de um decreto de cima para baixo da autoridade hierárquica, seja política ou religiosa, mas como resultado de auto-organização por parte de indivíduos descentralizados é um dos acontecimentos mais interessantes e importantes de nossa época. KELSEN, H., A democracia: 140. 
Do marxismo à democracia o fito da igualdade move a comunidade. . Aquele buscou atingi-la com fuzis. Não deveria tentado: se E=Mc², o materialismo não tem, sequer, objeto! Até o muro desapareceu. Não há o quê abordar. E quanto a sobrevivente, quase unanimidade, o mais reverenciado jurista do século XX tardou trinta anos, mas reconheceu a mais notável diferença: “É o valor de liberdade e não o de igualdade que determina, em primeiro lugar, a idéia de democracia.” (Kelsen: 141)
Se Kelsen e alguns outros tardaram tres décadas, os russos necessitaram setenta anos para sair do engôdo. Na implosão o que se viu foi uma casta encastelada, a Nomenklatura dissipando-se no buraco-negro do blefe. A Perestroika significava a (re) ascenção do paradigma iluminista: “É também extremo respeito pelo indivíduo e consideração pela dignidade pessoal (GORBACHEV: 36) A faina social era utópica, e como tal, estéril: “Aparentemente a desigualdade – não a igualdade – é uma condição natural da humanidade.” (DAHL: 77)
Na cadência marcial, todavia, ainda marcha a civilização, ao gáudio de PUTINS e afins:
Ser da esquerda é, como ser da direita, uma das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser imbecil: ambas, com efeito, são formas da hemiplegia moral. A história está cheia de retrocessos nesta ordem, e talvez a estrutura da vida em nossa época impeça superlativamente que o homem possa viver como pessoa.
ORTEGA Y GASSET, A rebelião das massas: IV

A Rússia atual foi transformada por uma oligarquia oportunista, corrupta e sanguinária em um lugar aonde as políticas fascistas vêm sendo esticadas ao limite, com intensidade multiplicada se comparadas com as ofensivas anti-povo empreendidas em outras partes do mundo, em especial naqueles países que os papagaios da pirataria financeira costumam chamar de 'emergentes'. Ali mesmo, onde um dia bateu o coração da União Soviética revolucionária. Para nós, tomar conhecimento da realidade dos trabalhadores russos é sim uma questão de solidariedade, mas também de saber bem até onde podem chegar os esforços de aniquilação movidos pelos inimigos do povo. Ainda mais agora, que os demagogos do lado de cá do mundo, como Chávez e Lula, estão convidando gente como Dimitri Medvedev e toda a máfia russa para fazer negócios na América do Sul.  SOUZA, H.R.C., Um preocupante retrato da Rússia atual. www.anovademocracia.com.br
Qualquer eleição é uma espécie de jogo, como o de damas ou o gamão, com um ligeiro matiz moral, um jogo com o bem e o mal, com questões morais, e as apostas a acompanham naturalmente. O caráter dos eleitores não é comprometido. Até mesmo votar pelo direito não é fazer alguma coisa por ele. É apenas expressar timidamente aos homens o nosso desejo de que ele prevaleça. Há muito pouca virtude nas ações das massas de homens.
THOUREAU, H., cit. Downs: 76
É pior:
Um homem vota em um partido e permanece infeliz; ele conclui que era o outro partido que traria o período de felicidade e prosperidade. No momento em que estivesse desencantado com todos os partidos, já seria um homem idoso, à beira da morte. Seus filhos teriam a mesma crença de sua juventude, e a oscilação contínua.
RUSSELL, Bertrand, Ensaios céticos: 121.
Ao venerar a condição primaz, o cidadão deixa de ser. Ele ignora o papel do Estado, ainda que o tome por uma grande coisa. A gente crê em qualquer futuro pintado:
Em muitos Estados do Terceiro Mundo, o assim chamado povo soberano não é nada. Ou quase nada. Fica à margem ou ausente do jogo político, limitado a um círculo restrito. Chamam-no somente para ratificar, plebiscitar e aplaudir. [...] Sobretudo por ocasião das eleições presidenciais. (Schwartzenberg: 320)
A democracia fala de um governo comandado pelo povo e sujeito às suas leis; na realidade, entretanto, os regimes democráticos são dominados por elites que planejam maneiras de moldar e dobrar a lei a seu favor .(Pipes:251)

A massa se rege por sentimentos, emoções, preconceitos, como a psicologia social já demonstrou exaustivamente. A opinião das massas formando a opinião pública será por conseqüência irracional. Não se iluda o publicista democrático a esse respeito, cunhando a expressão agora uso corrente no vocabulário político da propaganda: o ‘estereótipo’, ou seja o ‘clichê’, a ‘frase feita’, a idéia pré-fabricada, que se apodera das massas e elas, numa economia de esforço mental, como diz Prelot, aceitam e incorporam ao seu ‘pensamento’, entrando assim a constituir a chamada ‘opinião pública’. BONAVIDES, P.:459.
"Quanto mais facilmente os eleitores acreditarem nas forças mágicas do Estado, tanto mais estarão dispostos a votar a favor do candidato que promete maravilhas. (Sorel: 145) "Mas quando o legislador é finalmente eleito – ah! Então o seu discurso muda radicalmente [...] o povo que durante a eleição era tão sábio, tão cheio de moral, tão perfeito, não tem mais nenhuma espécie de iniciativa." (Bastiat: 59)
Torna-se communis opinio que quem detém o poder e deve continuamente resguardar-se de inimigos externos e internos tem o direito de mentir, mais precisamente de ‘simular’, isto é, de não fazer aparecer aquilo que existe, e de ‘dissimular’, isto é, de fazer aparecer aquilo que não existe. Bobbio, N.: 372
No tempo de Russell ainda podia haver alguma alternância. Ora, contudo, não:
Sempre que penso nas alianças e disputas na política libanesas, me lembro do filme 'O Poderoso Chefão'. Inimigos se tornam aliados, antigos amigos passam a se matar e, após inúmeras baixas, todos se sentam à mesa para definir a nova divisão do poder. CHACRA, Gustavo, Diário do Oriente Médio http://blog.estadao.com.br/blog/chacra
O comerciante está convencido de que a lógica é a arte de provar à vontade o verdadeiro e o falso; foi ele que inventou a venalidade política, o comércio de consciências, a prostituição dos talentos, a corrupção da imprensa. Sabe encontrar argumentos e advogados para todas as mentiras, todas iniquidades. Somente ele nunca se iludiu sobre o valor dos partidos políticos: julga-os todos igualmente exploráveis, isto é, igualmente absurdos...
PROUDHON, P.-J., Filosofia da Miséria, Tomo I: 351.
"O intervencionismo – definido como uma forma mais branda de socialismo, ou como social-democracia – também leva a resultados trágicos no longo prazo." IORIO, Ubiratan, J. Keynes, entretanto, o grande "economista" da "social" democracia, apreciava lembrar que a longo prazo estaríamos todos mortos. Edgar Morin (Compreender não é preciso; in Martins e Silva: 30) descreve a ironia:
Assim, a economia, a ciência social matemáticamente mais avançada, é também a ciência social e humanamente mais fechada, pois se abstrai das condições sociais, históricas, políticas, psicológicas, ecológicas, etc., inseparáveis das atividades econômicas. Por isso, os seus experts são cada vez mais incapazes de prever e de predizer o desenvolvimento econômico, mesmo a curto prazo.
Ocorre o bizarro, denunciado no meio do barbarismo soviético, mas antes do nazista começar a devastação:

A teoria em sentido tradicional, cartesiano, como a que se encontra em vigor em todas as ciências especializadas, organiza a experiência da vida dentro da sociedade atual. Os sistemas das disciplinas contêm os conhecimentos de tal forma que, sob circunstâncias dadas, são aplicáveis ao maior número possível de ocasiões. A gênese social dos problemas, as situações reais, nas quais a ciência é empregada e os fins perseguidos em sua aplicação, são por ela mesma consideradas exteriores.
Encerramos com as surreais constatações de BASTIAT (p.:33)

A lei só será um instrumento promotor da igualdade se tirar de algumas pessoas para outras pessoas. E nesse momento ela se torna instrumento de espoliação.
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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Educação faz mal à saúde?



O ministro da Educação, Fernando Haddad chamou atenção para o aumento de 140 mil analfabetos entre as pessoas com mais de 25 anos, especialmente no Sul e no Sudeste, o que para ele não é "algo compreensível". Segundo ele, é como se pessoas que se declararam alfabetizadas em um ano se declarassem analfabetas no ano seguinte.
Não há quem não exija educação. Dizem ser obrigação do Estado ministrá-la, tanto quanto organizar redes de assistência médica gratuita aos necessitados. A república criou extensas pontes educacionais.
A Politécnica também produzia empresários, equipados com sobrenomes que convinha, e tinha os contratos necessários para obter as licenças, autorizações e concessões especiais para seus projetos. Este tipo de empresário era, decididamente, um defensor da iniciativa privada, mas só tinha condições de se desenvover à sombra do Estado. www.anpocs.org.br
Somos obrigados à escola, sob pena de prisão aos pais relapsos. Universidades federais, estaduais, e religiosas oferecem até mesmo cursos superiores on-line. O país mais católico do mundo cuida da educação de seu povo. O que apuramos?
O brasileiro, mesmo das grandes cidades, não sabe, nem remotamente, quanto pagamos de impostos. Não sabe mesmo quanto é descontado no contracheque. Nem muito menos, claro, o que sai embutido no preço dos produtos. DIMENSTEIN, Gilberto, Somos uma nação de idiotas? - Folha, 23/8/2010
O Globo informa: "O brasileiro, além de arcar com uma carga de impostos que come 36,8% da economia do país, carrega no orçamento mais 40 taxas por ano." (30/1/2010)
Vou nomear guardas para as águas, as florestas, os campos, e as minas e as estradas; vou enviar coletores de impostos e preceptores para a infância; vou montar um exército contra os refratários, tribunais para julgá-los, prisões para puni-los e padres para amaldiçoá-los. Todos esses empregos serão entregues ao proletariado e serão pagos pelos homens do monopólio. Proudhon, P.-J., Filosofia da miséria, Tomo I: 270.
Uma enxurrada de leis, e decretos, e códigos penais, e delegacias, polícias militares e civis, e ministérios, e órgãos judiciais, e peritos, e tudo o mais, protegem os cidadãos contra a perversidade, dos semelhantes.
Entre os pontos destacados pelo ministro, estão as medidas de reestruturação que ampliam o poder de polícia nas fronteiras, como o aumento de 21 para 49 no número de pelotões e a criação de batalhões de operações da Marinha nos Estados de Mato Grosso, Amazonas e Pará. As mudanças incluem ainda a criação de 488 novos cargos para a nova estrutura do Estado-Maior das Forças Armadas. O impacto previsto para o orçamento é de R$ 18,9 milhões. Este foi o tema foi o tema da palestra de Jobim na abertura do 7º Congresso Acadêmico sobre Defesa Nacional, que ocorre até a próxima sexta-feira na Escola Naval, na Ilha de Villegagnon, na Baía de Guanabara.
Dizem que o homem é o lobo do homem, e portanto alguém tem que proteger o mais fraco. De fato, crimes de toda espécie se proliferam em escala geométrica, em especial nas capitais, onde crianças e mulheres tem sido constantes vítimas. O coro é por Justiça, Leviathan atende:
O curso de Direito é e deve ser para a massa.
Secretária de Ensino Superior do Ministério da Educação
BUCCI, Maria Paula Dallari Bucci, in Conjur - 22/4/2009
É muita ignorância.
Ao especializar o cidadão, a civilização o tornou hermético e satisfeito dentro de sua limitação; mas essa mesma sensação íntima de domínio e valia o levará a querer predominar fora de sua especialidade. E a conseqüência é que, ainda neste caso, que representa um maximum de homem qualificado - especialismo - e, portanto, o mais oposto ao homem-massa, o resultado é que se comportará sem qualificação e como homem-massa em quase todas as esferas da vida GASSET, Ortega Y, A rebelião das massas: 56
Um GISCARD D'ESTAING (Democracia Francesa: 52) bem compreenderia...“Os países do terceiro mundo não têm muita escolha, devem pensar e agir em termos de massas. Alimentá-las, vesti-las, educá-las, constitui tarefa prioritária, pouco espaço deixando ao indivíduo.”... Mas jamais aplicaria: “Uma concepção coletivista da organização social, dominada pela noção de massa, é o oposto da evolução almejada por nossa sociedade.” (Idem, ibidem.)
Muitos que exigem educação, e cotas e tal, passam o período colando tudo.
O principal propósito da minha apresentação é provar aos senhores que não se está ensinando ciência alguma no Brasil! Não consigo entender como alguém pode ser educado neste sistema de autopropagação, no qual as pessoas passam nas provas e ensinam os outros a passar nas provas, mas ninguém sabe nada.  FEYNMAN, Richard P, O Senhor está brincando, sr. Feynman?
O sistema educacional do Brasil está em desarranjo. Nos testes de desempenho acadêmico realizados a cada três anos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com jovens de 15 anos de 57 países, os estudantes brasileiros ficaram na quarta pior colocação em ciências e na terceira pior em matemática. Falta de mão-de-obra ameaça crescimento do Brasil, diz 'NYT'; Estadão, 2/7/2008
Todos ganham canudo de educados. Resulta o contrário:
Os médicos precisam ficar em dia com a própria saúde. Pesquisa do Conselho Federal de Medicina (CFM), realizada com 7.700 profissionais, revela que quase metade deles apresenta quadro preocupante de transtornos psicológicos. Quarenta e quatro por cento sofrem de depressão ou ansiedade. E a grande maioria, 57%, tem estafa e desânimo com o emprego. Estadão, 21/6/2008
Que vantagem é essa?
Um quarto dos cursos superiores das áreas de ciências da saúde e agrárias vai passar por uma vistoria do Ministério da Educação durante o próximo ano. O resultado do Exame Nacional do Desempenho do Estudante (Enade), divulgado pelo MEC, mostra que 508 cursos não conseguiram ir além de notas 1 e 2 no Conceito Preliminar do Curso (CPC), o novo instrumento utilizado pelo ministério para avaliar as instituições. Estadão, 6/8/2008
O que você diria hoje do grande número de estudantes que consideram o saber como meio utilitário, como um meio de se tornarem uma engrenagem na máquina econômica e social? Os estudantes da máquina de que você fala fazem o que lhes mandam fazer. Adultos construíram essa máquina, essa ratoeira, esse labirinto.Num labirinto onde os ratos se perdem, as pessoas não dizem, ao observá-los 'os ratos estão loucos'; dizem 'construiu-se um labirinto para deixar os ratos loucos'. Em muitos países, o ensino foi construído para deixar os estudantes não muito felizes. SERRES, Michel, De duas coisas, a outra; cit. DERRIDA, J.: 67
Essa educação propalada massificada como quer a secretária, ainda mais difundida de modo especializado, como requer a produção, é prejudicial até mesmo aos maiores experts da categoria qua funcionária pública quer acessível ao chão-de-fábrica:
Para o Judiciário, analfabeto em economia, um marco era um marco,independentemente de quantos zeros aparecessem na nota. LEVENSON: 325
Não é suficiente ensinar a um homem uma especialidade. Através dela ele pode tornar-se uma espécie de máquina útil mas não uma personalidade desenvolvida harmoniosamente. A sobrecarga necessariamente leva à superficialidade. EINSTEIN, A., cit. PAIS, Abraham, Einstein viveu aqui: 271
Outros buscam instrução até no exterior para chegar no topo, e com isso realizam grandes golpes. Título de Sorbonne dá credibilidade a formidáveis falcatruas.
O momento mais dramático do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso ocorreu no dia 13 de janeiro de 1999... O então presidente do Banco Central, o economista Francisco Lopes, vendia informações privilegiadas sobre juros e câmbio – e uma parte de sua remuneração saía da conta número 000 018, agência 021, do Bank of New York. A conta pertencia a uma empresa do Banco Pactual, a Pactual Overseas Bank and Trust Limited, com sede no paraíso fiscal das Bahamas. Veja, 23/5/2001
Mensalões e dólares nas cuecas divertem todos os níveis. Trata-se de fenômeno social, sem dúvidas. No contingente, o qual não dimensiono o tamanho, mas o constato a cada dia mais engrossado, não há nenhum analfabeto.
A fome pelo sucesso – fama e dinheiro – entre os jovens que buscam cursos superioes mostra um quadro de desesperança na honestidade e um imediatismo material e narcisista disposto a qualquer custo... Trata-se dos discentes considerarem completamente inúteis e inaplicáveis conceitos como tecido social, cidadão, democracia, cidadania, moralidade, justiça, justo e bem comum. WIEGERINCK, João Antonio, Honestidade precisa ser moda 12/1/2010
É fascinante, e assustador, ver pessoas educadas e delicadas se transformando em bestas boçais cuspindo fogo e soltando coices verbais por um jogo de futebol. Filmados, não se reconheceriam. Reconhecidos, se vexariam. Mas é mais forte do que eles. Na faculdade, já achava meio ridículos os debates acalorados nas assembleias estudantis, movidos a slogans, palavras de ordem, acusações, bravatas e ameaças. E não raro, força bruta e intimidação. MOTTA, Nelson, Paixões perigosas 29/8/2010
Daí, o homem é educado, preparado ou adestrado apenas para as virtudes próprias do bem-fazer; e assim, a verdade se torna a simples manifestação da utilidade ou do deleite. A dimensão do contemplativo é aniquilada; e falar em atualizar as potencialidades do ser humano para o bem-agir, para a virtude da prudência, torna-se uma atitude disparatada já que, em tal concepção, jamais há um sentido de 'bem honesto' .Logo, pela força do empenho pedagógico tecnicista o homem se afasta de sua humanidade, perde sua integridade. ARAÚJO, Prof. Adriano, A primazia do uso consciente da tecnologia, 20/9/2009

É o que dá o Congresso despir-se de suas prerrogativas, a oposição não funcionar, a sociedade se alienar, a universidade se calar, a cultura se acovardar, o Ministério Público se intimidar e a Justiça demorar a decidir: perde-se a referência do que seja certo ou errado. KRAMER, Jornalista Dora, Estadão, 18/9/2010


Estou cada vez mais convicto de que hoje o verdadeiro perigo reside nas legiões de arquitetos jovens e anônimos que saem dos bancos universitários empenhadíssimos em arquitetar para nós um futuro mais justo e mais feliz.
BORGES, Antonio Fernando, Arquitetando um outro mundo possível, 31/8/2010
A pergunta que se impõe é a seguinte: que tipo de educação se ministra neste país? O presidente, que nunca adentrou no recinto, ri, e o rodeio exulta. "Quem é corintiano está feliz como eu, vendo o Ronaldão magro e jogando bola" (30/8/2010)
E sem oposição e uma consciência de limites do poder, vamos ter um longo campeonato no qual haverá apenas um campeão. No esporte, isso representa o fim do próprio jogo. Na vida pública, isso significa o fim da política como ação social e o início de um domínio à la Casa-Grande & Senzala: repleto de confraternizações e agregados... Ele é a dramatização de si mesmo como um operário sem escolaridade e 'diploma', como sempre enfatiza, do mesmo modo que provoca dizendo que tem azia quando lê." DA MATTA, Roberto, O Estado de S.Paulo, 1/9/2010
"Sobre a possibilidade de estar 'na torcida' por novas reduções da taxa de juros, Lula disse: 'Eu não acho nada. Eu, apenas, quando sai o resultado, festejo ou lamento'." (Estadão, 21/7/2009)
No acumulado dos últimos 12 meses, a produção industrial tem retração de 8,9%, o que configura o pior desempenho da série histórica. O setor de bens de capital foi o mais afetado... com redução de 25,7% na produção. Folha, 2/10/2009

Na sua rápida intervenção feita no 7.º Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o presidente da Fiesp, Benjamin Steinbruch, advertiu para o risco de forte desindustrialização no Brasil... O professor José Luis Oreiro, da Universidade de Brasília, está convencido de que está em curso um processo de desindustrialização. Estadão, 30/8/2010


O lucro dos bancos no Brasil superou o resultado de todos os outros setores da economia juntos no terceiro trimestre, segundo pesquisa da consultoria Economática. Folha de São Paulo, 24/11/2008
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Eu pedi ao Papa que nos seus pronunciamentos ele fale da crise econômica, pois, se todo o domingo o papa der um conselhozinho, quem sabe a gente encontra mais facilidade para resolver o problema. SILVA, Luis da, Presidente do Brasil, Estadão, 13/11/2008
O desportista e sua turma se mostram hígidos, saúde perfeita. Tenho a impressão de que a educação lhes faria mal. Muito mal.
O que eles não se conformam [é] que um metalúrgico fez mais universidades que todos os presidentes elitistas que passaram por este país e geramos quase 15 milhões de empregos com carteira profissional assinada. O que eles não se conformam é que os pobres não aceitam mais o tal do formador de opinião pública. Eles não se conformam é que os pobres estão conseguindo enxergar com os seus olhos, pensar com a sua cabeça, pensar com sua consciência, andar com as suas pernas e falar com sua boca. Não precisam do tal de formador de opinião pública. Nós somos a opinião pública e nós mesmo nos formamos.Folha, 18/9/2010
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domingo, 29 de agosto de 2010

O governo e a felicidade geral


A ética dominante na História da Humanidade foi uma variante da doutrina altruísta-coletivista, que subordinava o indivíduo a alguma autoridade superior, mística ou social. Conseqüentemente, a maioria dos sistemas políticos era uma variante da mesma tirania estatista, diferindo apenas em grau, não em princípio básico, limitada apenas pelos acidentes da tradição, do caos, da disputa sangrenta e colapso periódico.
RAND,
A.,: 118.

Há cem anos, viveu um filósofo chamado Jeremy Bentham, universalmente conhecido como um homem muito perverso. RUSSELL, B., 2008:103
Em nome do progresso humano, Marx provavelmente causou mais mortes, miséria, degradação e desespero que qualquer outro homem que já tenha vivido.
DOWNS, ROBERT BINGHAM: 101
. A pressuposição utópica requer processo de manipulação extrínseca.

Era uma questão tanto de sobrevivência quanto de política: uma panacéia que, pelo voto do trabalhador e pela transformação radical do Parlamento, proporcionaria ao trabalhador muitos assados, muito pudim de ameixas e cerveja forte, com três horas de trabalho diário.
RUDÈ, George:196.
Uma vez criada essa ordem econômica perfeita, estaria ainda o homem na mesma disposição em relação aos seus antigos ideais? Saciado, iria apenas dormir?
Felicidade não é lógica propriamente, porque é impossível ser feliz na forma. Felicidade é um fenômeno histórico, circunstanciado, ambientado, sem regras fixas, sem ritos inamovíveis. É surpresa. É só momento. Felicidade extensa é monotonia. Por isto, diz o poeta popular, o amor é eterno enquanto dura. Cientificamente isto é besteira, porque não cabe na lógica. Mesmo assim, é real, porque a eternidade do amor está na sua intensidade necessariamente momentânea e por isso de vibração avassaladora, por vezes paroxista, não na repetição monótona, chata, quadrada de algo que se torna rito. A ciência, por razões de método, apreciaria que a felicidade se debulhasse na monotonia repetitiva, porque nada mais mensurável é captável do que isto. Mas aí teríamos de preferir ciência à vida.
DEMO, Pedro, Ciência, Ideologia e Poder, Uma Sátira as Ciências Sociais: 58
O ferrenho socrático assegura que o indivíduo tem alma, que não se satisfaz com o produto da Terra. Nada adianta tornar o corpo gordo se esvaziar a essência. Entre entre eles, leva mais chance o etéreo, o abstrato, o espirito,apto a viajar pelo EspaçoTempo, ainda que ninguém saiba ao certo onde se poderá ir.
A turma mais equilibrada busca no conhecimento, nas experiências passadas o esteio pelo qual pode confiar. De novo costuma aflorar o paradoxo. Ele geralmente não aponta o rumo certo, mas demonstra que nossa direção está completamente equivocada. Para tentar elidir a sina, os inconformados juntam equações, para da balança colherem maior certeza:
"A crença fundamental dos metafísicos é
a crença na oposição de valores." (NIETZSCHE, Além do bem e do mal: 1
Nada mais enganador:

“Uma verdade superficial é um enunciado cujo contrário é falso".
(NIELS BOHR cit. DESCAMPS, C.: 103)
Por causa disso, e de outros, muitos se tem incapazes, outros temerosos, e não poucos ainda supõem na força conjugada e concentrada o elevador de acesso ao pasto-verde.
O tipo reza que se deva unificar o disperso, assim eliminando a confusão de idéias através de único feixe, por isso, mais objetivo.

O que caracteriza os primeiros estudos sobre a sociedade é, precisamente, um ponto de vista finalista e normativo: finalista, isto é, tendo unicamente em consideração o ideal a realizar, a investigação do que deve ser a 'melhor' organização social e política; normativo, quer dizer, a preocupação imediata de estabelecer normas, regras de ação para a vida coletiva. É este, particularmente, o ponto de vista dos filósofos. Bastará recordar, quanto à antiguidade, a República e as Leis de Platão, a Política de Aristóteles...
CUVILLIER, A., Introdução à Sociologia – OS PROBLEMAS SOCIOLÓGICOS
Se o rumo for do precipício, a realização suicida?
Estado, chamo eu, o lugar onde todos, bons ou malvados, são bebedores de veneno; Estado, o lugar onde todos, bons ou malvados, se perdem a si mesmos; Estado, o lugar onde o lento suicídio de todos chama-se – 'vida'!
NIETZSCHE, F., Assim falava Zaratustra
No entanto, continua a promoção dos tickets ao reino de HADES, sem a menor cerimônia:
É o Estado quem deve educar os cidadãos para a vida civil, tornando-os conscientes de sua missão, e convidando-os à unidade; harmoniza-lhes os interesses na justiça; transmite as conquistas do pensamento, nas ciências, nas artes, no direito, na humana solidariedade; conduz os homens, da vida elementar da tribo, à mais alta expressão humana de poder, que é o Império; conserva para os séculos o nome dos que morreram pela sua integridade ou para obedecer às suas leis; indica como exemplo, e recomenda às gerações que vierem, os capitães que o acresceram de território e os gênios que o iluminaram de glória. Quando declina o senso do Estado e prevalecem as tendências dissociadoras e centrífugas dos indivíduos e dos grupos, as sociedades nacionais se dirigem para o ocaso.
MOURA, G. de Almeida, O Fascismo Italiano e o Estado Novo Brasileiro. - www.ebooksbrasil.org/eLibris/fascismoi

Para esses o Estado é o único agente de felicidade; ele lhes proporciona segurança, prevê e supre suas necessidades, facilita-lhes os prazeres, manipula suas principais preocupações, dirige as indústrias, regula a transmissão de propriedades e subdivide as heranças - o que resta senão poupar-lhes todo o cuidado de pensar e a preocupação de viver?
TOCQUEVILLE, A., cit. FERGUNSON, M.: 184
A máxima mereceria o galardão se o conceito fosse extensivo, tivesse valor comum. O caso, todavia, é outro: ao se perfilar com a tal Vontade Geral, na verdade vontade de um, vendida como racional, a vontade do súdito não é diretamente esfacelada, mas amaciada, dobrada e guiada. O poder não tiraniza, mas oprime, entorpece o povo. A nação vira um rebanho de animais trabalhadores e tímidos, dos quais o governo é o pastor. E os pastores, nestas épocas eleitoreiras, que mais precisariam prometer além da Terra Prometida?
E dê-lhe ilusão:

Na construção de sua utopia, o engenheiro social substitui a vontade das pessoas pela sua própria vontade. A humanidade se dividiria em duas classes: de um lado, o ditador todo-poderoso e, do outro, os tutelados, que ficam reduzidos à condição de meros peões de um plano ou engrenagens de uma máquina. Se isto fosse possível, o engenheiro social não precisaria preocupar-se em compreender as ações das demais pessoas. Teria ampla liberdade de lidar com elas, como a tecnologia lida com madeira e ferro.
VON MISES, Ação Humana - Um Tratado de Economia: 112
EDGARD MORIN
(Compreender não é preciso; in MARTINS E SILVA: 30) descreve a ironia:

Assim, a economia, a ciência social matemáticamente mais avançada, é também a ciência social e humanamente mais fechada, pois se abstrai das condições sociais, históricas, políticas, psicológicas, ecológicas, etc., inseparáveis das atividades econômicas. Por isso, os seus experts são cada vez mais incapazes de prever e de predizer o desenvolvimento econômico, mesmo a curto prazo.
Economia é o que menos vem ao caso. Interessa-lhes a outra máxima:
Por isso um príncipe cauteloso deve conceber um modo pelo qual os seus cidadãos, sempre e em qualquer situação, percebam que ele e o Estado lhes são indispensáveis. Só então aqueles ser-lhe-ão sempre fiéis.
MAQUIAVEL, N., O Príncipe, D' ELIA, Antônio: 15.
Os pupilos do amigo-da-onça, de BÓRGIA a GETÚLIO VARGAS, MUSSOLINI e HITLER , e outros mais moderninhos, e mais os que virão, obtém o pior desfecho que pode se esperar.
O que se deseja apenas é a chance de tentar ser fe
liz. Cada qual a seu modo:

..... o Sonho Americano, aquele sonho de uma terra em que a vida deve ser melhor e mais rica e mais plena para todos os homens, com oportunidade para cada um segundo sua capacidade ou realização. É um sonho difícil para as classes superiores européias interpretarem adequadamente, e muitos de nós mesmos temos desconfiado dele. Não é um sonho de automóveis e altos salários apenas, mas um sonho de uma ordem social em que cada homem e cada mulher devem ser capazes de atingir a maior estatura da qual eles são naturalmente capazes, e serem reconhecidos pelos outros pelo que eles são, independentemente das circunstâncias fortuitas de nascimento ou posição. ADAMS, James Truslow, The Epic of America, 1931. Cit. www.mises.org.br/Article.aspx?id=763, 26/10/2010
Não por acaso EINSTEIN (New York Times, 22/11/1931, cit. PAIS , Abraham, Einstein viveu aqui: 205) enfatizou:
“Creio que a missão mais importante do Estado é proteger o indivíduo e possibilitar que ele desenvolva uma personalidade criativa. O Estado deveria ser o nosso servidor; nós não deveríamos ser escravos do Estado."
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Borderline eleitoral

A classe política brasileira faz
piquenique na beira do precipício.

HIPPOLITO, Lucia, O Globo, 20/4/2009
Não há dúvidas sobre a chanchada, mas choca a cada instante. Que motivo tem os partidos políticos para apresentarem tanta mediocridade como celebridade? A Justiça propugna pelo voto consciente. Não tem  noção. Todos andam "no limite de nossa irresponsabilidade" como diria o ministro encarregado de lotear as highways do Cruzeiro do Sul.
Quo vadis?

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O governo e a felicidade

O único objetivo do governo deve ser a maior felicidade do maior número possível de membros da comunidade.
JEREMY BENTHAM
Ninguém poderá obrigar-me a ser feliz à sua maneira. KANT

É uma gama de emoções sentimentos que vai desde o contentamento ou satisfação até à alegria intensa ou júbilo. A felicidade tem ainda o significado de bem-estar ou paz interna. O oposto da felicidade é a tristeza. Em linguagem comum, quando se diz 'estou feliz', está-se a utilizar o primeiro significado — o de emoção. Enquanto que se se diz 'sou feliz', se está a utilizar o significado de bem-estar. É difícil definir rigorosamente a felicidade, e ainda mais difícil definir medidas desta. Wikipédia
A geração do bem-estar - Parte 2 - Com a economia a todo vapor e os avanços sociais no país, brasileiros descobrem que nunca foram tão felizes. Pesquisas confirmam a observação de Lamounier. Segundo um estudo divulgado na semana passada pela GfK, quarto maior grupo de pesquisa de mercado do mundo, o brasileiro está otimista quanto à situação econômica nos próximos cinco anos. Mais de 50% dos mil consumidores entrevistados acreditam que o futuro será ainda melhor que o presente – que já consideram ótimo. “Vamos iniciar a próxima década com muita esperança”, afirma o cientista político Rodrigo Mendes Ribeiro, coordenador do estudo. Revista Istoé, 29/8/2010.
É trivial identificar esteios infelizes, mas não seu paradoxo. Embora todos almejemos, nunca houve, não há e por certo jamais haverá, cientista, filósofo ou santo capaz de divisar uma meta que sintetize o desejo de todos, e muito menos de cada um em particular.
Todo homem possui sua finalidade particular, de modo que mil direções correm, umas ao lado das outras, em linhas curvas e retas; elas se entrecruzam, se favorecem ou se entravam, avançam ou recuam e assumem desse modo, umas com relação às outras, o caráter do acaso, tornando assim impossível, abstração feita das influências dos fenômenos da natureza, a demonstração de uma finalidade decisiva que abrangeria nos acontecimentos a humanidade inteira. NIETZSCHE, F., Da utilidade e do inconveniente da História para a vida: 74
O significado da felicidade varia até no mesmo indivíduo, conforme o estado emocional, idade, e status, a rigor evolutivo. No caso de Sócrates, involutivo. Supondo encontrá-la dentro de si, em sua essência, o primata não hesitou suicidar-se. O ermitão de Königsberg e seu crítico mais feroz concordam plenamente: Plena satisfação e felicidade geral são desprovidas de significado
O Estado de bem-estar era um ardil político: uma criação artificial do Estado, pelo Estado, para o Estado e seus funcionários. É um eco irônico da democracia de Lincoln de, por e para ‘o povo’. Quando seus bem escondidos, porém crescentes, excessos e abusos no governo central e local foram revelados recentemente, havia se passado um século de defesa falaciosa.SELDON: 60
Se impossível encontrar padrão no mesmo indivíduo, tanto quanto avaliar um tipo de sofrimento, que dirá entre diversos indivíduos. Quem não quer ser feliz a todo instante? Mas quem será disso capaz?
O grande papel com que sonham os monstros sagrados da política é o do grande homem. O Salvador. O chefe providencial, genial, médium do espírito nacional. O profeta de sua raça. SCHWARTZENBERG, R.-G., O Estado Espetáculo: 11
Sob o falso pretexto de defender os interesses do povo, esse gigantesco Leviatã consome a renda da população, gere mal os recursos e fecha a economia do país a seus desejos, inibindo investimentos internos ou externos. Com políticas econômicas frágeis e na maioria das vezes mal formuladas (dado o fraco entendimento dos governantes nesse assunto), o crescimento econômico pode se iniciar acelerado, mas ao longo do tempo mostra-se ineficiente e frágil, fadando o país a um atraso monstruoso em relação a regiões mais democráticas. VASCONCELLOS, Daniel, A ameaça do "Estado-pai", O Globo, 27/8/2010
Os movimentos extremistas tem muito em comum. Apelam para os descontentes e os psicologicamente desenraizados, para os fracassos pessoais, para os socialmente isolados, os economicamente intranqüilos, os indivíduos sem instrução nem refinamento e as pessoas autoritárias em todos os níveis da sociedade. Movimentos revolucionários, como o nazismo, garantiram algum apoio dos conservadores que concordavam com seus aspectos nacionalistas e anti-marxistas. O fascismo italiano representou uma coalizão do extremismo centrista com o conservador, liderada por um oportunista puro e simples. COSTA, Cruz: 21
A sensação de felicidade não é racional, e sim espiritual, mas nem mesmo JESUS CRISTO pode evidenciá-la. .
Esta teoria imagina uma espécie de espectador imparcial que, por dispor de todas as informações, seria capaz de determinar, por um balanço de perdas e ganhos, qual a regra de maior utilidade - total ou média - para o maior número. É claro que o utilitarismo pode servir para justificar - em nome da justiça e por uma espécie de ardil do 'bem-estar geral' - qualquer sistema de opressão geral.
RAWLS,
John, cit. LACOSTE, Jean, A filosofia no século XX: 139.
Felicidade não se atinge pelo poder, e sim com usufruto.
Na verdade, felicidade só entrou para o terreno da política após o Iluminismo com a Constituição norte-americana, que mencionava o até hoje mais que discutido direito "à busca da felicidade". Em busca da felicidade estiveram de Al Capone a George W. Bush e é o caso de se parar, pensar e fazer como tanto acadêmico fez e fará: escrever uma complicada tese a respeito.  15/04/2011 - 04h57 Felicidade: geral e de arquibancada, IVAN LESSA,  COLUNISTA DA BBC BRASIL

Tal qual o decurso do EspaçoTempo, ela não é estática. É dinâmica, transcendente a si mesma, evolutiva.

Projeto insano
SÓCRATES supunha que ela se alojasse no âmago do ser humano, e então aconselhou:
"Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo de Deus."
Para se conhecer completamente, e usufruir do esplendor, SÓCRATES se suicidou.
Aos segundos diz imaginar que a morte deva ser um grande bem,
seja ela um sono tranquilo ou o convívio no Hades com os grandes
homens que lá habitam.
PLATÃO, Apologia de Sócrates. LPM, 2009: 16
)
Tivesse esperado um pouquinho mais, quiçá lograsse a sã consciência que se abateu sobre DOM QUIXOTE ainda antes da partida, que por doença, não lhe cabia adiar. Coisa de louco mesmo, mas o quê dizer do exército de fiéis seguidores, entre os quais a bela geração da variante evolutiva do suicídio, eleitora de um CHARLES, não propriamente o Príncipe de Gales, tampouco DARWIN, e sim um MASON para acabar consigo mesmo?
* * *
O "racional" PITÁGORAS apontou caminho mais ameno, menos drástico:
"A sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas os homens podem desejá-la ou amá-la tornando-se filósofos-matemáticos."
Encantado e agradecido,, PLATÃO colou no frontespício da Academia:

"Que não adentre quem não queira se manifestar pela linguagem matemática
."
As mútuas relações entre Platão e a filosofia pitagórica constituem, de fato, um eixo fundamental para a crítica: se a filosofia pitagórica influencia o platonismo, é verdadeiro também o contrário... Aqui Platão estaria evidentemente utilizando os princípios (archaí) pitagóricos para fundamentar, do ponto de vista da dialética dos princípios supremos, sua teoria das Idéias.
CORNELLI, Gabriell, CAMINHOS DE DUAS MÃOS: TROCAS FILOSÓFICAS ENTRE PITAGORISMO E PLATONISMO. - www.puc-rio.br
Eis o motivo da religião, e da psicologia. Ignorância não vige.
Os sábios deverão dirigir e governar, e os ignorantes deverão segui-los. PLATÃO cit. WHITEHEAD, A. N.:31
Pelo Deifico oráculo sagrado
Tinha-lhes Pítia ainda acrescentado:
Os reis, aos quais pertence por dever
O bem de Esparta amável promover,
Serão os chefes e moderadores
Do conselho, assim como os senadores;
Sempre de acorde, a massa popular
Deverá limitar-se a confirmar
Como um meio adequado para a consecução de determinados fins, ensina Platão, é permitido ao governo do Estado ideal servir-se de certas mentiras sadias’. KELSEN, 1998: 168
E assim nasceu, e se firmou, a mais famosa escola da face da Terra de todos os tempos - uma filosofia anunciada por números, tal qual presidiária.
Os niveladores... rapazes bonzinhos e desajeitados... mas que são cativos e ridiculamente superficiais, sobretudo em sua tendência básica de ver, nas formas da velha sociedade até agora existente, a causa de toda a miséria e falência humana... O que eles gostariam de perseguir com todas as suas foras é a universal felicidade do rebanho em pasto verde, com segurança, ausência de perigo, bem-estar e facilidade para todos; suas doutrinas e cantigas mais lembradas são 'igualdade de direitos' e 'compaixão pelos que sofrem' - e o sofrimento mesmo é visto por eles como algo que se deve abolir.
NIETZSCHE, F.,
Além do Bem e do Mal: 45
“Como um meio adequado para a consecução de determinados fins, ensina Platão, é permitido ao governo do Estado ideal servir-se de certas mentiras sadias’.” (KELSEN, 1998: 168)
PLATÃO era gay, e pedófilo. Sua mentira, entendida natural, muito antes de sadia era sádica. Demasiadamente sádica. Ao gáudio dos Trinta Tiranos. Por consequência, do vingativo Platão, claro.
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terça-feira, 24 de agosto de 2010

Entre a destra e a sinistra

Humoristas são criaturas que não nasceram para organizar passeatas. Mas, diante de tamanha palhaçada no processo eleitoral brasileiro, alguém tinha que fazer alguma coisa. Mesmo que seja uma passeata de palhaços, o que não deixa de ser patético, mas animador. MARCELO TAS, apresentador do CQC, in O Globo, 21/8/2010
O par de bobos precedido por zumbi e um séquito de medíocres coadjuvantes demonstram o tamanho da armadilha que estamos envoltos. A realidade é por demais dolorosa. Quadro negro, sem nada ensinar:
O conceito que a política alcançou entre nós chega ao fundo do poço com esta pergunta ao eleitor feita pelo palhaço Tiririca, candidato nesta eleição: ''O que é que faz um deputado federal' E ele mesmo responde: 'Na realidade, não'sei. Mas vote em mim que eu te conto.' Ninguém se deve surpreender se este candidato conseguir os votos necessários para fazer chiste no palco do Congresso
GAUDÊNCIO, Torquato, Pior do que tá não fica’ 24/8/2010
A democracia é imperfeita, mas é o melhor regime. Diz-se. Aliás, pelo que lembro, a constatação partiu do grande CHURCHILL, ao ser derrotado nas eleições depois de comandar a vitória sobre os nazistas. Elegantemente aceitou a negativa, e retirou-se às memórias, ao gáudio da civilização.
De fato, comparar a Inglaterra com a direita nazista, ou com a esquerda soviética nem teria graça. E se pegarmos aqueles debilódes islâmicos, então, nem falar.
Pode ou deve o sistema dos tres poderes e a eleição por sufrágio convir a toda gente? Pois o mentor da solução advertiu: a democracia só seria viável em países de pequena dimensão territorial. Duvido mesmo aí, mas o mal é menor. É importante ter-se em mente que a democracia é método para organização e execução do processo de decisões coletivas - portanto, pouco inteligente, exceto para desbancar o Direito Divino dos reis. Cumprindo este telos, quem decide será igualmente um, o qual, embora não ungido com as bençãos celestiais, adquire ainda maior potência por legalizado.
"Através da vontade geral, o povo-rei coincide, miticamente, de agora em diante, com o poder; essa crença é a matriz do totalitarismo." (COCHIN, Auguste, cit. FURET: 1989: 191)
A ética dominante na História da Humanidade foi uma variante da doutrina altruísta-coletivista, que subordinava o indivíduo a alguma autoridade superior, mística ou social. Conseqüentemente, a maioria dos sistemas políticos era uma variante da mesma tirania estatista, diferindo apenas em grau, não em princípio básico, limitada apenas pelos acidentes da tradição, do caos, da disputa sangrenta e colapso periódico.
RAND, A.: 118.
A democracia instituída naquele longínquo 1689 era apenas um passo rumo ao autogoverno, pelo qual a consciência ética precede tergiversações jurídicas, sendo a economia e a participação social mera consequência de escolha pessoal:
A comunidade fala-lhe com uma mesma voz, mas cada indivíduo fala partindo de um ponto de vista diferente; no entanto, estes pontos de vista estão em relação com a actividade social cooperativa e o indivíduo, ao assumir sua posição, encontra-se implicado, devido ao próprio carácter da sua resposta, nas respostas dos outros.
HERBERT, A filosofia do ato: 153; cit. ABBAGNANO: 29

Os interesses dos indivíduos se compensam entre si e o produto final coincide com o interesse da comunidade. Em outras palavras, a consciência do indivíduo é árbitro e condutor, tanto do interesse público quanto do privado, que não é obra do acaso
TOCQUEVILLE, A.,1997:18
O saudoso MERQUIOR por certo concordaria conosco:
"A natureza do processo é o progresso da liberdade".
Diante da plêiade de psicopatas, mentecaptos, megalomaníacos, corruptos, e aventureiros, quando não suicidas, e agora até enxame de palhaços, parece óbvio que urge retomar o fito do processo:
A época moderna pode ser considerada como fim da história, se tomarmos ‘fim’ no sentido de ‘telos’ coletivo da humanidade. Cumprindo esse ‘telos’, não haveria outros fins universais e sim individuais ou particulares. Isso representaria a possibilidade da multiplicação indefinível dos fins.
FUKUYAMA, F.,
O fim da história e o último homem
Qual o efeito social da economia liberal, esta que cabe ao cidadão entabular?
"O motivo é que um crescimento da riqueza individual quase sempre representa um crescimento ainda maior da riqueza para a sociedade como um todo." (PILZER: 12).
.
Os britânicos habitam numa ilha do tamanho de algum estado brasileiro; en passant, o Japão menor ainda, de modo que escapam da restrição de MONTESQUIEU. A Alemanha foi dividida em duas, tornando-se democrática somente há duas décadas, mas nem tanto assim:
Mesmo hoje a social-democracia alemã não é totalmente imune à tentação marxista... Em lugar do planejamento central, alguns países adotaram esquemas keynesiana, A resposta alemã é o corporativismo e não uma reforma estrutural. Na França limita-se o número máximo de horas de trabalho, e os políticos europeus alimentam a esperança de terem sua volta aos métodos keynesianos de condução da economia nacional facilitada pela adoção do euro, a moeda única... Os social-democratas se apegam aos ideais coletivistas dos socialistas.
LEME. Og, Liberalismo, social-democracia e socialismo. www.institutoliberal.org.br
A Rússia até hoje ignora a democracia, em que pese se anunciar país livre, e dificilmente a conhecerá, a não ser que promova uma reforma agrária, digo divida o território em pequenos "feudos":
A 0posição não parlamentar se manifestará hoje nas ruas de Moscou para protestar contra o Kremlin por ocasião do Dia da Bandeira. O movimento Solidarnost (Solidariedade) reúne legendas liberais, esquerdistas e nacionalistas, sob o lema Rússia sem Putin.
Folha, 22/8/2010
Compõem o norte americano vários estados unidos. Nas suas Observações sobre o governo e as leis dos Estados Unidos da América ,1784, MABLY (cit. BOBBIO, 1987: 103) retratou:
Somente através da união federativa a república, que durante séculos após
o fim da república romana foi considerada uma forma de governo adequada
aos pequenos Estados, pode tornar-se a forma de governo de um grande

Estado como os Estados Unidos da América.
Mas não foi o povo que exigiu isso, como tampouco foi o povo que estabeleceu a democracia - seja na Grécia, ou na Inglaterra. Nesta o que o povo fez foi empossar a única ditadura que o Reino Unido conheceu; e naquela, quem fez a festa foram os Trinta Tiranos de Athenas.
Pelo Deifico oráculo sagrado
Tinha-lhes Pítia ainda acrescentado:
Os reis, aos quais pertence por dever
O bem de Esparta amável promover,
Serão os chefes e moderadores
Do conselho, assim como os senadores;
Sempre de acorde, a massa popular
Deverá limitar-se a confirmar
Os francos se atiraram na metonímia, e atrás deles se veio o mundo inteiro:
A substituição por Rousseau, Hegel e seus seguidores da palavra 'opinião' pelo termo 'vontade' foi provavelmente a inovação terminológica mais fatídica da história do pensamento político. Esta substituição teve fundamento no cartesianismo de Rousseau e foi produto de um racionalismo 'construtivista' que imaginou que todas as leis foram inventadas como expressões da vontade para um dado fim.
HAYEK, F., cit. Maksoud, H.: 39
O socialismo nasceu da dissolução do Ancien Régime, da mesma forma que o conservadorismo foi criado a partir da tentativa de protegê-lo.
GIDDENS, A.: 64

Essa contradição de idéias reproduziu-se, infelizmente, na realidade dos fatos na França. E, apesar de o povo francês ter-se adiantado mais do que os outros na conquista de seus direitos, ou melhor dito, de suas garantias políticas, nem por isso deixou de permanecer como o povo mais governado, mais dirigido, mais administrado, mais submetido, mais sujeito a imposições e mais explorado de toda a Europa.

GUSDORF, Georges, As Revoluções da França e da América: 59
Atrás da flamante veio o mundo inteiro.Os regimes políticos são implementados de acordo com a linha-mestra:
O Príncipe, este 'breviário prático do déspota' fascinou reis e imperadores resolutos, os derrubadores de regimes legais ou constitucionais. Cromwell obteve sua cópia. Luís XIV, o Rei-Sol, fez dela sua 'leitura noturna predileta'. E Napoleão assegurava que de todos os livros acerca da política, o único digno a ser estudado era o Príncipe. Quanto ao chanceler de ferro - Bismarck - sua falta de escrúpulos, sua política hábil, tortuosa, complexa, tudo indica que adotava Maquiavel.
JORGE, Fernando: 90.
Apuramos contínuas tragédias:
Em muitos Estados do Terceiro Mundo, o assim chamado povo soberano não é nada. Ou quase nada. Fica à margem ou ausente do jogo político, limitado a um círculo restrito. Chamam-no somente para ratificar, plebiscitar e aplaudir. [...] Sobretudo por ocasião das eleições presidenciais,
SCHARTZENBERG, R.: 320
Em nenhum lugar do mundo há povo apto para delinear o que melhor lhe convém; muito menos, seus representantes, meros atores:
Entre os homens que ocuparam o poder na França nos últimos quarenta anos, vários foram acusados de ter feito fortuna à custa do Estado e de seus aliados, crítica que raramente foi dirigida aos homens públicos da antiga monarquia.
TOCQUEVILLE, A., A Democracia na América: 256
A maior parte dos países-membros da União Européia estão atualmente administrados por governos social-democráticos e o principal problema da maioria deles é o desemprego. Como o enfrentam? A resposta alemã é o corporativismo e não uma reforma estrutural. Na França limita-se o número máximo de horas de trabalho, e os políticos europeus alimentam a esperança de terem sua volta aos métodos keynesianos de condução da economia nacional facilitada pela adoção do euro, a moeda única. Em lugar da autonomia individual dos liberais, os social-democratas se apegam aos ideais coletivistas dos socialistas.
LEME, Og,
A nova Terceira Via da Europa maio de 2009
Nos EUA, quando lemos os documentos escritos pelos pais fundadores, notamos uma grande preocupação em relação a facções. Por facções, os fundadores se referiam a grupos de pessoas em guerra entre si para decidir quem iria ter controle sobre o bolso da população. A solução para esse problema não foi abolir diferenças de opinião, mas, sim, manter o governo em um tamanho mínimo, de forma que as vantagens de se ganhar o poder fossem pequenas. Você limita o poder de uma facção limitando o tamanho do governo. Todos os mecanismos criados pelos pais fundadores — a separação de poderes, o colégio eleitoral, a Declaração de Direitos — foram instituídos como meios de se atingir esse objetivo.
Governos dilatados dividem a sociedade em duas castas: aqueles que dão compulsoriamente seu dinheiro para o estado e aqueles que ganham dinheiro do estado. Para manter o sistema funcionando, aqueles que dão têm de ser numericamente muito superiores àqueles que recebem. Foi assim nos primórdios do estado-nação e ainda o é atualmente. A existência de eleições não altera em nada a essência dessa operação. Mas como foi que toda a distorção ocorreu? Como foi que os seres humanos permitiram que o estado atual existisse? Como passamos a permitir que ele nos governe dessa maneira despótica? E por que há alguns que o amam e até mesmo se inclinam perante ele, tomados por um sentimento quase religioso em relação a ele?
, A fraude chamada 'estado', 21/8/2010.*
Elementar, meu caro Watson:
“Toda a política dos filósofos se resume em por a onipotência do Estado ao serviço da infalibilidade da razão, a fazer da razão da razão pura uma nova razão de Estado”. (SOREL, ALBERTO, L'Europe et la Revolution Française, T.I, Cap.II; cit. PRELOT, MARCEL, Vol. II: 293)
O que chamamos ‘democracia’ consiste tão somente numa enquete de opinião pública na qual se pede a uma amostra ‘causual’ que diga sim ou balance a cauda em resposta a um conjunto de alternativas pré-fabricadas, geralmente relacionadas aos fatos consumados dos governantes, que sempre podem dirigir as enquetes em seu próprio beneficio.
ROSZACK, T. : 29
O estilo destro remonta a ROUSSEAU & NAPOLEÃO. E a democracia sinistra pertence a MARX & LENIN. O resto não vem mais ao caso:
Independentemente do que vier a ocorrer, direita e esquerda têm hoje uma vida autônoma com respeito à matriz em cujo interior foram originariamente desenvolvidas. Conquistaram o planeta. Tornaram-se categorias universais da política. Fazem parte das noções de base que informam genericamente o funcionamento das sociedades contemporâneas.
GAUCHET, M., Storia di una dicotomia. La destra e la sinistra, Milão: Anabasi, 1994, orig. La droite e la gauche, Paris: Gallimard, 1990; cit. BOBBIO, N. 1995: 14/5
Vero.
"Fidel teria se declarado fascista. Era 'comunista' porque era anti-americano. Era um grande admirador do General Franco e em 75, na morte do ditador espanhol, decretou uma semana de luto oficial em Cuba.” (LUKÁCS, John, O Fim do Século 20: 47)
No Brasil, os interesses do capital se organizaram sob um formato corporativo, enquanto a representação dos interesses do trabalho foi organizada sob a forma de um sindicalismo tutelado. Essa diferença se expressa na combinação do corporativismo societal com o corporativismo estatal, que Oliveira Vianna tratou de distinguir, antecipando em quase meio século a literatura contemporânea sobre o corporativismo nas democracias.
BANDEIRA, Moniz; Melo, Clóvis e ANDRADE, A.T., O Ano Vermelho. A Revolução Russa e seus Reflexos no Brasil.

O governo petista seguiu àrisca a “herança maldita” e até agora tem se dado bem com o importante respaldo do Banco Central sob o comando de Henrique Meirelles, ex- tucano, ex-liberal, hoje PMDB. Ao mesmo tempo, deu certo a fórmula: bolsas-esmola no melhor estilo do voto de cabresto para pobres agradecidos; lucros astronômicos para os ricos, principalmente banqueiros, empreiteiros, grandes empresários. Quanto aos intelectuais, artistas, clérigos, mantiveram o encantamento pelo “proletário de esquerda. O Congresso foi anexado ao Executivo através de 'mensalões'.

BARBOSA, Maria Lucia Victor,
A marcha da estupidez, 13/6/2010 www.institutoliberal.org.br

A democracia fala de um governo comandado pelo povo e sujeito às suas leis; na realidade, entretanto, os regimes democráticos são dominados por elites que planejam maneiras de moldar e dobrar a lei a seu favor. O totalitarismo aspira ao extremo oposto da democracia: ele luta para pulverizar a sociedade e estabelecer um controle completo sobre esta [...] O objetivo último do totalitarismo é a concentração de toda a autoridade ns mãos de um corpo autodesignado e autoperpetuado de eleitos que se denominavam 'partido', mas parece uma ordem, cujos membros devem lealdade a seus líderes e uns aos outros. Esse objetivo pressupõe controle, direto ou indireto, conforme as circunstâncias, dos recursos econômicos do país.
PIPES, R., 2001:251
"No capitalismo jabuticaba, heterodoxo pela política, é assim: a defesa dos pilares da economia de mercado às vezes soa mais forte nos alto-falantes da esquerda do que nos da direita." (MALBERGIER, S., Jabuticaba: capitalismo turbina esquerda. - Folha, 28/8/2010)

Eu pedi ao Papa que nos seus pronunciamentos ele fale da crise econômica, pois, se todo o domingo o papa der um conselhozinho, quem sabe a gente encontra mais facilidade para resolver o problema.
SILVA, Luis da, Presidente do Brasil, Estadão, 13/11/2008
Parece óbvio que a estória se aproxima do fim.
No Brasil, ser de esquerda era ser contra a ditadura, e aí o conceito parou. Velhos políticos, como os nossos principais candidatos presidenciais, formaram-se nessa época e congelaram o conceito em sua cabeça. Os dois candidatos majoritários nas pesquisas seguem atraídos por conceitos que não fazem mais sentido. Em sua retórica de campanha batalham para responder à pergunta que o eleitorado não está fazendo: quem é mais de esquerda? Quando será que os candidatos a presidente vão acordar e perceber o que o povo brasileiro já aprendeu: que a esquerda e a direita ficaram ocas? Elas não querem dizer mais nada.
BARROS, Alexandre, Quem mais ainda é de esquerda? 21/8/2010
"O socialismo tradicional, com espaços na propriedade coletiva, e o gerenciamento econômico keynesiano não são mais relevantes." (GIDDENS, A.)
Longe de ridicularizar os aspectos irracionais do comunismo e do fascismo, devemos antes criticar estes credos políticos pela sua falta de conteúdo sensível e estético, pela pobreza de seu ritual e sobretudo pelo fato de que nenhum deles chegou a entender o papel que a poesia e a imaginação desempenham na vida da comunidade.
HERBERT, Read, O anarquismo e o impulso religioso, 1940, cit. WOODCOCK, 1971: 68
A consciência humana está transpondo um limiar tão importante como o que transpôs da Idade Média para a Renascença. O homem está faminto e sedento após tanto trabalho fazendo o levantamento de espaços externos do mundo físico começa a ganhar coragem para perguntar por aquilo que necessita: interligações dinâmicas, sentido de valor individual, oportunidades compartilhadas, efeitos. Nosso relacionamento com os símbolos de autoridade do passado está se modificando, porque estamos despertando para nós mesmos como seres, cada qual dotado de governo interior. Propriedades, credenciais e status não são mais intimidativos. Novos símbolos estão surgindo: imagens de unidade. A liberdade canta não só dentro de nós, como em nosso mundo exterior. Sábios e videntes previram esta segunda revolução. O homem não quer se sentir estagnado, o que deseja é ser capaz de mudar.
RICHARDS, M. C., The Crossing Point, 1973; cit. FERGUNSON, M.: 57
Resta avisar o pessoal.
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* Professor de Economia da Universidade de Nevada, Las Vegas, membro sênior do Ludwig von Mises Institute, fundador e presidente da Property and Freedom Society e co-editor do periódico Review of Austrian Economics. Ph.D e fez seu pós-doutorado na Goethe University Frankfurt, Alemanha. Autor de Uma Teoria sobre Socialismo e Capitalismo e The Economics and Ethics of Private Property.