quarta-feira, 29 de junho de 2011

O erro metodológico das democracias

A crença fundamental dos metafísicos é a crença na oposição de valores. NIETZSCHE, F., Além do bem e do mal: 10
Compete a ciência procurar a propósito da melhor forma de governo, o que ela é, quais são as condições que podem dar-lhe a perfeição desejável, independentemente de todos os obstáculos exteriores, e qual é a que convém mais a este ou aquele povo, pois é provavelmente impossível à maior parte deles possuir a mais excelente. Não se trata apenas de considerar a melhor constituição, mas a que for mais praticável, e a que for de mais fácil execução, e a que se ajustar melhor aos diferentes Estados. ARISTÓTELES
O câmbio iniciado em Florença restringiu a ciência; e de plano subverteu a nascitura democracia:
O sopro da morte atingiu a teoria aristotélico-ptolomática em 1609. Neste ano Galileu começou a observar o céu à noite, através de um telescópio, que acabara de ser inventado. Ao focalizar o planeta Júpiter, Galileu descobriu que se fazia acompanhar de vários pequenos satélites, ou luas, que giravam a sua volta. Isto implicava que nada precisava necessariamente girar em torno da terra, como Aristóteles e Ptolomeu haviam pensado. HAWKING, STEPHEN W. : 20
O método de Aristóteles era qualitativo. Recusando as idéias pitagóricas sobre a importância da matemática, ele não se deu nenhum conteúdo numérico preciso a suas explicações e se concentrou unicamente na interpretação conceitual dos fenômenos, em particular nas causas da mudança, a própria ausência de mudança não lhe parecendo exigir explicação particular. BEN-DOV: 15 
Com o declínio dos limites à ação do Estado, cujos fundamentos éticos haviam sido encontrados pela tradição jusnaturalista na prioridade axiológica do indivíduo com respeito ao grupo, e na consequente afirmação dos direitos naturais do indivíduo, o Estado foi pouco a pouco se reapropriando do espaço conquistado pela sociedade civil burguesa até absorvê-lo completamente na experiência extrema do Estado total (total exatamente porque não deixa espaço algum fora de si.) .BOBBIO, N., Estado, governo, sociedade; por uma teoria geral da política: 25....
Atualmente, a essência da democracia reside em dois princípios fundamentais: o voto e a existência dos partidos políticos. Os partidos servem para exprimir e para formar a opinião pública. São um foco permanente de difusão do pensamento político, além de estimular os indivíduos a manter, exprimir e defender suas opiniões.  www.politicavoz.com.br/partidospoliticos
Dessarte a democracia pouco difere do Estado Napoleônico, logrado com a preliminar vitória dos jacobinos de Danton, Marat & Robespierre, sobre os Girondinos de Brissot, e finalmente com a revanche  girondina através do Termidor
Essa contradição de idéias reproduziu-se, infelizmente, na realidade dos fatos na França. E, apesar de o povo francês ter-se adiantado mais do que os outros na conquista de seus direitos, ou melhor dito, de suas garantias políticas, nem por isso deixou de permanecer como o povo mais governado, mais dirigido, mais administrado, mais submetido, mais sujeito a imposições e mais explorado de toda a Europa. BASTIAT, Frèderic, A Lei: 63
Mussolini marchou sobre Roma coberto pelo  Partido Nacional Fascista. de estupenda aceitação popular.  Hitler construiu sua enormidade graças a maciça adesão ao  Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Nosso fascistóide Getúlio Vargas aprendeu a lição, e reapareceu ungido pelos dois partners que compôs - o jacobino PTB - Partido Trabalhista Brasileiro  e o  girondino PSD - Partido Social Democrático, formado pelos seus antigos interventores. Por fim, o próprio regime militar iniciado em 1964 se manteve incólume por mais de vinte anos justamente por contar com a colaboração dos partidos, fosse o que lhe dava "legitimação" - a girondina ARENA -Aliança Renovadora Nacional   ou seu opositor jacobino MDB - Movimento Democrático Brasileiro
Ao cabo restou hegemônico o MDB, hábil em costiurar uma Constituição ainda mais fascista do que a substituta, mercê da inclusão de medidas astutamente definidas como provisórias. 
"Weber podia concordar com os transcedentalistas que a política é pura 'astúcia', o Estado, um 'embuste', e a democracia, o 'teatro dos demagogos'." (DIGGINS: 115)
"Cada partido compreende o que interessa à própria conservação não permitir que se esgote o partido concorrente. Tem mais necessidade de inimigos do que de amigos: só pelo contraste é que ele começa a se sentir necessário, a tornar-se necessário." (NIETZSCHE, F., Crepúsculo dos Ídolos: 39) A existência dos partidos tampouco inibe o comunismo, cuja insanidade foi encaminhada através do Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR), e decidido após o confronto entre Bolcheviques x Mencheviques
Nem sequer um doutrinário da democracia como Rousseau, com a concepção organicista da volonté générale, princípio tão aplaudido por Hegel, pode forrar-se a essa increpação uma vez que o poder popular assim concebido acabou gerando o despotismo de multidões, o autoritarismo do poder, a ditadura dos ordenamentos políticos.  BONAVIDES, P. : 56
Se procurarmos alhures, constataremos a invariável participação dos porta-estandartes partidários precedendo tiranias, despotismos e ditaduras de maior ou menor intensidade, nessas inclusa a maioria das democracias . .  A razão tem o denominador comum: todos os partidos mantém tendências centralizadoras, em nada centrifugadora, onde se encontra o povo. 
A política do governo prussiano de reprimir ao invés de cooptar o movimento operário levou ao surgimento de um poderoso partido social-democrata revolucionário, que se tornou um modelo para os trabalhadores de toda a Europa. O PSD alemão foi imitado pelos franceses, belgas e italianos. Os movimentos trabalhistas holandês, escandinavo, suíço e americano seguiram os passos do movimento alemão. Oradores eram convidados de honra nos sindicatos que aconteciam em toda a Europa Ocidental e Estados Unidos. Os movimentos operários russo e eslavo também se inspiraram no alemão, e a segunda Internacional Comunista estava sob a liderança reconhecida do partido alemão. Suas filiações ultrapassavam 1 milhão em 1912; nos sindicatos, dois e meio milhões. SCHWARTZ, J., O Momento Criativo - Mito e Alienação na Ciência Moderna: 130
Os partidos de esquerda política - socialistas e comunistas - tiveram enorme influência sobre os padrões de cultura política que emergiram na Europa do século XIX. Pode-se observar o efeito dos partidos fascistas e comunistas na Europa, durante a depressão econômica mundial iniciada em 29, quando suas orientações monolíticas e seus poderosos símbolos políticos deram unidade e direção políticas a milhões de pessoas numa época de angústia e colapso social. ALMOND, G. A.,& POWELL, Jr, G.B.,:  82
O que tinha ou tem de democrático nessas formações, senão que o vêzo totalitarista? A razão da existência dos partidos, com o perdão pela contundência, mas em nome da clareza, desses travestis democráticos,  é a mais primária possível, conhecida desde o tempo no qual os Trinta Tiranos subjugaram e liquidaram com Atenas. "Na verdade, a política não mudou desde a sua invenção pelos gregos." (GALSTON, Willian, Brookings Institution, e ex-assessor da Casa Branca). "O alfa e o ômega da teoria política é a questão do poder: como conquistá-lo, como conservá-lo e perdê-lo, como exercê-lo, como defendê-lo e como dele se defender." (BOBBIO, N. Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos clássicos: 252) Mas se em qualquer democracia, pelo menos em tese, o poder pertence ao povo, qual razão de  conquistá-lo? E frente a quem? 
Quando Péricles, o ateniense, deu aos representantes da terceira classe o direito de serem “arcontes” (parlamentar, magistrado com poder de legislar e executor das leis); quando distribuiu dinheiro aos pobres para que também eles pudessem exercer funções públicas; quando deu aos indigentes o direito de irem ao teatro de graça, Péricles estava instalando a primeira constituinte democrática, fazendo a primeira Constituição democrática, criando a democracia, 2.500 anos atrás. O que estão fazendo no martirio da Grécia é uma traição a Péricles.O martírio da Grécia
De fato, é como as nações modernas estivessem repetindo cegamente o erro que foi fatal para as cidades gregas, dois mil e quinhentos anos atrás. Por mais incongruente que isso possa parecer, minha impressão é de que a peça que estamos encenando já foi montada na Grécia, na época do nascimento da filosofia socrática. É que, desde Platão, as coisas praticamente não mudaram. É como se a espécie humana não pudesse escapar da mediocridade de seu destino. SAUTET, Marc, 2006: 15/86
O conhecimento dos fatos antigos, chamados históricos, afeta a interioridade e a exterioridade do homem que procura se conformar intimamente com mitos e heróis e que, externamente, se empenha em seguir seus modos de agir e dominar. Com esse comportamento, assimila o despotismo da história e assume a máscara de seus personagens centrais. MIORANZA, Ciro, in NIETZSCHE, F., Da utilidade e do inconveniente da história para a vida: 10
Tal linha de montagem sói produzir apenas peões ao jogo dinástico, cujo rei frequentemente é suicida
Os fatos políticos recentes podem indicar que estamos caminhando perigosamente para um sistema político que se aproxima muito do hiperpresidencialismo, caracterizado pelo excesso de poderes concedidos ao Executivo, o que pode levar à deterioração da democracia, ou até mesmo à sua destruição. Sintomas do hiperpresidencialismo 
Pois urge alterá-lo. "A estimativa é de que atualmente haja 35,6 milhões de pessoas vivendo com demência no mundo. Este número deve subir para 65,7 milhões até 2030 e 115,4 milhões até 2050." (BBC-Brasil, 21/9/2010 )
Não é da essência democrática nem a escolha popular pelos moldes praticada, calcada em pura e mais simplória aritmética auferida por dois ou tres diigladiantes, tampouco a utopia da igualdade e, arrisco até mesmo afirmar, o estabelecimento da Justiça, posto  a santa oferecer várias nuances, sendo impossível defini-la: "Pouco a pouco, os soberanos compreenderam que a justiça podia ser também pretexto para a extensão de seu poder e a afirmação de sua autoridade." (BOBBIO, N. e VIROLLI, M.: 130) Para RENÈ KONIG (Soziologie heute, cit. GOLDMAN, L.: 40), professor das Universidades de Zurique e Colônia, isso nada mais é do que “elemento do processo de autodomesticação social da humanidade”.
Mais do que tudo, entretanto, parece flagrante ser a instituição partidária o mais notável obstáculo para aferição democrática: "Democracia significava o que a palavra designa literalmente: poder do démos, e não, como hoje, poder dos representantes do démos." (BOBBIO, N. O futuro da democracia: 110)
A rigor, os partidos políticos impedem*, e não proporcionam nenhuma expressão popular, senão que apenas a vontade de seus líderes, tomadas as massas como trunfos. 
Mas a verdade é que não só nos países autocráticos, como naqueles supostamente mais livres - como a Inglaterra, a América, a França e outros - as leis não foram feitas para atender a vontade da maioria, mas sim a vontade daqueles que detêm o poder. A Escravidão de nosso tempo, (1900), cit. WOODCOCK, G: 106.
A rica França, a tonta Alemanha, a hibernada Rússia, a folclórica Itália,  los valientes espanholes e o semiprimata mundo latinoamericano,  todos devidamente "partidarizados", tem vivenciado periódicos colapsos, inúmeras perturbações, guerras civis e internacionais, ditaduras e constituições de toda índole:
Faça a conta dos regimes que nos levam a codificar com um gesto nossas paixões do momento. Compensamos nossa inconstância através de visões eternas logo gravadas no mármore. Nossas revoluções passam primeiro pelo tabelião. Conseqüência: quinze Constituições em cento e oitenta se sucederam na França depois da Convenção: Diretório, Consulado, Primeiro Império, Restauração, Cem Dias, Restauração, Monarquia de Julho, II República, Segundo Império, III República, Vichy, de Gaulle, IV República, V República, ufaMITTERRAND, François, Aqui e Agora: 90.
Em muitos Estados do Terceiro Mundo, o assim chamado povo soberano não é nada. Ou quase nada. Fica à margem ou ausente do jogo político, limitado a um círculo restrito. Chamam-no somente para ratificar, plebiscitar e aplaudir. [...] Sobretudo por ocasião das eleições presidenciais. SCHWARTZENBERG: 320
 A democracia fala de um governo comandado pelo povo e sujeito às suas leis; na realidade, entretanto, os regimes democráticos são dominados por elites que planejam maneiras de moldar e dobrar a lei a seu favor. O totalitarismo aspira ao extremo oposto da democracia: ele luta para pulverizar a sociedade e estabelecer um controle completo sobre esta [...] O objetivo último do totalitarismo é a concentração de toda a autoridade ns mãos de um corpo autodesignado e autoperpetuado de eleitos que se denominavam 'partido', mas parece uma ordem, cujos membros devem lealdade a seus líderes e uns aos outros. Esse objetivo pressupõe controle, direto ou indireto, conforme as circunstâncias, dos recursos econômicos do país. PIPES, R., 2001:251
Nos dias de hoje, os indivíduos estão perdidos na multidão. Em política, é quase uma trivialidade dizer que agora a opinião pública governa o mundo. O único poder que merece esse nome é o das massas e o dos governos, que constituem o órgão das tendências e instintos da massa. MILL, J.S.: 101
 .Apura-se o óbvio: Parlamento no fosso
O Estado, totalmente na sua génese, essencialmente e quase completamente durante os primeiros estádios da sua existência, é uma instituição social, levada a efeito por um grupo vitorioso de homens sobre um grupo derrotado, com o único propósito de regular o domínio do grupo vitorioso sobre o vencido, defendendo-se da revolta interna e dos ataques do exterior. Teleologicamente, este domínio não seguia outro objectivo que não fosse a exploração económica dos vencidos pelos vencedores. OPPENHEIMER, Franz (1861-1943), cit. www.farolpolitico.blogspot.com
Estados mascaram os gastos com saúde
As políticas mundiais de crescimento induzido pelo Estado tiveram exatamente o efeito oposto do que pretendiam: tinham aumentado, e não reduzido, o custo da produção de bens e serviços e tinham abaixado, e não aumentado, a capacidade das economias de conseguirem uma produção vendável. SKIDELSKI, Robert: 14.
"Para poder viver, o homem deve possuir a força de romper um passado e de aniquilá-lo e é necessário que empregue essa força de tempos em tempos." (NIETZSCHE (Da utilidade e do inconveniente da História para a vida: 45) Neste ponto basta a consciência.
O remédio não está em nenhum cataclisma heróico, mas nos esforços individuais em direção a uma visão mais sã e equilibrada de nossas relações com nossos vizinhos e com o mundo. É na inteligência, cada vez mais disseminada, que devemos buscar a solução das doenças de que nosso mundo sofre. RUSSELL, B., Ensaios céticos: 53
 Ela é apropriada não só para liquidar com um passado feito por metonímias e bases totalmente falsas, ilusórias, mas também para edificar algo condizente com nossas premências Encetaremos uma tentativa heurística em raid sobre os três sustentáculos democráticos - o Legislativo, o Executivo, e o Judiciário. Até amanhã.
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*O exemplo mais atual de como a organização partidária se traduz no mais completo desserviço é-nos  oferecido por este partideco de prosélitos evangélicos, vê se pode, há mais de década sangrando a Nação:
O produto dos desvios era dividido da seguinte maneira: a maior parte ia para o PR e uma parcela era distribuída aos parlamentares dos Estados em que a obra era realizada. O comandante informal do esquema seria o deputado Valdemar da Costa Neto (SP), secretário-geral do PR. Segundo empreiteiros ouvidos pela revista, Bonvini seria o "homem da pasta" e Mauro Barbosa, o "dono da chave".

domingo, 26 de junho de 2011

O quadro negro das democracias

 
Não existe tirania mais cruel do que a exercida à sombra da lei e com uma aparência de justiça, quando, por assim dizer, os infelizes são afogados com a própria prancha em que tinham sido salvos. MONTESQUIEU: 109
Quando Péricles, o ateniense, deu aos representantes da terceira classe o direito de serem “arcontes” (parlamentar, magistrado com poder de legislar e executor das leis); quando distribuiu dinheiro aos pobres para que também eles pudessem exercer funções públicas; quando deu aos indigentes o direito de irem ao teatro de graça, Péricles estava instalando a primeira constituinte democrática, fazendo a primeira Constituição democrática, criando a democracia, 2.500 anos atrás. O que estão fazendo no martirio da Grécia é uma traição a Péricles .O martírio da Grécia
De fato, é como as nações modernas estivessem repetindo cegamente o erro que foi fatal para as cidades gregas, dois mil e quinhentos anos atrás. Por mais incongruente que isso possa parecer, minha impressão é de que a peça que estamos encenando já foi montada na Grécia, na época do nascimento da filosofia socrática. É que, desde Platão, as coisas praticamente não mudaram. É como se a espécie humana não pudesse escapar da mediocridade de seu destino.  SAUTET, Marc, 2006: 15/86
Se no Oriente ecoa o canto de cisnes, no lado de cá assistimos o protesto generalizado contra os governos eleitos pela própria população. Em qualquer canto Leviathan tem demonstrado ser ele próprio o lobo do homem.
Sob o falso pretexto de defender os interesses do povo, esse gigantesco Leviatã consome a renda da população, gere mal os recursos e fecha a economia do país a seus desejos, inibindo investimentos internos ou externos. Com políticas econômicas frágeis e na maioria das vezes mal formuladas (dado o fraco entendimento dos governantes nesse assunto), o crescimento econômico pode se iniciar acelerado, mas ao longo do tempo mostra-se ineficiente e frágil, fadando o país a um atraso monstruoso em relação a regiões mais democráticas. VASCONCELLOS, D., A ameaça do 'Estado-pai' - O Globo, 27/8/2010
O despotismo já não é acatado, o nazifascismo é intolerável,  o comunismo ruiu por lhe faltar objeto, mas a democracia também mostra  incompetência para regular, tecer um ambiente estável onde as comunidades possam viver em paz. E não é de hoje.
Não só nos países autocráticos, como naqueles supostamente mais livres - como a Inglaterra, a América, a França e outros - as leis não foram feitas para atender a vontade da maioria, mas sim a vontade daqueles que detêm o poder. TOLSTÓI, Leon, A escravidão de nosso tempo, 1900, cit. WOODCOCK, G.:106
Infelizmente, com o passar do tempo, o intervencionismo estatal norte-americano foi se fazendo mais e mais presente, a ponto de aquele país hoje estar mais parecido com uma social-democracia, muito em parte devido à ação de grupos sindicais, formais ou informais, de trabalhadores e patronais, de tal forma que as recentes crises econômicas e o seu lento crescimento econômico retratam este estado de coisas. PIRES, Klauber, www.imil.org.br, 16/9/2010
 O homem se revolta, por demais enganado.
Menos de dois anos passados após o triunfo de Obama, a democracia nos EUA se vê confrontada por difíceis desafios que, na verdade, já estavam evidentes antes dos estragos causados pelos oito anos da era Bush - estragos que foram agravados por suas consequências... hoje é uma nação em relativo declínio, num mundo em que os novos atores emergentes não comungam os valores liberais nos quais se fundam a democracia americana. SOTERO, P., A América no espelho - Estadão, 13/9/2010
Certamente não se trata de má escolha ou heresia dos atores. Impossível todas as nações errarem. Seria, então, talvez, coisa da Nova Era? Internet? Consumismo desenfreado? Falta de educação, de discernimento do povo?  Seguramente o povo está muito mais informado, e por consequência mais educado do que o pessoal dos anos cincoenta; entretanto, no meado tudo fluia  naturalmente, sem maiores sobressaltos. As gerações mais velhas, quiçá por mais disciplinadas, estariam mais aptas, então, como percebe Sotero? Ou quem sabe, pela parca informação, tudo se passava ao léo?
Nesta perspectiva, os problemas de relação entre o homem e o Estado revestem um significado completamente novo. Não se trata mais de saber se a ditadura é preferível à democracia, se o fascismo italiano é superior ou não ao hitlerismo. Uma questão muito mais vital se coloca, então, a nós: o governo político, o Estado, será proveitoso à humanidade e qual é a sua influência sobre o indivíduo? GOLDMAN, Emma, O Indivíduo na Sociedade . - www.arteeanarquia.xpg.com.br
Criada em 1689 para acabar com a figura absoluta do rei, a democracia logo teve que enfrentar o totalitarismo revigorado  - fosse ditaduras nacionalistas, ou então constantes ameaças, algumas tragicamente concretizadas,  de ditaduras "democráticas" do proletariado.
A Constituição Francesa de 1791 proclamou uma série de direitos, ao passo ‘que nunca houve um período registrado nos anais da humanidade em que cada um desses direitos tivesse sido tão pouco assegurado - pode-se quase dizer completamente inexistente - como no ápice da Revolução Francesa.’ LEONI: 85
Com aqueles dois monstrengos catalizando as atenções, quem se atreveria a criticar a democracia tal como exercida pelos que se mantinham incólumes?  Mesmo os próprios envaidecidos já não cogitavam evoluir a perfeição. Uma das orações mais célebres emitiu o magnífico Churchill:  a democracia é o pior regime, com exceção de todos os outros. De fato, qualquer coisa  até uma anarquia completa não causaria tanto estrago como proporcionaram soviéticos e nazistas, por exemplo. Assim ´é que se mantém a genuína expressão do Leviathan, o guardião eleito pela comunidade, pela qual ela, a comunidade, se despe de seus desejos particulares  quase todos movidos por paixões, em prol  da "totalidade ética". O velho contrato social vem lavrado para todos poderem sobreviver,  asseverava Hobbes, caso contrário obteríamos uma guerra constante de todos contra todos.
O Estado prometia cuidar das crianças, da saúde da família toda, da água, da luz e até dos filmes que passavam no cinema”. Mulher dada a falsas esperanças, tia Sociedade apaixonou-se. E os dois firmaram um contrato. E se o Estado fosse da sua família?
O que colhemos do arranjo?
A democracia é como um horizonte que se dissipa à medida que nos aproximamos dele. É inatingível. Uma miragem brilhante do nosso futuro. É a busca incessante desse horizonte sempre em fuga que constitui a realidade, o ser, a fascinação, o gênio e a formidável fecundidade da ideia democrática. LAPOUGE, Gilles, Em busca de um horizonte inatingível. - ESTADÃO, 13/9/2010
A democracia favorece apenas aqueles que estão no poder, bem como todo o seu grupo de apoio. Ao contrário dos regimes absolutistas do passado, a democracia é a única forma de governo que fornece os meios mais consistentes para aqueles que estiveram no poder poderem dormir e morrer em paz. O mesmo se aplica para toda a nomenklatura e seus apparatchiks e cortesãos. Esses bajuladores, após a invenção da democracia, não mais precisam temer traições, assassinatos e o subsequente coroamento de um novo rei. A elite e sua burocracia podem se aposentar tranquilamente em suas fazendas e gozar o resto de suas vidas sem qualquer receio — suas riquezas e descendentes estarão seguros, pagos regiamente pelo contribuinte livre'. Richard Ebeling,
A pergunta que se impõe, então, é a seguinte: que diferença faz o governante ser democraticamente eleito, impor-se pelas armas, ou por herança, se cabe a ele, governante, a função primordial de zelar pela paz de todos, porém nenhum se mostra capaz?
Não pretendamos que as coisas mudem se sempre fazemos o mesmo. A crise é a melhor bênção que pode ocorrer com as pessoas e países, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia, como o dia nasce da noite escura. É na crise que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise, supera a si mesmo sem ficar superado... A verdadeira crise é a crise da incompetência. O inconveniente das pessoas e dos países é a esperança de encontrar as saídas e soluções fáceis. Sem crise não há desafios; sem desafios, a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crise não há mérito. É na crise que se aflora o melhor de cada um. Falar de crise é promovê-la, e calar-se sobre ela é exaltar o conformismo. Em vez disso, trabalhemos duro. Acabemos de uma vez com a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la EINSTEIN, A.  
 O pessoal parece cansado da lírica perseguição. A gente tem mais o que fazer. Em vez da desbaratada corrida,  "a busca incessante desse horizonte" democrático, quem sabe parar com a metafísica, e remodelá-lo simplesmente de acordo com os motivos pelos quais a democracia se apresenta ?  É o que veremos, no próximo raid.

sábado, 25 de junho de 2011

Antes e depois






Entre os homens que ocuparam o poder na França nos últimos quarenta anos, vários foram acusados de ter feito fortuna à custa do Estado e de seus aliados, crítica que raramente foi dirigida aos homens públicos da antiga monarquia.
TOCQUEVILLE, A., Democracia na América:  256
Autoriza-se qualquer ilação
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segunda-feira, 20 de junho de 2011

Ciência Moderna & Ciências Políticas

Assim como Newton formulou as leis fundamentais da realidade física, os filósofos e sociólogos, viajando na sua esteira, esperavam descobrir os axiomas e princípios básicos da vida social. Seu universal maquinismo de relógio converteu-se em modelo a partir do qual comparava-se o Estado com um mecanismo preciso, sujeito a leis, e retratavam-se os seres humanos qual máquinas viventes.
ZOHAR, D., 2000: 23  
Como pilotos cujos instrumentos de navegação às vezes falham, os líderes fazem vôos cegos com alarmante freqüência. CLEMENS, J. K.: 106
O legislador parece o homem que traça sua rota no meio dos mares. Ele também pode dirigir o barco que o transporta, mas não poderia mudar sua estrutura, criar os ventos, nem impedir que o Oceano se erguesse a seus pés. TOCQUEVILLE, A, A Democracia na América: 185

O curso natural das coisas não pode ser inteiramente dominado pelos esforços impotentes do homem, pois a corrente é demasiada rápida e forte para que a interrompa; e posto as regras que a orientam aparentem ter sido estabelecidas para os melhores e mais sábios propósitos, às vezes produzem efeitos que escandalizam todos os nossos sentimentos naturais. SMITH, Adam, 1999: 204
Se a "filosofia" de COPÉRNICO, VESÁLIO, BACON, DESCARTES, KEPLER, TICHO BRAHE, GALILEU, NEWTON, LAPLACE & MACH tornou a ciência cega de suas possibilidades, a "ciência" encordoada de MAQUIAVEL, HOBBES, ROUSSEAU, MIRABEAU, SAINT-SIMON, LAMARCK, LINEU, QUÈTELET, MALTHUS, DARWIN, HAECKEL, BENTHAM, MILL, COMTE, MERCIER DE LA RIVIERE, HEGEL, FICHTE, HERDER, SCHELLING. IHERING, SAVIGNY, THIBAULT, ENGELS, MARX, AUSTIN, os dois SOREL, GRAMSCI, WEBER, DURKHEIM, SPENCER, PLEKHANOV, RADEK, JULIO VERNE, MAURRAS, TARDE, DILTHEY, WUNDT, VEBLEN, FOULLIÈE, LAPOUGE, PIERRE DRIEU, JULIEN GRENFEL, FREUD, GOBINEAU, WISER, OPPENHEIMER, FRANK, NEURATH, HAHN, SCHILICK, CARNAP, SCHLICK, KARL SCHIMITT & KEYNES (ufa!) consagrou o carma que humanidade até hoje suporta - uma ciência que anatomiza e derrete as entidades humanas como matéria inerte.
Mas os governos, e aqueles que os assessoram nestas questões, sofrem da ilusão de controle. Não é possível, no estado corrente do conhecimento científico, fazer previsões econômicas de curto prazo com razoável grau de precisão. ORMEROD, P. 2000: 124
A má tese, ou a má temática, a "quantofrenia", conforme Sorokin, ou a "aritmomania", como diz Georgescu-Roegens, coroou o homo faber tal homo mathematicus. O universo-máquina, que ainda tinha alma, passou a ser ‘um vasto sistema matemático de matéria em movimento’, um ‘universo material (onde) tudo funciona mecanicamente, segundo as leis matemáticas.’
Dessa matematização do saber científico, na qual não se pode deixar de ver uma plena adesão ao clima cultural do século de Descartes, deve participar – segundo Hobbes – também a ciência política, ou, como ele a chama, pela falta de distinção entre a ciência e a filosofia, a filosofia civil. BOBBIO, N., Thomas Hobbes: 76
 O essencial para Hobbes não era a desmistificacão do poder, mas antes a representação da ordem política como um gigantesco autômata, que autorizaria a intervenção de técnicos qualificados. Governantes sensatos, inspirados pela razão científica, poderiam modificar o curso da vida social num sentido favorável a maioria dos interessados. BASTOS, Wilson de Lima: 173.
Tradicionalmente invocadas pelo egoísmo megalomaníaco, as Ciências Políticas ainda são vítimas da obsoleta faina cientifica
A teoria macroeconômica não tem procurado superar seus outros defeitos mais sérios. Inspirada na errada crença de que deveria imitar os métodos das ciências naturais, especialmente os da física, acabou abstraindo-se das variáveis essenciais mas não quantificáveis, tratando uma série de eventos históricos como se fosse repetitiva, determinística e reversível. SIMPSON, David, O Fim da Macroeconomia?,: 6
Na verdade, quase todas as pessoas, não importando seus credos políticos, vêem o futuro como uma simples linha, reta, um prolongamento do presente. Acho que a eles está reservada uma grande surpresa. Chegamos ao fim de uma era - e nesse ponto todas as apostas são suspensas. TOFFLER, A., Previsões e Premissa: 96
"A viciosidade peculiar do racionalismo é que ele destrói o próprio conhecimento que possivelmente viria salvá-lo de si próprio."(FRANCO, P., cit. GIDDENS, A.: 39).
Em nosso século, o estudo da constituição atômica da matéria revelou que a abrangência das idéias da física clássica apresentava uma limitação insuspeitada e lançou nova luz sobre as demandas de explicação científica incorporadas na filosofia tradicional. Portanto, a revisão dos fundamentos para aplicação inambígua de nossos conceitos elementares, necessária à compreensão dos fenômenos atômicos, tem um alcance que ultrapassa em muito o campo particular ciência física. BOHR, Niels, Física atômica e conhecimento humano: Introdução.
"O planejamento em escala abrangente é impossibilidade epistêmica”.( GRAY, J., cit. GIDDENS, A.: 80
BERTRAND RUSSELL (Ideais Políticos: 24)  antecipou a forma pela qual os prejuízos ocasionados pela centralização do poder são minimizados, ao gáudio de todos
A difusão de poder, nas esferas política e econômica, em lugar da sua concentração nas mãos de agentes governamentais e capitães de indústria, reduziria enormemente as oportunidades para adquirir-se o hábito do comando, de onde tende a originar-se o desejo de exercer a tirania. A autonomia, para distritos e organizações, daria menos ocasiões para que os governos fossem chamados a tomar decisões nos assuntos alheios.
Agora é 'web power' em vez de 'flower power'
“Justiça ‘social’ ou ‘distributiva’ é… um conceito sem sentido dentro de uma ordem espontânea. Faz sentido apenas dentro de uma organização, isto é, por sistema por demais limitado. 
As corporações centralizadas e autoritárias têm fracassado pela mesma razão que levou ao fracasso os estados centralizados e autoritários: elas não conseguem lidar com os requisitos informacionais do mundo cada vez mais complexo que habitam. FUKUYAMA, F., 2002: 205
O mundo em que vivemos é dinâmico, está aberto, em transformação constante. Esta abertura é justamente onde podemos encontrar possibilidade, projeto, construção... Assim, as saídas não estão dadas, não estão definidas de antemão. É preciso inventá-las, é necessário criá-las. GALLO, Silvio, Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas.
Turbulências em países europeus alertam para nova crise econômica no continente É óbvio: “Há infinitos universos paralelos formando ramificações. Em cada um se atualiza uma realidade." (TOFFLER, Alvin e TOFFLER, Heidi: 20) “O fato significativo é que estamos, agora, deslocando-nos para futuras formas poderosas de processamento de conhecimento que são profundamente antiburocráticos.” (TOFFLER, A.: 199)
A teoria do caos não só fornece uma explicação para as flutuações de uma economia de mercado, mas também demonstra que o Estado não tem o conhecimento necessário para adotar as medidas anticíclicas corretas. Na medida em que é extremamente baixa a probabilidade de se alcançar um estado final desejado em um mundo caótico, é difícil enxergar como o governo poderia especificar uma política para atingir esse objetivo, a não ser por acaso. ROSSER, J.B. Jr., Chaos Theory and New Keynesian Economics, The Manchester School, Vol. 58, n. 3: 265-291, 1990; cit. PARKER  & STACEY, : 95.
Se não temos poder, sequer, para regular o próprio sono, como querer impor alguma ordem, mesmo moral, que não seja absurda?  Por outro lado, desprovida de ordem ou moralidade, deixada a comunidade ao relento natural, não seria ela um prato predileto a qualquer predador, ou vítima de alguma peste, tal qual incidentes na Média?
Todo sistema natural, quando deixado livre, evolui para um estado de máxima desordem, correspondente a uma entropia máxima'. Entropia - a flecha do tempo
Pois não é bem assim. Entropia: do grego, significa evolução. Energia + tropos = transformação, ou capacidade de modificação. Arthur Eddington comparou a entropia com “a beleza e com a melodia porque estas três coisas englobam ordenação e organização.” (Eddington, Arthur Stanley, (1882-1944) cit. Coveney, Peter e Highfield, Roger: 133) "Ora, nossas observações do mundo exterior, que nos conduzem à física, nos revelam um universo constituído de uma multiplicidade de sistemas ‘abertos’, todos em incessante interação com seu ambiente.” (Ben-Dov: 149)
Se os seres humanos houvessem de inspirar-se nos exemplos da Natureza, fazendo deles normas de conduta, a anarquia, a independência, o individualismo e o princípio do menor esforço passariam a ser os ideais humanos. GARBEDIAN, H. Gordon, A vida de Einstein: o criador do Universo:161
O fato do ordenamento natural não admitir entabulamento matemático não significa que não haja ordem natural.
O estudo de como surge a ordem, não em conseqüência de um decreto de cima para baixo da autoridade hierárquica, seja política ou religiosa, mas como resultado de auto-organização por parte de indivíduos descentralizados é um dos acontecimentos mais interessantes e importantes de nossa época. KELSEN, H., A democracia: 140.
O ser humano, porém, cisma na trilha partida da longínqua caverna, tão anti-natural quanto fantástica, porque baseada justamente no sobrenatural!  "Na Grécia, berço das artes e dos erros e onde se levou tão longe a grandeza e a estupidez do espírito humano, raciocinavam sobre a alma como nós." (VOLTAIRE, Cartas Filosóficas, «13.ª carta»,.) Muitas coincidências asseguravam as certezas, assim conduzindo o comboio humano ao maior engano da História da Civilização.
Hoje em dia todos nós estamos profundamente cônscios de que o entusiasmo que nossos precursores tinham em relação aos feitos maravilhosos da mecânica newtoniana levou-os a fazer generalizações nesta área de previsibilidade, na qual de modo geral talvez tenhamos tendido a acreditar, antes de 1960, mas que hoje reconhecemos que era falsa. Queremos nos desculpar coletivamente por haver confundido o público instruído em geral, fazendo-os acreditar em idéias sobre o determinismo de sistemas que satisfazem as leis de movimento de Newton, as quais, a partir de 1960, foi provado serem incorretas. COVENEY, P. & HIGHFIELD, R., A flecha do Tempo: 242 
Poderíamos ou deveríamos continuar seguindo os fenomenais exemplos que podemos observar, ainda mais se iminente uma anarquia? Pois esta anarquia quer dizer, novamente e apenas, que o ser humano desprovido da matemática parece incapaz de perceber a mais natural hierarquia, que é a presença do corpo fazendo o retrair o espaço, com isso propiciando o inevitável e necessário efeito gravitacional. Não há nenhum Maestro, ou forças reguladoras das órbitas planetárias, mas tampouco há desordem, ou anarquia em nenhuma relação cosmológica. Ipso facto levaria ao colapso, algo impensável justamente porque antinatural. 
Einstein insinua que a ciência se deve ocupar, em primeiro lugar, não de noções que, na sua essência, estão marcadas por uma grande carga metafísica, como as de 'força' e 'matéria', mas antes daquilo a que agora chamamos 'intersecções’ no espaço-tempo de linhas do universo. HOLTON, G.: 127
Diante do interminável Niagara de informações, só mesmo por algum interesse escuso, ou pela mais completa ausência vocacional é que  as Ciências Políticas permanecerão  pautadas por descrições ou interpretações fantasiadas de acordo com o gosto do passista,  estatísticas e tentativas de descobrimentos de mapas ao tesouro, caminhos ao pasto-verde, tudo centrado pelo que os olhos de seus porta-estandartes alcançam mirar.  Agora não mais. I hope.
O problema essencial é que os nossos modelos tanto os de risco quanto os econométricos, por mais complexos que se tenham tornado, ainda assim são simples demais para capturar a ampla gama de variáveis que definem a realidade econômica mundial. (Alain Greenspan)
O que governa a dinâmica da natureza, inclusive em seu aspecto mais material, na física, não é uma ordem rígida, predeterminada. Nem tampouco uma dialética entre contrários em luta, que leve a síntese, até que se produza uma nova antítese, como na visão dialética marxista rechaçada também pela genética, segundo diz MONOD. É precisamente uma interação - que já existe nos níveis materiais mais elementares entre o aspecto onda e o aspecto corpúsculo - o que impulsiona a dinâmica da natureza. Assim o mostram as relações de mecânica ondulatória, que explicou LOUIS DE BROGLIE, síntese genial que tornou possível, como diz RUEFF, uma filosofia quântica do universo, aplicável não somente às ciências físicas, senão também a todas as ciências humanas. GOYTISOLO, J. V.,  Interações
Isso é incalculável, e por isso inalcançável a qualquer terráqueo ou E.T.  Por paradoxo, todavia e felizmente, o fenômeno se faz muito mais simples do que as mirabolâncias que elevaram a trágica babel. Para usufruí-lo  não se requer prática nem habilidade -  basta copiar o método, a pueril lição. Durante o mais amplo recreio, em vez de perscrutrar vozes populi ou dei, poderemos surfar na crista da magestosa terceira onda, ou dançar ao som da fabulosa sinfônica:
Tal qual o arco faz vibrar as cordas do violino produzindo sons típicos, as excitações térmicas promovem transições eletrônicas e assim os átomos emitem espectros específicos de radiação (não sonoras mas) de ondas eletromagnéticas, em uma grande gama de freqüências tais como rádio, microondas, infravermelho, luz visível, raios X, etc. COHEN, Aba, Listening to the atoms

sábado, 18 de junho de 2011

O calvário das Ciências Políticas

Todo mundo aqui é maduro, é cientista político. 
O alfa e o ômega da teoria política é a questão do poder: como conquistá-lo, como conservá-lo e perdê-lo, como exercê-lo, como defendê-lo e como dele se defender. BOBBIO, Norberto, Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos clássicos: 252
Para estes conceitos precisa teoria? O primeiro seria risível, se não fosse trágico. Não merece sequer menção. E o segundo, até então mais costumeiro, basta um canhão. Na verdade o autor de A Era dos Direitos, Torino , 1989  usou fina ironia para descrever a realidade composta alhures - as Ciências Políticas alavancadas à serviço dos seus mecenas, ao usufruto do poder conforme a bíblia de Maquiavel, e justificada pela propositura darwinista: 
As lições mais completas, tanto a virtu maquiavelesca - o engenho e o talento políticos e a presteza na ação, postos a serviços da conquista, manutenção e acréscimo do Estado - quanto do amoralismo e do imoralismo que movem com forca animal e instintiva e inteligente e preconcebida os atos extremos de rapacidade, traição, violência criminosa, luxúria, crueldade inumana, egoísmo e ódio escarniçado. D'ELIA,  A., introdução  em  MAQUIAVEL, N., O Príncipe: 3
Quando os príncipes eram eles próprios suficientemente inteligentes, também eram maquiavélicos. Viviam planejando e tramando destruir uns aos outros, roubar os companheiros mais fracos, destruir os rivais, para que, por um breve intervalo, lhes fosse dado o supremo prazer de pisar soberba e orgulhosamente sobre todos. Não tinham nenhuma visão de qualquer plano dos destinos humanos superior ao do pequenino jogo entre eles próprios. WELLS, H. G., História Universal, 2. tomo - Da ascenção e queda do império romano até o renascimento da civilização ocidental: 507
"A ideia é que qualquer sistema evolutivo obedece às leis do darwinismo. E a economia é certamente um sistema evolutivo." (VEIGA, Prof. Econ. José Eli, Fac. Econ. & Admin. da USP. - Estadão, 8/2/ 2009)
Tratamos de política, da polis, de pessoas, não de macacos. Elas não estão ao alcance de nenhum poder, exceto o  alcançado pela   força bruta, óbvio.
A tendência geral de todos os homens é um perpétuo e irriquieto desejo de poder e mais poder que cessa apenas com a morte... Numa situação de conflito as pessoas sábias e sutis estão em desvantagem em relação aos que usam a força, já que estes agem e atacam imediatamente, sem perder tempo com planos. HOBBES, T., The Leviathan, ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil, Um irriquieto desejo de poder em todos os homens 
.Esse "desejo de poder e mais poder" faz parte de uma cultura, apenas. Mas se as armas tivessem assim este poder absoluto,  o Império Romano jamais desabaria, a Invencível Armada não amargaria a fragorosa derrota, logo na estréia, a escravidão racial não teria findado,  e muito menos o simplório rapazote deteria a fileira de tanques na Praça da Paz Celestial.
“Weber podia concordar com os transcedentalistas que a política é pura 'astúcia', o Estado, um 'embuste', e a democracia, o 'teatro dos demagogos'." (Cit. DIGGINS: 115)
Qualquer teoria  requer coerência. Ciência é arte, cultura, intuição, conhecimento, e inteligência para computar o maior número de vetores naturais, ficcionais e artificiais incidentes. À ciência, ainda mais política, mister a maior abrangência possível. Ela não se permite especialista - Ipso facto deixaria de ser verdadeira. Os articuladores das ciências políticas primam por focar o objeto a ser desvendado, ou equacionado,  por conta da rachadura imposta no berço, todavia. Ao desconsiderarem fatores até responsáveis pela formação de seus alvos, obtém um conhecimento obtuso, fracionado, a rigor imprestável. Embora de eficiência inegável, seus zenites são limitados às suas parcas existências. em estratégias de sobrevivência,. Isso era o que preocupava  os pioneiros ventiladores, seus executores, e o povo em geral, por óbvio reflexo do vértice. 
"Os reis não tinham precisão da força material; não tinham exército nem finanças, mas a sua autoridade, sustentada por crenças possantes e cultivadas no comando da alma, mantinha-se santa e inviolável." (COULANGES, F., A Cidade Antiga: 219) Ah, doce época! Nem Maquiavel, nem Bacon ou Descartes, muito menos Rousseau ou Marx se esperava. Existia apenas o pai-de-todos.
Tudo depende, portanto, de se fazer com que os súditos acreditem que o governo é bom e justo, e de os cidadãos sentirem-se felizes em obedecer às suas ordens - daí todo conjunto de medidas draconianas, aniquiladoras de toda liberdade de pensamento, sugeridas por Platão tanto na República quanto nas Leis, a fim de produzir e conservar nos súditos essa crença. KELSEN, H.,: 501
O Império Romano veio a requerer  e demonstrar maior amplitude. Não apenas a promulgação de leis e o disciplinar das colunas era suficiente para manter a polis coesa, mas também estratégias de desenvolvimento, ainda mais diante da completa ignorância dos povos.  Assim é que ao que conhecemos hoje como Direito, agregaram-se a Economia, a Engenharia, a Agronomia, a Geografia, a História, e outras satélites, todas formando um delta pelo qual os governantes orientavam suas ações, porém ainda todas pautadas, ou justificadas na formidável metafísica remetente ao Divino. Do dito berço da democracia, até  vésperas de sua moderna adoção, a Física simplesmente foi ignorada.  Não estava ao alcance humano, nem era bom saber, porque celestial. Adão quis conhecer os segredos, deve ter comido todos os frutos da árvore, mas se descobriu algum não contou a ninguém e pior - tomou o exílio pela insolência. Detentores de todo o acervo bibliográfico e cultural, o clero deitou e rolou por milênio inteiro, sobre tudo e sobre todos, incutindo seus falsos preceitos através de prepostos por ele designados, aonde a ambição do renovado império romano pelo alheio podia mirar. Este sim, o genuíno afã de poder e mais poder, obsessão barrada especialmente através da divisão inglesa dos poderes  “A organização e o estabelecimento da democracia entre os cristãos é o grande problema de nosso tempo. Os americanos não têm solução para esse problema, mas fornecem úteis informações aos que querem resolvê-lo. (TOCQUEVILLE, A., A Democracia na América, Leis e Costumes, XX)
A  solução para trocar o diminuto brete por outro maior já era conhecida há século. Sua  divulgação acabou propiciando o maior câmbio sócio-político da História Universal:
Quando os seres humanos começaram a ser considerados como capazes de relações diretas com Deus, sem o intermédio de qualquer organização, como a da Igreja, e quando o drama do pecado, redenção e salvação veio a ser interpretado como alguma coisa executada dentro dos recônditos da alma dos indivíduos e não mais nas espécies que um indivíduo é uma parte subordinada, um golpe fatal era desferido em tôdas as doutrinas que pregavam a subordinação da personalidade – golpe que teve reflexo na promoção da democracia. DEWEY: 69
Conservou-se, contudo, a gregória  metafísica  "O Deus pessoal era harmônico ao Deus racional, como as duas faces de uma mesma moeda". (VOLTAIRE, cit. GOMES,  M., , A vida e o pensamento de Isaac Nweton: 67)   O racionalismo mecanicista  ( do grego mekhane = máquina) deveria ser aplicado diretamente  - a idéia da força  motriz sobrepondo-se à paradoxal, nunca complementar harmonia. A seca matemática da maioria impor-se-ia perante a malvada minoria. "A democracia é um abuso da estatística" (José Luís Borges). Questão lógica,  científica, matemática e portanto, sempre justa.
Na era das chaminés, nenhum empregado isolado tinha um poder significativo em qualquer disputa com a firma. Só uma coletividade de trabalhadores, unidos e ameaçando parar o uso de seus músculos, podia obrigar uma administração recalcitrante a melhorar o salário ou as condições do empregado. TOFFLER, Alvin, Powershift: As Mudanças do Poder, Um perfil da sociedade do século XXI pela análise das transformações na natureza do poder : 238.
A vox populi tomou sonoridade de vox dei, e assim o brete  maior também foi se tornando pequeno, espremendo novamente todas as gentes. a rigor, até o presente.
Um sistema constitui-se de partes interdependentes entre si, que interagem e transformam-se mutuamente, desse modo o sistema não será definível pela soma de suas partes, mas por uma propriedade que emerge deste seu funcionamento. MORIN, Edgar, Introdução ao Pensamento Complexo, 1991:20
Dessarte retornamos ao impasse. Queimada as duas platônicas proposições organizacionais - a idéia do Pai Celestial, Arquiteto e Guardião de sua magestosa obra, e, a partir do Renascimento, a idéia do homem traçar seu destino, porque criado à Sua imagem e semelhança, e por óbvio  também dotado com semelhante inteligência, força e certeza, depois de mais de dois mil anos de tragédias,, ainda há quem sustente o inviável.
Podemos resistir ao impulso da diversidade em uma última tentativa inútil para salvar nossas instituições políticas da Segunda Onda ou encampar a diversidade e mudar essas instituições. A primeira estratégia só pode ser implementada por meios totalitários e resultará em estagnação econômica e cultural; a segunda conduzirá à evolução social e a uma democracia do século XXI com base minoritária. TOFFLER & TOFFLER:  109
As Ciências Políticas são vítimas de suas próprias artimanhas.
A viciosidade peculiar do racionalismo é que ele destrói o próprio conhecimento que possivelmente viria salvá-lo de si próprio, ou seja, o conhecimento concreto ou tradicional. FRANCO, P., cit. GIDDENS, A.: 39.
As políticas mundiais de crescimento induzido pelo Estado tiveram exatamente o efeito oposto do que pretendiam: tinham aumentado, e não reduzido, o custo da produção de bens e serviços e tinham abaixado, e não aumentado, a capacidade das economias de conseguirem uma produção vendável. SKIDELSKI, Robert: 14.
Ora se encontram também embretadas, justamente por sua desídia científica, em prol da obssessiva praxeologia.
A política é a arte de unificar e organizar as ações humanas e dirigi-las para um fim comum. Assim, o paralelo platônico entre a alma individual e a alma do Estado não é, de maneira alguma, uma mera figura de retórica ou simples analogia. É a expressão da tendência fundamental de Platão: a tendência para unificar o disperso, para trazer o caos de nossas mentes, dos nossos desejos e paixões, e da nossa vida política e social para um cosmos, para a ordem e harmonia... A teoria platônica do Estado legal tornou-se um patrimônio eterno da cultura humana. CASSIRER, E.: 102
Com todo o respeito ao excepcional cientista,  a teoria platônica  até pode ser considerado patrimônio da cultura humana. Aliás, tem feito muito por merecer um Prêmio Ignóbil. 
Qualquer sentido pragmático imposto à coletividade é a priori ideológico. Ele deturpa a ciência, solapa o cidadão, e afronta o Estado de Direito:
Depois do livro do americano Edward O. Wilson, Sociobiology e dos ensaios do inglês Richard Dawkins, os geneticistas das populações, assim como os especialistas em insetos sociais, procuraram compreender a organização social a partir dos interesses individuais. Não existe o formigueiro; só existem as formigas. Não existe a espécie; só existe o indivíduo. Falar de um sacrifício pelo grupo é, portanto, uma impossibilidade - pelo menos se estudarmos a evolução darwiniana dos caracteres sociais. Era preciso repensar a sociedade animal como a resultante do cálculo dos indivíduos e não mais como um vasto sistema dentro do qual os animais nascem e morrem. Esta revolução entre os animais assemelha-se às revoluções que as ciências políticas conheceram duzentos anos antes. LATOUR, BRUNO, Das Sociedades Animais às Sociedades Humanas; cit. WITKOWSKI: 207
Mas os governos, e aqueles que os assessoram nestas questões, sofrem da ilusão de controle. Não é possível, no estado corrente do conhecimento científico, fazer previsões econômicas de curto prazo com razoável grau de precisão. ORMEROD, P. 2000: 124

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Governo NeoDivino

  
Prestação de contas depende da 'conveniência do Poder Executivo'.
 "L'État c'est moi"
Corrupto garante: 
 NAS AÇÕES,
contra os quais não há tribunal a que recorrer, os fins é que contam. Faça, pois, o Príncipe tudo para alcançar e defender o poder; os meios de que se valer serão sempre julgados honrosos e louvados por todos, porque o vulgo atenta sempre para aquilo que parece ser e para os resultados. MAQUIAVEL,  N., O Príncipe, cap. XVIII, Quomodo Fides a Principus Sit Servanda (De que modo devem os príncipes manter a palavra dada: 113
O secretário aconselhava o entretenimento ao povo com festas e espetáculos. Tudo se punha em movimento sob o bastão do Mestre-de-cerimônias.  O chefe  regulava quem era quem naquela vasta corte. Acolhia-se mais de quatro mil fidalgos e seus servidores. Eram príncipes, duques, condes, marqueses, barões, cardeais, bispos, seguidos por séquitos de serventes e lacaios. Contando com os mestres de equitação e cavalariços, chegava a um total de dez mil abelhas que gravitavam em torno do mel. O palácio era o centro de tudo, no reino. Dali partiam as ordens para as fronteiras e para a administração das províncias.
O Príncipe lesará somente aqueles dos quais tomará as terras e as casas para dá-las aos novos habitantes; e aqueles, os lesados, que representam uma ínfima parte de seu Estado, achando-se dispersos e desvalidos, jamais contra ele poderão conspirar.  MAQUIAVEL
Ele se tornava o senhor definitivo do país. Distanciava-se do povo, colocando-se acima dos mortais como se dotado de um maquinismo próprio, um aparelho que funcionava de acordo com uma engrenagem autônoma cuja força advinha da sua ligação com o poder sobrenatural. 
Despotismo de coalizão A Vox Populi  se faz de Vox Dei.  "Através da vontade geral, o povo-rei coincide, miticamente, de agora em diante, com o poder; essa crença é a matriz do totalitarismo." (COCHIN, Auguste, cit. FURET: 1989: 191)   O porta-vox impõe seu capricho, desmando, ou  mesmo qualquer traição lesa-pátria. Ouça o comentário 
Se Stálin roubou um banco, não o fez para encher de dinheiro seus próprios bolsos, mas para ajudar seu Partido e movimento. O senhor não pode considerar isso um roubo de banco. HITLER, Documentos da polícia alemã; cit. TOLAND, J.,: 657
Quanto mais os poderes coercitivos do Estado são expandidos, maior o poder e a riqueza que se acumulam para a casta dominante que opera o aparato estatal. Conseqüentemente, a casta dominante, ansiosa por maximizar seu poder e sua riqueza, irá expandir o poder do Estado-e irá encontrar apenas uma oposição pífia, dada a legitimidade que ele e os seus aliados intelectuais estão ganhando, e dada a falta de qualquer canal institucional de livre-mercado de resistência ao monopólio governamental de coerção e de tomada de decisão final. ROTHBARD, Murray Rothbard A ética da liberdade, cap. 23: As contradições inerentes do Estado.
"Quarenta e cinco por cento dos psicopatas são líderes nos mundos dos negócios e da política"  Também neste lamentável estado de 'direito',  l'Estat cést moi.  O brilho do ouro fascina gregos e troianos, luises, napoleões, pequeninos duces,  ainda mais se nascidos em chãos-de-fábricas, tanto quanto a luz inebria maripôsa. O inseto supõe que quanto mais voltas efetivar, mais longe está de cair. O brilho, contudo, é fatal. Ao comprovar a rota do sucesso no galgo ao pódium, e usufruir de um deleite por demais prazeroso, esquece o incauto que o diretor da peça programou-a sem variação, reservando um final melancólico, não poucas vezes trágico, ao seu astro principal, justamente ao gáudio da platéia, esta que lhe garante uma perene bilheteria. o mais genuíno Cesar Borgia, Luís XVI, Cromwell, Charles  II, Napoleão, Bismarck, Lenin, Mussolini, Pètain, Hitler, Getúlio Vargas, e incontáveis  experimentaram a carreira, e bem testemunharam, justamente com suas precoces, porém tardias  ausências, o quase invariável epílogo que oferece o sádico script florentino.  Em nosso tempo na velocidade estonteante da terceira, onda,  o corpo em órbita se  transfigura, muda o nascimento e a morte,   o sofrimento e a cura, as vocações, o espaço, o meio ambiente e o estar no mundo.
As corporações centralizadas e autoritárias têm fracassado pela mesma razão que levou ao fracasso os estados centralizados e autoritários: elas não conseguem lidar com os requisitos informacionais do mundo cada vez mais complexo que habitam.   FUKUYAMA, F., 2002: 205
Que mais fazer senão sentar na praça para dar milho aos pombos?